Peritos dizem que Moçambique deve criar condições nas áreas de pastagem para melhorar a produção e a produtividade pecuárias, aumentar a oferta e a qualidade de produtos de origem animal, bem como incrementar o rendimento financeiro dos produtores.
Moçambique possui diferentes condições agro-ecológicas, recursos alimentares e genéticos animais favoráveis para o desenvolvimento da actividade pecuária. No país, predomina a produção pecuária familiar, que engloba os bovinos e pequenos ruminantes, com 87% e 96%, respectivamente.
Dados do Governo avançam que apenas 13% da produção vai para a comercialização.
O efectivo animal em Moçambique tende a crescer 2,2 milhões de cabeças de bovinos e 4,8 milhões de pequenos ruminantes.
Luísa Meque, presidente do Instituto Nacional de Gestão do Risco de Desastres (INGD), destaca a necessidade de o país produzir mais carne, e de qualidade, de modo a que se reflicta no mercado nacional e no número de exportações.
“Para que isso se realize, somos chamados para que, realmente, haja uma combinação de alguns factores, neste caso, em termos de maneios sanitário e reprodutivos. O melhoramento genético deve melhorar as características dos animais para aumentar a produtividade da carne e temos o grande desafio no incremento da produção de leite”, reiterou Luísa Meque, presidente do Instituto Nacional de Gestão do Risco de Desastres.
Falando na competência de membro do Conselho Técnico-Científico do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), a antiga vice-ministra da Agricultura defende, ainda, que o país deve melhorar as condições de pastagem e ter atenção no período de abate dos animais.
“Se nós não tivermos uma boa alimentação, dificilmente teremos um melhoramento genético à altura. Se não tivermos bom pasto, não teremos boa carne. Daí que precisamos de ter as áreas de pastagem em condições para alimentar os nossos animais. Temos, também, que realizar o abate dos animais numa idade ideal”, explicou Luísa Meque.
Luís Oliveira, especialista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária (EMBRASA) trouxe experiência do país e algumas soluções para a falta de produção de carne de qualidade.
“Desenvolvemos protocolos para criar alternativas e agregar valor à nossa carne e enfrentar os desafios da comunidade internacional em relação a questões ambientais para a sustentabilidade. Temos um protocolo que neutraliza as emissões soltadas pela pecuária. Não há solução e inovação senão adoptar as tecnologias. Os produtores devem avaliá-las através da captação da demanda local”, disse Luís Oliveira, especialista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária.
O especialista brasileiro apontou ainda factores como a taxa de natalidade, o peso da desmama, a recria e engorda e o peso da carcaça como importantes a serem considerados no abate dos animais.
“Estes pontos são resultados do efeito animal e ambiente. Para o lado do ambiente, temos que equilibrar para que consigamos avaliar adequadamente o valor genético destes animais. Temos que ter boas práticas na nutrição animal e saúde e bem-estar animal”, reafirmou.
De acordo com Luísa Meque, o sector de investigação tem em vista uma estratégia específica para a alimentação a nível da produção animal e está a trabalhar na produção de pacotes tecnológicos para os produtores, em termos de suplementos para os animais.
“Estes produtores têm sido convidados a assistir, em dias de campo, como é que podem produzir feno e fardos para suplementar os seus animais. É um trabalho muito grande que está a ser realizado.”
A antiga vice-ministra da Agricultura reiterou que o reforço à área de investigação agrária de três mil milhões de Meticais, anunciado pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, vai ajudar na resistência a doenças e factores ambientais.
No âmbito da selecção de técnicas de reprodução, Luísa Meque recomendou o método de inseminação artificial, como forma de facilitar a rápida produtividade.
“De uma forma, seria a deposição do uso do sémen de um reprodutor de alto mérito genético. É um método muito usado e, com isso, poderíamos, de facto, aumentar o número dos nossos animais.”
O especialista Luís Oliveira recomenda o uso da técnica de embriões, que permite recolher embriões ou óvulos de uma fêmea doadora de mérito genético superior e transferi-los para fêmeas receptoras, na qual completam a gestação.
“A sua importância básica para a produção animal consiste na possibilidade de uma fêmea produzir um número de descendentes muito superiores ao que seria possível obter fisiologicamente, durante a sua vida reprodutiva.”
As intervenções acontecem numa altura em que a importação de carnes tende a aumentar em Moçambique. O país tem um grande número de pequenas e médias explorações pecuárias, com bovinos e animais de pequeno porte com potencial para melhorar por cruzamentos.
O I Simpósio Nacional de Investigação Agrária, que teve lugar na arena 3D, na KaTembe, contou com a presença de várias personalidades ligadas ao sector agrário.
A abertura do evento foi feita pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, que anunciou novos investimentos para a requalificação dos laboratórios de investigação agrária, produção de vacinas e multiplicação de sementes, nos próximos dois anos e meio.
Filipe Nyusi reiterou, na ocasião, que o financiamento ganha mais força por acontecer ser validado num momento em que a pesquisa precisa de soluções para a demanda do trigo que surge na sequência da guerra na Ucrânia.
O anúncio foi bem visto pelos principais actores do sector. Estes disseram que o apoio financeiro vai responder a uma parte dos desafios do sector agrário e estimular a produção e produtividade.