O antigo ministro da Saúde, Hélder Martins, diz que há focos de tribalismo no seio do partido Frelimo e acredita que, provavelmente, se Eduardo Mondlane estivesse vivo nada disso estaria a acontecer.
“Mondlane foi dos que cedo perceberam que a moçambicanidade não se mede com a cor da pele”, esta é uma das qualidade que Hélder Martins diz admirar no fundador da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
E porque o ano 2019 é dedicado a Eduardo Mondlane, nada melhor que ouvir quem de perto conviveu com o também chamado “arquiteto da unidade nacional”. Por pouco mais de duas horas, Hélder Martins falou de tudo que sabe sobre Eduardo Mondlane, a quem o considera dos mais íntegros homens que Moçambique teve.
Mas a integridade não é a única qualidade que Martins admirava no primeiro presidente da Frelimo, assim como o olhar muito avançado sobre os caminhos que Moçambique devia tomar para triunfar na luta de libertação nacional, que durou de 1964 a 1974 e isso ultrapassava qualquer preconceito de índole racial.
“Mondlane tinha interesses directos na aceitação dos brancos moçambicanos”, aliás, “quanto mais cedo fosse aceite a colaboração dos brancos na luta de libertação nas fileiras da Frelimo, mais cedo e mais completa seria a aceitação da participação plena da sua própria mulher”.
Hélder Martins abandonou as fileiras do exército colonial para abraçar a causa da libertação de Moçambique, um facto que até lhe rendeu uma pena de morte, escapou de uma forma que nem ele compreende perfeitamente.
Martins esteve às ordens de Eduardo Mondlane até a sua morte em 1969. Ou seja, conheceu a Era Mondlane na Frente de Libertação de Moçambique, assim como a era pós-Mondlane. E por isso afirma que se Mondlane estivesse em vida, o partido Frelimo não estaria a ter “focos de tribalismo” estaria melhor.
“Se Mondlane fosse vivo manteria a sua integridade, da mesma forma que se Machel estivesse vivo, muitas coisas que se passaram nos últimos tempos não se teriam nunca passado”, rematou o antigo Ministro da Saúde.
Hélder Martins reconhece que embora sejam “comportamentos de pessoas” particulares, tal só acontece porque “há um clima que já não há esse respeito pela integridade”.
A palestra em que Hélder Martins falava foi organizada pelo Ministério da Cultura e Turismo no âmbito do ano Eduardo Mondlane, decretado pelo Governo para celebrar os 50 anos de morte do Arquiteto da Unidade Nacional.