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Governo investe 3 mil milhões na investigação agrária nos próximos dois anos e meio

O Governo vai investir três mil milhões de Meticais para a investigação agrária nos próximos dois anos e meio. O investimento foi anunciado, hoje, pelo Presidente da República que fez saber que Niassa e Manica vão produzir trigo para o comércio.

A arena 3D, na KaTembe, voltou a vestir-se, hoje, de verde; uma vez mais, a agenda era a agricultura, mas agora virada para a pesquisa. Várias personalidades ligadas ao sector agrário juntaram-se no primeiro Simpósio Nacional de Investigação Agrária, organizado pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural.

A abertura do evento foi feita pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, que, antes, fez uma panorâmica sobre o sector para, depois, anunciar boas novas. A primeira foi sobre o financiamento à investigação.

O anúncio não poderia ter sido feito em ambiente mais adequado. Não é juízo de valor, é o que se viu. Quando o Presidente da República anunciou os três mil milhões de Meticais para a investigação, a sala toda levantou-se para aplaudir.

As palavras de Filipe Nyusi foram: “O meu Governo decidiu alocar, nos próximos dois anos e meio deste ciclo, três mil milhões de Meticais para a qualificação dos laboratórios, de produção de vacinas, campos de multiplicação de sementes pré-básicas”.

Filipe Nyusi também explicou por que estão a fazer estes investimentos. “Este investimento parte da nossa convicção de que a transformação deste sector começa com a ligação e produção por meio dos extensionistas e uma parte desse valor já está nos laboratórios, a qualquer momento voltaremos a fazer a entrega de laboratórios modernos”.

Um investimento que, na verdade, ganha mais razão de ser por acontecer num momento em que a pesquisa acaba de trazer uma solução importante para um grande problema, a produção de trigo.

Com a guerra entre os maiores produtores de cereais, a Rússia e a Ucrânia, Moçambique sentiu na pele a dor de ser dependente. Porém, o país poderá ver-se livre dessa dependência em breve, já que acaba de ser concluída uma pesquisa que indica ser possível tornar-se auto-sustentável.

“Os resultados de pesquisa de trigo indicam o potencial de produtividade de sete mil toneladas por hectare em Niassa e quatro mil em Manica”, revelou, adiantando que “os próximos passos são a alimentação da variedade e a disseminação desta tecnologia, que passará pela multiplicação massiva das sementes e treinamento dos nossos extensionistas e dos nossos produtos para a massificação da sua produção”.

FOME LONGE DE SER VENCIDA

Ainda assim, Filipe Nyusi assumiu que Moçambique tem bons sinais na luta contra a fome, porém as mangas devem permanecer arregaçadas. “O Programa Mundial de Alimentação retirou Moçambique da lista dos países com alto risco de fome no mundo, mas eu tenho dito que isso não pode distrair-nos; uma coisa é estar na lista de fome e outra é ter pessoas que não conseguem comer de forma equilibrada, por isso é que a batalha para nós continua, não está vencida nem está perto disso”.

Parte do mérito dos ganhos já obtidos no combate à fome é atribuída ao Sustenta, programa em que o Chefe de Estado acredita, embora saiba que há prós e contras. “Muitos não acreditaram e não estamos preocupados que acreditem; até gostamos que nos pressionem para que possamos provar as nossas intenções”.

O evento termina esta quinta-feira, dia em que serão apresentados dados concretos sobre o Sustenta.

AR FRESCO PARA OS SECTORES INVESTIGATIVO E PRODUTIVO

Investigadores e produtores dizem que o apoio financeiro anunciado pelo Presidente da República para o ramo da investigação vai responder a uma parte dos desafios do sector agrário e estimular a produção e produtividade.

SAMUEL CAMILO, INVESTIGADOR

“Nós olhamos para este investimento como rifada de ar fresco que vai galvanizar a investigação agrária, no geral, e no programa do trigo, podemos começar intensificar a produção no país. Os grandes desafios, neste momento, centralizam-se na materialização da escala comercial. O trigo é uma cultura que se adapta ao planalto e temos, agora, a obrigação de começar a fazer novas pesquisas que possam trazer variedades produzidas fora dos planaltos, tolerantes a secas e calor. Feitos estes esforços, acreditamos numa produção intensiva do trigo e que responda à actual demanda mundial impulsionada pela guerra na Ucrânia.”

HERMÍNIO ABADE, INVESTIGADOR

“Nós com pouco, conseguimos desenvolver muito trabalho. Esperamos que a requalificação dos laboratórios de investigação agrária, produção de vacinas e multiplicação de sementes, nos próximos anos, nos permita trabalhar de forma mais eficaz. No caso concreto do arroz, levávamos, no mínimo, cinco anos para libertar a nova variedade, mas, com este financiamento, acreditamos que poderemos garantir equipamentos que abram espaço para produzir em tempo reduzido. O investimento significa valorização do ramo, mas também traz consigo desafios. Por isso, comprometemo-nos a trabalhar arduamente para encontrar soluções para os problemas que apoquentam os actores do sector agrário.”

ARNALDO RIBEIRO, PRODUTOR

“Eu acho que a orientação política do Presidente da República constitui um grande desafio para os investigadores e o Ministério da Agricultura. O trigo, por exemplo, já é produzido em Moçambique há vários anos; produz-se em algumas regiões muito limitadas, sobretudo na província de Tete, em Angónia, e em Niassa. É uma escala muito pequena e, geralmente, é uma cultura de inverno feita numa estação seca. Se calhar, nessas zonas, possa dar alguma coisa. Agora tem de se pensar em algo maior, que é intensificar a produção do trigo e outras variedades no país. Por aquilo que sua Excelência disse, já foram encontradas algumas variedades que são adequadas para Moçambique, mas, até o sector comercial envolver-se na produção do trigo, ainda vai levar algum tempo para alcançar vários objectivos.”

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