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Feizal Sidat: “Governo não tem capacidade para gerir Estádio Nacional do Zimpeto”

Foto: O País

O presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), Feizal Sidat, diz que o Governo não tem capacidade para fazer a gestão do Estádio Nacional do Zimpeto (ENZ), cabendo ao executivo a tarefa de assegurar apenas a manutenção do recinto desportivo. Sidat defende ainda a privatização do Estádio Nacional do Zimpeto para a sua sustentabilidade.

A Confederação Africana de Futebol (CAF) reprovou, em Setembro de 2021, a utilização do Estádio Nacional do Zimpeto para jogos e/ou provas internacionais devido ao mau estado do relvado, balneários, vedação, fraca iluminação, torniquetes, entre outros itens exigidos pelo organismo que gere a modalidade rainha no continente.

Em Julho deste ano, e após um trabalho de inspecção feita pelo sul-africano Joshua Knipp, a Confederação Africana de Futebol deu nota positiva ao recinto e autorizou a realização, de forma provisória, de jogos de carácter internacional.

Durante o período de nove meses em que o recinto foi interdito, os Mambas viram-se à nora ao serem obrigados a fazer jogos em casa emprestada.

Para o presidente da Federação Moçambicana de Futebol, Feizal Sidat, este cenário mancha o país e revela a falta de capacidade do Estado em gerir e rentabilizar a maior infra-estrutura desportiva construída após a independência.

“Tínhamos de contactar gestores privados e vimos isto na vizinha África do Sul. Este também deve ser o modelo que Moçambique e, logicamente, que o Fundo de Promoção Desportiva deve seguir para gerir aquela infra-estrutura porque creio que se pode rentabilizar”, disse Sidat em entrevista ao programa “Noite Informativa”.

Este, segundo Feizal Sidat, não é o único problema na gestão do Estádio Nacional do Zimpeto. Sidat defende que é preciso privatizar a gestão daquela infra-estrutura desportiva para a realização de algumas actividades que possam gerar receitas para a sua constante manutenção.

A começar, argumenta o dirigente desportivo, o Estado deve apostar também na contratação de gestores técnicos capacitados para lidar com a componente de gestão do ENZ.

“Em vários países, existem cursos de manutenção de infra-estruturas. Deveria ser alocado alguém da área para gerir e rentabilizar o Estádio Nacional de Zimpeto, recinto que está como está por falta de um especialista na área de manutenção de infra-estruturas para a gerir o empreendimento do Estado”, frisou Feizal Sidat para quem “felizmente, agora, a relva está boa, mas devemos ser cautelosos para que venhamos jogar frente ao Senegal no próximo ano”, alertou.

A preocupação é ainda maior porque, em Janeiro do próximo ano, será realizada mais uma inspecção ao Estádio Nacional do Zimpeto pela Confederação Africana de Futebol. “Ainda faltam os torniquetes, faltam outros aspectos relacionados com perímetros que não foram complementados e, sinceramente, espero que desta vez não sejamos sancionados como no ano passado”.

Sabe-se que foram disponibilizados três milhões de Meticais para a manutenção do Estádio Nacional do Zimpeto.

Feizal Sidat faz, por outro lado, uma análise do ano de 2022 e afirma que o futebol moçambicano ainda está aquém do desejado, porque, segundo diz, os clubes em parte não investem na formação de atletas.

O dirigente desportivo considera que o fraco investimento na formação de atletas condiciona o seu crescimento.

Sidat reclama como ganhos do seu mandato a qualificação dos Mambas para o CHAN 2022, na Argélia, bem como da selecção sub-20, em duas ocasiões, para o Campeonato Africano da categoria. “Qualificámo-nos para o CHAN, qualificámo-nos para o CAN sub-20 duas vezes, qualificámo-nos para o Mundial de futebol de praia. Estas qualificações temos de realçar”, vincou Feizal Sidat.

Ao nível das competições de clubes da CAF, as equipas moçambicanas têm sido eliminadas precocemente. E o insucesso das mesmas não passa nem podia passar despercebida aos olhos de Feizal Sidat. “Sem dúvidas, fizemos visitas a vários clubes. Trabalhámos internamente com os clubes no sentido de estes apostarem mais na formação e, nestes contactos, constatamos que é um trabalho que não fizeram nos últimos anos”, observou.

Outro factor que contribui para o não desenvolvimento da modalidade, constata Feizal Sidat, é a desistência dos clubes do Moçambola. “Grandes clubes do centro e norte endereçaram, quando os campeonatos estão à porta, cartas à Federação Moçambicana de Futebol a informar sobre a sua desistência do Moçambola. O Ferroviário da Beira é um dos clubes que desistiu do campeonato nacional de juniores. Temos igualmente a Black Bulls e Matchedje que desistiram do Campeonato Nacional de Futebol Feminino”, lamentou Feizal Sidat.

E o problema, de acordo com Feizal Sidat, não pode ser entendido como orçamental. “Se há dinheiro que se pode movimentar para o Moçambola, então tem que haver um valor para a formação. Penso que não há uma vontade por parte de alguns clubes em apostar na formação. Isto é o que nos traz algum constrangimento. Nós esperávamos que os escalões de juniores e os juvenis pudessem ter mais provas e equipas”, acrescentou.

Sidat diz que apenas um clube está a criar academias e a formar atletas. “A boa nova é a ABB, que já está a apostar em academias. Esperamos que, a médio prazo, tenhamos os resultados. Mas isso está a acontecer com um clube. É um clube em Moçambique. Temos de fazer vénia à Associação Black Bulls, porque aposta na formação e nas infra-estruturas”.

E, como consequência desta situação, Feizal Sidat revela que tal perpetua um círculo vicioso de mesmos jogadores em clubes diferentes. “Temos os mesmos jogadores que passam de um clube para o outro. Não estamos a apostar na massificação e formação de novos jogadores”, lamentou. E qual é o papel da Federação Moçambicana de Futebol neste processo de massificação e formação de novos valores? “Nós fazemos aquilo que nos é devido, a formação de treinadores. Temos vindo a apostar neste aspecto, mas este é um trabalho que deve ser feito em conjunto entre os clubes e a federação para que possamos elevar o futebol moçambicano ao Mundial”, notou.

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