A promoção do “Ecossistema para o desenvolvimento do agro-negócio” é um dos temas da actualidade, sobretudo, nos países em desenvolvimento. Para analisar os caminhos e as experiências de sucesso neste sentido, Bogolo Kenewendo, ex-ministra do Investimentos e Comércio do Botswana, concedeu uma entrevista à plataforma da MOZAGROW. Acompanhe o pensamento na íntegra.
Como é que nós criamos um ambiente de negócios favorável ao desenvolvimento do Agro-negócio em África?
Primeiro realçar que antes de falarmos de sectores, é importante criar um ambiente de negócios favorável; uma vez criadas as condições essenciais para que todos os negócios decorram sem sobressaltos, isso só já tem em conta os diferentes sectores de actividades, mesmo que não tenham sido especificamente identificados como bolsas de crescimento para a sua economia; em relação ao agro-negócio, olhamos para os aspectos conducentes à posse de terra; aspectos ligados a facilidade de aquisição, transferência ou leasing da mesma; é preciso assegurar que terra produtiva não permaneça ociosa, e que não esteja nas mãos de indivíduos que não estejam a explorá-la para fins agrícolas, eis a razão por que na maioria das políticas de posse de terra, encontramos parcelas de terra agrícola a serem concedidas ao redor das cidades isto para encurtar a distâncias com os mercados consumidores, e isto traz alguma eficiência; o segundo aspecto tem que ver com as políticas do Estado devido a combinação entre a posse de terra, o agro-negócio e as políticas comerciais: as políticas comerciais giram à volta do quão fácil é aceder ou penetrar um mercado, e quanto ao mercado, falamos tanto do doméstico como do externo, para o caso de Moçambique que é um país bem posicionado, o mesmo em relação aos seus produtos agrícolas; dai a importância de ter políticas de comércio favoráveis para que as pessoas possam aumentar as suas exportações e possam também importar; e claro; de tudo que eu mencionei antes, as infra-estruturas são muito importantes; boas infra-estruturas que sustentam um agro-negócio produtivo e aqui falamos das estradas, e há um outro elemento cuja importância nos campos agrícolas tem levantado controvérsia, as TIC’s. Mas a infra-estrutura das TIC’s é muito importante na medida em que permite atrair pessoas e jovens formados e em sintonia com o mundo digital, mas o mais importante ainda é que elas permitem saber, em devido tempo ou em tempo real, o que está a acontecer no mundo e no mercado global; e dai a importância das infra-estruturas das TICs; um outro elemento facilitador importante é a governação no geral; esta determina a facilidade de iniciar um negócio no país, a facilidade de confrontar algumas destas políticas de negócio, e também a questão da corrupção…acho que vou parar por aqui pois podia continuar a falar e a falar…. de todos os outros elementos facilitadores como os subsídios e incentivos fiscais, mas paro por aqui.
Olhando a sua experiência como Ministra do Investimento e Comércio, quais as principais ameaças ao ambiente de negócios em África e quais os principais desafios?
Quer os desafios e não quer saber das oportunidades? Prefiro começar pelas oportunidades e depois veremos os desafios para que não tenhamos as nossas atenções viradas apenas para os problemas; temos que olhar para eles sim mas abrindo caminho para o futuro.
Vamos fazer uma análise FOFA. Ameaças, pontos fortes, oportunidades e desafios ou fraquezas; gostava que centrasse os seus comentários nestes quatro pontos?
