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Gasóleo mais caro e agricultores lançam sinal vermelho

Alguns produtores agrícolas dizem-se obrigados a reduzir a produção devido à subida do preço do gasóleo. O facto aumenta a dependência do país para com o mercado sul-africano, e, por outro lado, os preços poderão subir pela escassez dos produtos em Moçambique.

Na semana passada, o litro de gasóleo saiu de 87,97 para 94,75 Meticais. É já o segundo reajuste que coloca o chamado “combustível da indústria” mais caro do que a gasolina. Os agricultores comerciais, que dependem deste combustível, dizem que não há alternativa senão reduzir o que produzem.

Uma dessas pessoas é o produtor Spensa Dambikwa, de 37 anos de idade, com uma área total de 48 hectares, onde há diversas culturas, com destaque para 14 hectares de tomate. Dos seus campos, saem, todos os dias, 10 toneladas para o mercado Grossista do Zimpeto, que é de maior referência em Maputo e não só. Porém, isso terá de mudar. “Vou passar a tirar sete a cinco”.

Não é uma mudança estratégica, é mesmo porque o custo de produção dispara cada vez que se aumenta o preço do gasóleo. Por dia, Spensa precisa de pelo menos 200 litros. Isto quer dizer que, se antes gastava 17 594 Meticais, agora, com o aumento de 6 Meticais e 78 centavos por litro, precisará de quase 19 mil Meticais diários. Por mês, cerca de 570 mil Meticais com o combustível. “Aqui pára tudo, precisamos de combustível. Temos tractores, máquinas para puxar água, duas, isso sem contar com os camiões que transportam os produtos para o mercado”.

Em teoria, quando os custos de produção sobem, há duas alternativas: ou passa-se o custo ao consumidor através do aumento imediato do preço ou reduz-se a quantidade. De todas as formas, o consumidor paga mais. Por agora, aumentar o preço não é opção, isso porque, segundo os produtores, “o mercado não depende de nós”, até porque, “60% do tomate que, por exemplo, está no Zimpeto, vem da África do Sul”.

Por enquanto, essa proporção aparentemente beneficia o consumidor na medida em que o produto vindo da África do Sul é mais barato, mas constitui um desincentivo aos produtores nacionais e, no final, com maiores quantidades a virem de fora, muitos riscos se levantam; Spensa sabe disso, principalmente porque, além de tomate, produz batata reno. “Estava a pensar em tirar 100 toneladas, mas agora vou tirar cinquenta. Claramente, vou produzir menos e, com menos produtos no mercado, obviamente, os preços vão disparar”, alerta Spensa Dambikwa.

Vasco Zitha, de 74 anos de idade, é outro produtor que tenciona reduzir a quantidade do que produz e vende no mercado Grossista do Zimpeto. Tem uma área de plantio de 40 hectares, dos quais cerca de 10 são de tomate. Com a subida do preço do gasóleo, diz que vai reduzir a área cultivada para 20 hectares, já que, para piorar, “não há apoio”.

Para ele também, o facto de o preço não compensar o custo do gasóleo é também razão para a decisão de produzir menos. “No mercado, não somos nós que decidimos o preço e as pessoas que o fazem não têm em conta os nossos custos de produção”, explica Zitha.

Outro alerta vem de Chókwè, onde se produz tomate e todos os outros que se produzem em Maputo, acrescentando arroz. Eles também se sentem sufocados pelo novo preço do gasóleo e dizem que vão ter de reduzir a área cultivada.

E, porque Chókwè é, também, um grande fornecedor do Zimpeto, a redução de lá traduzir-se-á na diminuição do produto disponível no mercado nacional. Ou seja, está iminente um aumento do nível da dependência nacional em relação às importações.

Aliás, mesmo agora, há dependência, porém o produto nacional concorre de forma equilibrada com o estrangeiro. Olhemos, por exemplo, para batata reno, cebola e tomate que entraram no Grossista no último sábado.

O mercado recebeu 13 camiões de tomate, dos quais 7 vindos da África do Sul e seis, do mercado nacional; sete viaturas levaram batata ao Zimpeto. Destas, cinco são nacionais e dois, da África do Sul. Dois carros de cebola, ambos vindos da África do Sul.

A redução da produção nacional é descrita por economistas como prenúncio de maus dias em termos de preços ao consumidor. Isto é, os 3,58% de aumento do nível geral de preço atingidos de Janeiro até Abril podem crescer ainda mais nos próximos tempos.

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