Dom Dinis Sengulane diz que as guerras em Cabo Delgado e no resto do mundo são frutos diabólicos e condena as indústrias de produção de armamentos, considerando-as os principais protagonistas. Dom Dinis Sengulane, que falava durante uma aula inaugural na UniLicungo, em Quelimane, diz ainda que os fabricantes de armas não reflectem sobre o retrocesso das áreas afectadas pelas guerras, onde mulheres ficam viúvas e crianças órfãs.
Falando numa aula inaugural da Universidade Licungo (UniLicungo), subordinada ao lema “Experiência de aprendizagem para a paz e reconciliação duradouras no país e no mundo”, Dom Dinis Sengulane dirigiu-se a uma plateia composta por estudantes, académicos, políticos e homens de negócios na Zambézia.
Sengulane falou da paz em várias dimensões, desde a religiosa, social até à política, classificando-a como um bem maior para a humanidade, por ser condição necessária para a vida plena.
O clérigo disse, na aula, que o país e o mundo se caracterizam por um ambiente de conflitos violentos, guerras, discursos de práticas de ódio, injustiça, indiferença e sensação de desespero.
“Deus criou Moçambique em paz e para a paz. Mas o que torna possível que a guerra entre numa sociedade como a nossa?”, questionou o clérigo.
No mesmo fio de pensamento, Dom Dinis Sengulane prosseguiu dizendo que “quando não há diálogo ou este diálogo é ineficiente, pode haver condições para a violência”.
Sengulane sublinhou, perante o olhar atento dos participantes da aula inaugural, que o “Diálogo permanente, com toda a transparência, é uma forte protecção contra a violência. Onde há desníveis sociais, o diálogo permite que se conheçam e se resolvam as causas dos tais desníveis, enquanto onde não há diálogo se cria espaço para especulações. Onde está a questão de uma paz duradoura?”, voltou a questionar.
Para Dom Dinis Sengulane, “por doloroso e embaraçoso que seja, o ambiente em que vivemos caracteriza-se por conflitos violentos: guerras, discursos de ódio, injustiças, indiferença e uma sensação de desespero para quem queira ver o cenário mudado”.
Sobre a instabilidade em Moçambique, com epicentro na província de Cabo Delgado, onde os ataques terroristas se arrastam desde 2017, Dom Dinis Sengulane afirmou que a insurgência tira sono a todos os moçambicanos. Diz ainda que se trata de uma guerra desnecessária que somente agrada ao diabo.
“Moçambicanamente falando, a guerra que tem Cabo Delgado como epicentro e cujo impacto afecta outras províncias tira sono mesmo àqueles que parecem insensíveis. É uma guerra totalmente desnecessária. Só agrada ao diabo.”
Mais de 10 milhões de ucranianos foram obrigados a abandonar as suas casas desde o início da invasão total da Ucrânia pela Rússia. Destes, mais de 6,4 milhões são refugiados no estrangeiro. O número total de refugiados ucranianos aumentou 5% entre o final de 2022 (5,7 milhões) e o final de 2023, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). No passado mês de Fevereiro, completaram-se dois anos da invasão russa da Ucrânia, tema transversal que não passou ao lado de Dom Dinis Sengulane na aula inaugural proferida na UniLicungo. Sengulane abordou ainda os conflitos na Palestina e República Democrática do Congo.
“Olhando para a guerra na Ucrânia, na República Democrática do Congo, Palestina, notamos com muita consternação que são guerras totalmente desnecessárias que só agradam ao diabo. Há pessoas que trabalham, diariamente, na fábrica de armas e toda a maquinaria da guerra. Tais pessoas e organizações não param para avaliar o impacto mortífero que a sua indústria causa. Não parece trazer à mente a imagem de viúvas e viúvos, dos desamparados, das crianças, dos órfãos, idosos, para não falar da destruição das infraestruturas.”
Dom Dinis Sengulane concluiu dizendo que, para uma paz e reconciliação duradouras, o país necessita de instituições públicas fortes, credíveis e que garantam justiça, transparência e verdade.
SENGULANE CONDENA ATAQUES A PESSOAS COM PROBLEMAS DE PIGMENTAÇÃO DE PELE
Dom Dinis Sengulane repudia a onda de ataques a pessoas com problemas de pigmentação de pele no país. O bispo emérito da Diocese dos Libombos visitou, esta quarta-feira, Wilson, menor de 14 anos que viu malfeitores amputarem seu braço direito e golpes com recurso a catana também no braço esquerdo.
Em resultado dos ataques, Wilson esteve, durante meses, internado no Hospital Central de Quelimane, com os médicos a fazerem de tudo para salvar o seu braço esquerdo e curar a ferida no braço direito amputado por malfeitores no distrito de Ile, residência dos seus pais. Wilson teve alta e está em seguimento no centro de atendimento integrado às vítimas de violência.
Dom Dinis Sengulane, sua esposa e a secretária de Estado da Zambézia, Judite Leite Mussacula, visitaram o pequeno Wilson e a sua mãe. Dom Dinis e a esposa ficaram chocados com a crueldade dos malfeitores. Na ocasião, Dom Dinis Sengulane fez uma oração pelo menino e pela sua mãe, depois ofertou produtos alimentares para a família.