Ok, o nosso ponto forte é sermos um continente agrícola, o que nos permite saber o que funciona e o que não funciona. Temos experiências adquiridas do nosso conhecimento indígena, que desde já encorajo a que encontremos formas de o modernizar e não abandoná-lo pois ele incorpora experiências que provaram a sua eficiência nos momentos de seca severa e até antes de começarmos a fazer comércio com o resto do mundo. Dai que este constitui um dos pontos fortes; saber onde é que determinadas plantas crescem, quais os herbicidas ou insecticidas funcionam para determinado fim, isso tudo vai assegurar a qualidade suprema dos nossos produtos. Um outro ponto forte é a nossa conectividade regional como bloco da SADC, como países da região estamos todos conectados e podemos aproveitar essas ligações para o crescimento das nossas indústrias e quando falamos da industrialização, nos referimos em concreto à cadeia de valor; em relação às nossas fraquezas; estamos predominantemente focados ao mercado externo, mercados Europeus, mercados Americanos e isso limita a nossa capacidade de fazer negócios juntos como região, nota-se uma espécie de cegueira em relação aos mercados do Botswana, de Moçambique……eu dizia que os nossos pontos fracos consistiam no facto de conhecermos a agricultura e que somos um continente tradicional e predominantemente agrícola, e que um dos aspectos que tenho encorajados os países e aos agricultores a não perderem é o conhecimento indígena, só temos que adaptá-lo e nele acrescentar tecnologia e assegurar que nos ajude na nossa caminhada, veja que na base desse mesmo conhecimento indígena, nós não usamos produtos químicos ou insecticidas, usamos apenas produtos orgânicos que mantêm as nossas culturas e os nossos alimentos muito saudáveis, e que tornam a nossa indústria bastante lucrativa…e ninguém nos irá retirar esse conhecimento, temos é que capitalizá-lo e maximizar; o outro aspecto é a forma que nós como região estamos conectados e devíamos com base nisso desenvolver uma cadeia regional de fornecimentos entre Moçambique, Botswana, Zâmbia, Namíbia…. devido à forma como os nossos países estão interconectados, bem como a facilidade de movimento de pessoas e bens, então devíamos aproveitar essa vantagem e aplica-la em beneficio do desenvolvimento regional. Agora, como região, o nosso principal desafio é que quando temos o nosso produto na mão, olhamos para o Ocidente, para os EUA etc… como nossos principais mercados, olha isto deixa um fosso muito grande em termos de cobertura das nossas necessidades regionais temos que começar a examinar com cuidado os negócios e os mercados Africanos bem como na forma como fazemos negócios; não estou a dizer que devemos esquecer Portugal ou outros países Europeus, não…estou é a dizer que devemos olhar principalmente para o crescimento dos nossos mercados internos porque neste momento, cada país está a tornar-se cada vez mais proteccionista, mas estamos agora nas negociações da Zona de Comércio Livre e devemos maximizar esse aspecto. Uma outra ameaça à forma como fazemos negócios na agricultura é a introdução de produtos químicos importados; isso é uma negação àquilo que temos feito tradicionalmente; as mudanças climáticas também fazem parte das ameaças pois está claro que a região Austral será bastante assolada pelas mudanças climáticas e aí posso sublinhar o Botswana que terá seca severa, enquanto vocês terão chuvas intensas e isso constitui um grande desafio à agro-indústria.
Um dos aspectos mais importantes é a criação de gado e a pergunta que se faz é que tipo de políticas públicas devem ser adoptadas para o desenvolvimento desta actividade?
A primeira questão que se levanta é saber se tem gado suficiente para poder encorajar as pessoas a abraçarem esta actividade? Se a resposta for não, então a primeira questão a abordar em termos de políticas públicas seria disponibilizar gado, isso indicaria que temos um uma quantidade suficiente de gado a ser distribuído pelas pessoas para estas se iniciarem na actividade; uma das políticas que temos aqui no Botswana é um programa de subsídios. Temos vários empreendedores envolvidos na pecuária e um dos programas está orientado à prestação de assistência e alimentação do gado; um outro programa disponibiliza um número mínimo de cabeças de gado aos criadores, sobretudo os que se encontram nas zonas pobres e vulneráveis. Com base no programa, o criador recebe cabritos, recebe ovelhas e o governo virá mais tarde comprar deste criador para distribuir pelos outros criadores; o mais importante a reter aqui é que é este criador (e não governo) que depois irá vender o seu gado a outros criadores. Um outro aspecto tem que ver com os serviços veterinários, não podemos falar de pecuária sem falar da saúde dos animais, dai a importância dos serviços veterinários…concluindo, diria que há dois aspectos a ter em conta: o lado da oferta e o da procura. Do lado da procura os aspectos importantes são o desenvolvimento; e aqui falamos do repovoamento, da veterinária, acesso a terra e acesso ao mercado; depois pelo meio, nos perguntamos como é que chega ao mercado com as matérias-primas, onde que estas são processadas e como é que o produto chega ao último consumidor…estes aspectos todos são importantes e nos levam àquilo que mencionei antes: ambiente favorável.
Recentemente temos notado que em África e nos países em desenvolvimento existem muitos jovens envolvidos no agro-negócio, mas, às vezes, estes se debatem com algumas barreiras. Gostaria de saber de si que tipo de incentivos podem ser adoptados para permitir o envolvimento de jovens no agro-negócio?
