O Estabelecimento Penitenciário Especial de Reabilitação Juvenil de Boane não tem condições para recuperar os jovens em conflito com a lei. Ainda assim, a direcção do estabelecimento faz improvisos para assegurar que os reclusos juvenis saiam reabilitados.
Com a máquina de costura, António Mabunda junta diferentes tecidos para criar uma máscara de protecção contra a COVID-19, mas era dos seus actos do passado que ele mais se queria ter protegido. “Se eu soubesse, não teria feito tudo o que fiz”, conta o jovem proveniente de Gaza.
António foi condenado a 23 anos de prisão quando tinha 20 anos de idade, acusado de violar, sexualmente, uma menina de 11 anos de idade. Até ao momento, já cumpriu quatro anos e tem esperança de sair por bom comportamento quando cumprir a metade da pena.
Com a esperança num lugar permanente no coração, António aceitou ser um dos quatro primeiros alunos das aulas de corte e costura que decorrem numa oficina improvisada do Estabelecimento Penitenciário Especial de Reabilitação Juvenil de Boane.
“Eu espero que, quando puder sair daqui, possa já ter aprimorado estas técnicas e possa ajudar a minha família”, expressa-se o jovem que sonhava ser médico antes de ser preso em Gaza, sua terra natal.
As aulas de corte e costura já vão terminar e o novo grupo será de oito alunos. Um número maior está num outro espaço, onde, as aulas não são de corte costura, mas sim das primeiras classes do ensino básico cuja leccionação é feita no refeitório, por falta mesmo de um local apropriado para tal.
Cássimo Monjane é outro recluso juvenil e, agora, nas aulas, escreve e aprende tudo aquilo que não quis aprender mais cedo, sendo que, em vez disso, preferiu ir às ruas para tirar bens de outras pessoas. Hoje, condenado a oito anos de prisão, o jovem de 17 anos de idade percebe que devia ter tomado outro caminho. “Se eu voltasse, seria menos envolvido nas amizades e concentrar-me-ia mais nos estudos. Não teria roubado aquele celular naquela noite”, relata.
Enquanto isso, outros jovens se ocupam da produção agrícola, cultivando, regando e, até, fazendo a colheita do que já está pronto. Os que não podem nem estar na produção, nem nas aulas de corte e costura, esses divertem-se jogando ntxuva. Na verdade, nem todos os mais de 100 reclusos podem ter espaço para formação, já que o estabelecimento não tem condições para o feito, tal como explicou a directora do estabelecimento, Júlia Macuácua.
“Não temos salas de aula para a lecionação, nem espaços oficinais para aulas práticas. Agora, mesmo havendo o parceiro que queira patrocinar-nos um curso, temos essa dificuldade”, explica Macuácua.
Aliás, mesmo as oficinas de corte e costura só foram possíveis graças à ajuda da REFORMAR, que decidiu estender aos jovens em conflito com a lei. Ofereceu quatro máquinas de costura numa primeira fase e, agora, aumentou para quatro.
Fora o apoio dado pela REFORMAR, a direcção do Estabelecimento Penitenciário de Reabilitação Juvenil de Boane diz que o outro factor facilitador é que grande parte dos jovens tem estado a mostrar arrependimento e bom comportamento.