Numa altura em que o país é largamente conhecido pelo mundo fora como o que contrai irresponsavelmente dívidas que depois não consegue pagar e muito menos usar o dinheiro emprestado para os objectivos que ditaram a sua contratação (caso da EMATUM, MAM e ProÍndicus) ou mal aplicado (caso do Aeroporto de Nacala), acrescenta-se a isto a má gestão de quase todas as empresas públicas que, apesar de poderem ser lucrativas, são deficitárias, eis que se nos apresenta uma excepção.
A Hidroeléctrica de Cahora Bassa sobressai como esse exemplo que vale a pena mostrá-lo ao mundo e dizer que afinal podemos fazer as coisas de forma diferente, a gestão nas empresas públicas pode ser responsável, eficiente e lucrativa. E esse mérito vai para o seu primeiro PCA moçambicano Dr. Paulo Muxanga e o seu Conselho de Administração que congregava quadros excepcionais como Gildo Sibumbe, Max Tonela entre outros.
O Estado moçambicano foi buscar quase 800 milhões de dólares para pagar ao Estado Português pelos 92,5% das acções da empresa e a administração da HCB pagou todo esse valor com 18 meses de adiantamento. E ainda fez investimentos consideráveis para garantir fiabilidade nos processos produtivos que incluiu a reabilitação da barragem, da central eléctrica, da subestação de Songo, das linhas de transporte de energia e do capital humano. De 2007 a esta parte, a empresa que era gerida quase na sua totalidade por portugueses, agora é gerida na tua totalidade por moçambicanos, a maior parte dos quais formados dentro do país e na Universidade Eduardo Mondlane. Tudo isso feito em 10 anos.
Acções de responsabilidade social são tantas, mas há que destacar a segunda faixa da Av. Joaquim Chissano, o Hospital Distrital de Zumbo que permitiu que nossos compatriotas deixassem de ir a Zâmbia receber cuidados médicos, o Hospital de Songo, a reconstrução da Vila de Songo e Chitima e a distribuição de energia eléctrica para a população de Songo que durante mais de 30 anos, mesmo vivendo ao lado da hidroeléctrica, não tinha acesso à energia eléctrica. E tudo isto tenho dúvidas que empresas como Vale, ENI e Anadarko venham a fazer um dia, tal como ainda não fizeram a Mozal e a Sasol. Apenas para mostrar a diferença que faz ao nível social um grande projecto orgulhosamente moçambicano.
Gestão responsável e rigorosa como a que tem sido feita na HCB teriam sorte diferente, empresas públicas como LAM, Mcel, TDM, CFM, EDM e para já EMATUM, MAM, ProÍndicus, isto só para citar algumas. Por isso, por favor não deixem que o bom exemplo daquilo que deve ser a liderança e gestão das empresas públicas nacionais se perca na HCB. Aliás, é o exemplo que mostra que afinal nós moçambicanos, como uma nação, não somos maus gestores, sabemos pagar as dívidas e podemos pôr em pé um grande e exigente projecto. E mais, a HCB mostrou que nenhum grande projecto precisa de isenção de impostos, porque ela paga impostos como qualquer outra empresa de direito privado a operar em Moçambique. Por estas e outras razões, defendo que a HCB é património de todos os moçambicanos e por isso não devia ser alienada.
Parafraseando Rui de Noronha digo… “Moçambique SURGE AT AMBULA”.