Primeiro é preciso assegurar que haja infra-estruturas e tal como me referi antes, a infra-estrutura informática é muito importante; se queremos incentivar os jovens a saírem da cidade para trabalharem nas zonas rurais é preciso trazer para o campo o mesmo conforto que eles têm nas cidades, nomeadamente água, energia, TICs e outras infraestruturas importantes. E depois o segundo nível é o acesso às finanças. Para qualquer jovem empreendedor, as finanças são importantes; é preciso criar canais que permitam o acesso às finanças por parte dos jovens, que por via disso terão acesso à terra, que por sua vez tem valor diante dos bancos comerciais e outros financiadores; é também necessário envolver os jovens na forma como as políticas são desenvolvidas e isso fará com que estes sintam que as suas preocupações estão sendo captadas pelas entidades reguladoras.
Mas os bancos costumam evitar disponibilizar financiamento aos jovens principiantes por causa do risco. Qual é a sua percepção do risco que é sempre usado como desculpa quando se trata de financiamento?
Essas percepções têm a ver com o facto de não existirem muitos jovens com posse de terra que possam usá-la como colateral; a sua falta de experiência também constitui um risco, dai a importância de instituições como o Fundo de Desenvolvimento assumirem a dianteira nesse aspecto. Uma das formas pode ser através de um mecanismo em que 50% sejam em forma de financiamento e os outros 50% em forma de empréstimo, ou então que o governo assuma a garantia diante dos bancos comerciais por forma a reduzir o nível de risco associado ao crédito aos jovens, aliado a isso, vem a necessidade dos subsídios, e este assunto não é novo, vem sendo objecto de debate na OMC e sentimos que os subsídios ainda ocorrem nos países ocidentais, na Suíça ou nos EUA; dai que os países Africanos devem recorrer aos subsídios para poderem alavancar o seu agro-negócio.
Que tipo de experiência deve ser tomada em conta na concepção de um quadro regulador que crie um bom ambiente de negócio e investimento na agricultura? De acordo com a nossa Constituição, a agricultura é a base de desenvolvimento e gostaria de ouvir a sua opinião.
Não falaria de melhores políticas ou melhores experiências, diria que existem vários casos que podem ser consultados e usados em benefício de Moçambique e de outros países. Aqui iria recomendar que olhássemos para o Relatório do Fórum Mundial de Competitividade Económica como um exemplo, sei também que a metodologia de concepção do relatório do “doing business” do Banco Mundial foi contestada, mas ainda assim penso que há alguns aspectos que podem ser aproveitados. Os dois relatórios têm um capítulo sobre como tornar um país atractivo ao IDE. Podem ser consultadas outras experiências de outros países; por exemplo como é que países do Sudoeste da Ásia se tornaram o celeiro da Ásia e do resto do mundo, tornando-os fornecedores de alimentos de todos nós; agora em relação ao agro-negócio, existem algumas lições a tirar de países como a Austrália; na região Austral da África temos a RSA que é um caso de estudo, embora este tenha alguns desafios relativos à distribuição desigual da terra…cada caso deve ser minuciosamente analisado; mas o mais importante de tudo é que tenhamos um ambiente favorável não só para o negócio, mas também para o investimento. Temos de ter incentivos que atraiam o IDE ao mesmo tempo que estimulem também o investimento doméstico.
Assim como é que podemos envolver o sector familiar nesta cadeia de valor, sabendo que em muitos países Africanos (e a SADC não é excepção) a agricultura é praticada pelo sector familiar, então como é que podemos melhorar a sua capacidade para que este possa produzir mais e vender?
Deixe-me só perceber uma coisa: quando fala do sector familiar refere-se aos agricultores de subsistência? Ok…Olha estes agricultores precisam de apoio em termos de disponibilização de produtos básicos tais como uma parcela de terra, subsidiar a sua vedação, medicamentos e sementes, mas também é necessário estabelecer parâmetros de sucesso. Os parâmetros seriam por exemplo dizer-lhe que se eu vedar os teus 5 hectares de terra, espero que tu produzas x quantidade de sacos de arroz, ou tantas toneladas deste ou daquele produto dependendo dos casos. Esses parâmetros devem ser estabelecidos com vista a assegurar que todos, colectivamente, tenhamos sucesso, o que torna os subsídios comercialmente viáveis, porque de contrário, teríamos um agricultor que só a produz o suficiente para comer, sem qualquer crescimento e assim nunca saímos do ciclo vicioso da pobreza e sem crescimento do agro-negócio.
E que experiências podemos aprender do Botswana sobre essa matéria?
