O Secretário-geral da Federação Moçambicana de Basquetebol (FMB), Ilídio Silva, disse, em entrevista ao programa Noite Informativa da Stv, sentir muita pena pelo facto do Secretário de Estado, Carlos Gilberto Mendes, ter-se referido de forma “leviana” sobre a instituição que tutela a modalidade da bola ao cesto no país.
Silva rebatia, desta forma, os argumentos apresentados por Gilberto Mendes em relação a gestão dos fundos da TotalEnergies de patrocinio a selecção nacional e a projectos de formação, assim como o “barulho” havido em Kigali, onde Moçambique disputou o “Afrobasket” 2023. “Dá-me pena ver o Governo a ser representado por um indivíduo como este a representar o Estado e a comportar-se desta maneira, sobretudo pelo facto de nós como povo contribuirmos para o pagamento do seu salário”, disparou Ilídio Silva.
Adiante, Ilídio Silva lembrou que “não é favor o Governo apoiar ou financiar a actividade desportiva, visto que a Lei do Desporto indica que é uma das obrigações do Estado/Governo apoiar ou financiar as actividades das Federações nacionais.”
O Secretário-geral da Federação Moçambicana de Basquetebol deixou claro, no “Noite Informativa”, que foi esta agremiação quem desenhou o projecto de patrocínio da TotalEnergies que, curiosamente, o seu contrato viria a ser assumido pelo Fundo de Promoção Desportiva. “Em 2020, quando iniciámos a preparação para participação no Torneio Pré-olímpico da Sérvia, as atletas disseram que havia problemas de dívidas anteriores ao nosso mandato. Foi nessa altura que fomos contactados pela TotalEnergies, através da senhora Samira Mulungo que manifestou o interesse da empresa em apoiar a selecção feminina e o encontro teve lugar a 4 de Março desse ano e os contactos interromperam-se devido a COVID-19”, esclareceu Ilídio Silva.
Um ano depois, ou seja, em 2021, e de acordo com Silva, foram retomados os contactos com a TotalEnergies para viabilização do projecto. “Nós apresentamos um projecto macro cujo objectivo principal era apurar para a selecção nacional para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, mas que era uma iniciativa estruturante que previa a melhoria do quadro competitivo nacional, estágios pré-competitivos, realização de formação e capacitação de treinadores e árbitros numa planificação apresentada no dia 21 de Maio de 2021, não sabemos o que imperou para levar avante este projecto que tinha o valor de 73 milhões de Meticais”, argumentou.
Numa outra abordagem, o Secretário-geral da Federação Moçambicana de Basquetebol disse que, em Setembro de 2021, a SED contactou os dirigentes da agremiação que tutela a modalidade da bola ao cesto no país para um encontro, onde foi anunciado que havia luz verde para o projecto avançar.
“Fomos nós quem contactou a TotalEnergies para apoiar a selecção feminina de basquetebol e como havia muitos interesses e muita gente a submeter propostas para a modalidade, fomos chamados em Setembro de 2021 a SED onde a empresa através do senhor Maxime Rabilloud anunciou que iria apoiar o basquetebol feminino e daí criaram-se comissões de trabalho para viabilizar este apoio, mas até aqui não conhecemos o conteúdo do memorando final que foi assinado com o Fundo de Promoção Desportiva. Não digo que a federação não tem responsabilidades na movimentação da selecção. Mas o projecto que apresentamos a TotalEnergies é estruturante e iria ajudar-nos a organizar estruturalmente a federação e, por via disso, atrair a outros parceiros”, assegurou Ilídio da Silva.
Gilberto Mendes disse, no programa “Noite Informativa”, que a Federação Moçambicana de Basquetebol havia submetido tardiamente o plano de preparação para o “Afrobasket” 2023, argumento rebatido por Ilídio Silva. “A nota com a nossa planificação sobre a ida ao Afrobasket 2023 foi enviada à SED a 21 de Março deste ano, com o plano e as necessidades e só recebemos as respostas em Julho, cerca de quatro meses depois. Enquanto não conhecemos o que a TotalEnergies iria cobrir e qual o tipo de patrocínio, ficamos amarrados e sem possibilidade de contactar outros apoios por uma questão ética. Ainda assim, procuramos outros apoios que viabilizaram o início dos treinos e equipamentos para a preparação da equipa nacional”, notou o Secretário-geral da Federação Moçambicana de Basquetebol. E disse mais Ilídio Silva: “Se não sabemos quais as contrapartidas que vão ser oferecidas ao parceiro que vai patrocinar em 1 milhão e 200 mil dólares, como é que vou a praça a busca de outros parceiros sem saber que contrapartidas poderei oferecer?”, indagou a fonte.
O Presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol, Roque Sebastião, não seguiu para Kigali, situação que levanta alguns questionamentos até porque outros dirigentes de várias agremiações que participaram da prova marcaram presença no evento. Aliás, há cenários em que, à margem do “Afrobasket”, realizam-se congressos da FIBA-África. Ilídio da Silva não tem dúvidas que a ausência de Roque Sebastião “teve um impacto negativo, porque no dia-a-dia quem lida com as atletas é a federação e nota que o seleccionador nacional se ofereceu a trabalhar com a equipa a custo zero fruto das relações que tem com a Direcção da federação. Em eventos deste nível como o Afrobasket é importante a presença do Presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol para a realização de contactos ao mais alto nível como aconteceu na Sérvia onde conseguimos apoios e parcerias que ofereceram de treinadores do nível da Euroliga que iniciativas estas que só não foram implementadas devido a COVID-19”.
Sobre a alegada divida de USD 18 mil da FMB, relativa a participação da selecção masculina no AfroCAN-2023, Silva esclareceu da seguinte forma: “Você é preso por ter cão e também preso por não ter cão. Quando decidimos que a selecção não participaria numa prova africana o Governo veio dizer que não deveríamos ter tomado essa decisão. A selecção partiu para Angola com a promessa de que haveria conseguir os fundos e a selecção participou na fé de que conseguiríamos resolver o assunto. Tivemos garantias de que teríamos as condições de alojamento e alimentação, negociamos com a nossa congénere Angola e esta situação também acontece com outras selecções africanas, pois no basquetebol continental não temos rendimentos que vem da nossa confederação”, disse Ilídio da Silva.