Gigliola Zacara encontra-se em Luanda a participar na 14ª edição do Festival Internacional de Teatro do Cazenga (FESTECA), com o espectáculo a solo Ihaya.
Entretanto, nesta passagem pela capital angolana a actriz não se restringiu à representação. Igualmente, dirigiu uma oficina de teatro com 24 crianças, que se insere no plano de incentivo à leitura e escrita através de actividades lúdicas, no Centro de Animação Artística do Cazenga. O lema da oficina foi “Do livro ao palco”, de acordo com Gigliola Zacara, um projecto que está a ser desenvolvido pelo Centro de Recriação Artística de Maputo? “Este projecto vem como um modelo no que concerne ao incentivo, promoção, desenvolvimento de actividades artísticas, recreativas e sociais”.
A oficina de Gigliola Zacara durou três horas e incluiu a adaptação do livro da escritora Rosa Pereira para o teatro. O livro em causa intitula-se O sonho da menina Kissanga, que retrata a história de uma personagem que nasceu e cresceu numa aldeia. E Zacara conta? “ela sonhava em formar-se em engenharia e viver na cidade grande, Luanda. Certa vez, uma tia que residia na cidade foi visitar a família de Kissanga, e convenceu os pais dela que na cidade teria mais oportunidades. Os pais aceitaram e deixaram que a menina fosse viver com a tia. Depois de algum tempo, a tia diz a sobrinha que já não podia viver com ela, que iria deixá-la em casa de outro familiar, numa casa onde só viviam mulheres. Nessa casa, a menina Kissanga era maltratada pela prima mais velha, que a fazia trabalhar como uma condenada. Kissanga viu os seus sonhos afundarem-se. Então decidiu regressar para a sua aldeia. Quando chegou, contou o sucedido aos pais, que lamentaram por tudo e prometeram que acontecesse o que acontecesse lutariam arduamente para que o seu sonho se realizasse. Anos mais tarde, ela formou-se em Agronomia e ficou na sua aldeia a apoiar a sua gente”.
Em Luanda, Gigliola Zacara dedica-se à oficina com crianças porque acredita ser necessário formar-se novos artistas. Como é na meninice que quase tudo desponta, a actriz resolveu passar a fazer das crianças o seu principal grupo-alvo, afinal trabalhar com tenra idade é uma paixão antiga. Todavia, a oficina de Luanda também contou com a presença de adultos que participam no FESTECA. Para a actriz, a experiência foi muito boa, pois “percebi que a nível das periferias, como é o caso do município de Cazenga, estão a fazer um trabalho incrível no que se refere ao teatro para crianças e com as crianças”.
Quanto à Ihaya, esta é a segunda vez que a actriz participa com o espectáculo num festival internacional. Antes de Angola, a primeira vez foi na 10ª edição do Drama For Life International Conference and Festival, que se realizou na cidade de Joanesburgo, África do Sul, ano passado.
SOBRE IHAYA
Ihaya é uma peça contemporânea inspirada no quotidiano duma sociedade actual, na qual pessoas se questionam constantemente sobre elas mesmas, isolando-se do mundo em busca de respostas. O enredo da peça gira em torno da vida de uma mulher, de berço conservador, educada para ser mãe e esposa, ameaçada por uma sociedade que não a compreende por não seguir as convenções. As suas atitudes são vistas como repugnantes e enfadonhas, enquanto ela procura questionar-se sobre si própria, seu ser mulher, seu ser estranho e todas as transformações que em si são desconhecidas. Como viverá com seus inimigos e sobreviverá aos seus constantes abusos sem nunca quebrar o silêncio? Esta é a questão que fica no ar.