É o que acabei de dizer: fornecemos as sementes, vedamos às farmas, damos subsídios (de aquisição) do tractor…disponibilizamos muitos subsídios ao sector. O único aspecto que temos como desafio e sobre qual sempre nos batíamos quando eu era membro do Governo é garantir o alcance dos resultados; se alguém não alcançar as metas anuais então não terá direito aos subsídios no ano seguinte…o agricultor deve ser incentivado sim mas tem de haver uma espécie de coerção. Por um lado, ele recebe incentivos e por outro, ele deve trazer resultados.
Esta experiência pode ser levada para outros países? Ou seja, uma experiência de sucesso comprovada no Botswana pode ser implementada e trazer os mesmos resultados num outro país da região, tendo em conta as suas características específicas, localização geográfica e exposição às mudanças climáticas? Acha que disso podemos ter benefícios? Ou Moçambique precisaria de criar condições adequadas às políticas e estratégias que tiveram sucesso no Botswana?
Tal como eu disse antes, não podemos pegar uma experiência de sucesso num país e copiar tal e qual para o nosso, isso seria irreal, temos que domesticar adequadamente esta experiência, temos de fazer um estudo de referência olhando para os aspectos que podem funcionar na nossa realidade e não necessariamente os que funcionaram no outro país pois as nossas condições não são iguais; nós somos um país propenso à seca e vocês aí são frequentemente assolados pelas cheias; vocês teriam de avaliar que tipo de subsídios devem ser implementados e que resultados podem esperar, isso podem copiar sim, mas a sua implementação deve ser completamente diferente e devem assegurar que estão em conformidade com as condições específicas de Moçambique.
Muito bem, falemos agora de um outro aspecto curioso, o índice de desenvolvimento humano, na África Austral vemos Botswana como espelho em termos do desenvolvimento, principalmente no índice do desenvolvimento humano, qual é o segredo disso, o que é que os países africanos devem fazer para alcançar essa meta que é bastante apreciada em todo mundo?
Bem, não diria que Botswana é o melhor estudo de caso para o índice de desenvolvimento humano, de uma certa forma investimos tanto na edução para muita gente, ensino primário, primeiro ciclo do ensino secundário e no ensino secundário como obrigatórios e muitos com um bom aproveitamento no ensino secundário são mandados para a universidade pelo governo. Somos capazes de fazer isso porque reinvestimos nas nossas receitas de diamante, estabelecemos um bom acordo com as DBAs no princípio, em como gerimos os nossos recursos naturais e como partilhamos as receitas provenientes dos recursos naturais e isto é algo que me deixou bastante preocupada quando estava em Moçambique no ano passado, quando foi assinado o grande acordo com as empresas americanas para explorarem o gás em Moçambique e a minha questão colocada a alguns dos vossos ministros foi: Será que vocês têm um bom acordo, será que vão obter boas receitas a partir disso, e será que têm um bom plano para reinvestimento? Porque se tiverem, estarão em altura de reinvestir no desenvolvimento do capital humano, mas também estarão em altura de investir adequadamente nas infra-estruturas e deixar um pouco para equipar as futuras gerações em forma de fundo soberano, isto é bastante importante e acho que os países africanos que possuem recursos naturais devem negociar esses contractos muito bem.
Uma das coisas que leva alcance de um bom índice de desenvolvimento humano é a educação, como chave do desenvolvimento, razão pela qual questiono se caso os sistemas educacionais funcionarem bem, será que podem ajudar os países em desenvolvimento a alcançarem os níveis do índice de desenvolvimento humano?
Sim, por isso eu disse agora que a razão pela qual poderá parecer, não é perfeito, porque nós investimos as nossas receitas de diamantes na educação, portanto o ensino primário é obrigatório, caso o aluno tenha um bom desempenho passa para o primeiro ciclo do ensino secundário e para o ensino secundário e se o aproveitamento for bom, é levado pelo governo para a Universidade. Há desafios, como em qualquer outro sistema, mas a prática de investir na educação para todos cidadãos é extremamente importante.
Agora falemos da ligação dos mercados, dada a situação de que em Moçambique por exemplo, há vários principiantes jovens no agro-negócio e empreendedores que estão com vontade de se ligarem ao mercado do Botswana, acha que é possível, existe ambiente político criado em prol dessas condições, com vista a fazer crescer o mercado, o agro-negócio?
Sim, Botswana tem um bom relacionamento com Moçambique, estivemos em Moçambique no ano passado e talvez nos últimos dois anos, três a quatro vezes, essa é uma boa indicação do relacionamento existente e nós tentamos criar um ambiente favorável ao comércio para os dois países, uma área em que possa dizer que foi bastante contagiosa para nós é o acesso ao petróleo e gás via Moçambique, mas com certeza a agricultura poderá ser uma delas. O único desafio que posso destacar é que para realizar trocas comerciais com Botswana tem que fazer parte da União Aduaneira da África Austral, que é SACU, que engloba Botswana, Namíbia, Eswatini, Lesoto e África do Sul. Poderá constatar um pouco que certas tarifas não estão no lugar, mas a comunidade da SADC está a lidar com alguns desses desafios, então temos que olhar para que produtos podem ser exportados para Botswana via SACU, mas com certeza existe cá um grande mercado.
Qual é a sua principal recomendação para a promoção de um ecossistema no ambiente de agro-negócio em Moçambique, África do Sul, Botswana e em qualquer outro país?
Bem, temos que colocar bem os recursos, se de facto quisermos fazer crescer uma indústria, temos que alocar recursos, esta não é apenas uma chamada ao governo, é também uma chamada ao sector privado, temos que fazer a prestação de contas, temos que colocar dinheiro onde de facto ele é necessário porque a expansão do crescimento e a tendência do crescimento para o mundo em avanço estão sempre na agricultura, pode ser agricultura virada ao algodão ou para outros produtos alimentares, o importante é que este é um sector que quase tem a certeza das coisas; nunca irá deteriorar, irá sempre crescer juntamente com o crescimento da população mundial, precisamos de nos posicionarmos adequadamente.
Falemos de um dos actuais acontecimentos, a pandemia do Covid-19, sabemos que as economias da África Austral e de todo mundo estão sendo afectadas por esta pandemia, é necessário que se tomem posições com vista a combater essa pandemia, qual é a sua opinião, qual é o seu principal conselho, o que deve ser feito em particular nos países Africanos e em especial na SADC?
Os governos devem desempenhar o papel central e conduzir as economias principais, neste momento a situação é difícil para várias empresas, os governos não devem se distanciar da oferta de incentivos, dar subsídios, garantindo que se criem condições para o sector privado porque caso não seja feito agora, iremos ter problemas maiores mais tarde, onde as empresas terão que encerrar, as pessoas ficarão desempregadas, vão se perder todas as receitas geradas nas economias, portanto, os governos devem aceitar que devem estar no centro, eles têm que desempenhar o papel central de alavancar as economias durante o Covid-19, por isso é importante para que possamos engajar os nossos parceiros de crédito para garantir que congelem alguns dos empréstimos ou juros a serem pagos durante esses meses difíceis do COVID-19, para que possam disponibilizar esse dinheiro com a finalidade de lidar com as emergências nacionais e assegurarmos que estamos a recuperar as nossas economias. Ao recuperá-las, as reformas, a transformação e os planos de resposta são muito importantes, nenhum país irá aparecer de outro lado, vivendo num mundo de Coronavírus sem possuir um plano e esse plano deve ser elaborado agora e deve ser bastante flexível para assegurar que ao encararmos mais esses desafios, porque nunca antes tivemos experiência de Coronavírus, possamos mudarmos e adaptarmos, mas garantido que o sector privado e os meios de sobrevivência sustentáveis estejam no centro das atenções.
E o comércio é um dos sectores afectados pela pandemia do Covid-19 e algumas pessoas pensam que devido a esta pandemia muitos países poderão adoptar a protecção das suas economias, não estarão mais abertos ao comércio com outros países com quem tradicionalmente têm um relacionamento. Portanto, a minha questão é como lidar com essa protecção, que alguns pensam que provavelmente será efectuada, enquanto as economias precisam de pensar no comércio, o que Botswana produz, provavelmente não seja suficiente para alimentar o povo desse país; na África do Sul, em Moçambique e em outros países precisamos de manter esse comércio, como manter o comércio enquanto as economias estão sendo protegidas pelas políticas?
Uma abordagem proteccionista do comércio neste momento provavelmente deixaria muitas economias com lacunas económicas e isso iria piorar a situação; isso é uma questão de vontade política e provavelmente temos que negociar com os parceiros e informá-los que temos que manter o comércio o mais aberto possível. Esse é que é o debate com a EFCFTA em África, graças a Deus… para a redução de qualquer proteccionismo em que se possa pensar, esta não é a única ameaça para nós neste momento, a outra ameaça é o proteccionismo do capital e a maioria do nosso capital, conforme sabem, vem de países como os EUA, Europa e outros; temos estado a falar com eles sobre o G8 em particular na Assembleia Geral das Nações Unidas e que devem manter e assinar o mesmo instrumento que assinaram aquando da crise de 2009-2010, que consiste em manter aberto o fluxo de capital e que irão permitir com que o fluxo financeiro venha para a África porque, caso contrário, iremos regredir e teremos países que precisam de ajuda ao invés desse comércio.
Os países Africanos estão a abrir gradualmente as suas fronteiras para manter esse comércio. Acha que é uma forma correcta tendo em conta a pandemia de COVID -19? O desafio para todos agora é a protecção das pessoas e as questões sociais são alguns dos aspectos mais importantes que devemos tomar em consideração?
Sim, para ser sincera, não existe o certo ou o errado durante o COVID-19, trata-se de tentativas e quero aplaudir os países que tentam fazer coisas e depois verifica-se que não se pode fazer isso agora, é isso que deve ser feito, não podemos continuar a viver num estado constante desta natureza, temos que tentar fazer coisas diferentes e também trabalharmos as nossas políticas durante esse período de Covid-19; assim sendo, acho que o que a África do Sul está a tentar fazer é recomendável, o que a Namíbia está a tentar fazer é também recomendável, iremos aprender fazendo. Esta é a única forma de aprender, desde que mantenhamos os nossos protocolos, acho que iremos apanhar um ponto de convergência apropriado para nos darmos com o COVID -19.
Como é que o sector agrícola poderá sobreviver na pandemia da COVID-19?
Bem, conforme disse há pouco tempo, a abertura das fronteiras e garantia da facilitação do comércio é uma questão que está ao nível mais alto da vontade política, é preciso vontade política, da vontade técnica mas o que é importante neste momento e o que estamos a fazer aqui, está a acontecer na África do Sul, Namíbia e acho que está também a acontecer em Moçambique é que mais do que nunca, há necessidade de se comprar produtos locais e se apoiar a produção local, esta é uma forma de assegurar que o sector agrícola não seja afectado pela queda da cadeia global de fornecimento de produtos.
O que espera do sector agrícola a médio e longo prazo em África?
Crescimento.
Crescimento?
É isso, sim
Crescimento, mas que tipo de crescimento?
É apenas crescimento, conforme disse há bocado, as tendências mundiais apontam a agricultura como sendo a principal componente, com a introdução da tecnologia, introdução de TICs, seja qual for o caso, a agricultura sempre permanecerá importante, por isso é importante que continuemos a trabalhar em cada área orgânica e assegurarmos que seja uma área bastante produtiva e como países africanos, temos que trabalhar nessas áreas e adoptar a tecnologia quando vier. É importante porque o crescimento do sector agrícola não pode ser recusado.
Que tipo de combinação deve ser feita entre o investimento do governo e do sector privado para garantirmos o crescimento?
Acho que já respondi essa questão, falei disso, acredito que respondi essa questão há pouco tempo quando disse que não deve ser apenas o governo a impulsionar o investimento, também o sector privado tem um papel a desempenhar porque ao governo cabe facilitar o investimento e ao sector privado cabe investir e produzir; portanto, precisamos de ver esses dois intervenientes a desempenharem o papel simbiótico que é necessário.
A razão de colocar essa questão de novo é porque às vezes quando se pensa na agricultura, os investidores querem ver resultados imediatos, mas o ciclo da agricultura é muito extenso que não pode gerar resultados em curto espaço de tempo. Às vezes leva três, quatro ou cinco anos…
Acho que depende de quem olhas como investidor, geralmente as pessoas que investem na agricultura entendem o ciclo do negócio na agricultura e o ciclo da produção, assim sendo, ADFI como Departamento de Agricultura irá, neste momento, te informar que apenas colectamos pagamentos duas vezes por ano porque sabemos que as colheitas são feitas duas vezes ao ano e portanto, teremos os pagamento duas vezes por ano depois do período de colheita, é o que geralmente acontece; e dão um período mais longo às empresas para se fixarem, por isso o Departamento de Agricultura é importante no papel que desempenha, mas quando eu vivia no Gana havia muitos investidores privados que tinham como alvo todo o mercado, desde Portugal, Espanha, EUA e em outros países e porque trabalham nesse espaço, e porque ajudam na cadeia global de fornecimento e na cadeia de valores, eles sabem qual é o tempo necessário para se obter benefícios nessa indústria, alguém que espera ganhar dinheiro depois de três meses, claramente não faz parte dos investidores da agricultura.