O Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC) defende uma revisão de todos os manuais e programas das disciplinas, para evitar que os alunos estejam a aprender conteúdos errados. Já o MDM diz que os erros podem ser fruto de corrupção no processo de contratação de serviços para o Estado.
Os posicionamentos foram defendidos esta quarta-feira, depois de o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) ter avançado com as erratas como solução imediata para os erros detectados no livro de Ciências Sociais, da 6ª classe.
Segundo algumas organizações da sociedade civil, que lidam com a educação, a decisão do MINEDH não é viável, pois se trata de erros graves que podem comprometer o desenvolvimento das crianças.
Segundo dizem, a errata só serviria se se tratasse de pequenas falhas, por isso condenaram a decisão e defendem uma retirada urgente de todos os manuais que contêm erros e deixar que os professores usem os seus materiais didácticos para leccionar, pois “mais vale um aluno formado em dificuldades, do que deformado”.
“O MINEDH poderá orientar as escolas para o uso de programas de ensino, a partir dos quais os professores poderão extrair os conteúdos programáticos para elaborarem os seus planos analíticos para a preparação das suas lições diárias. Em preparação das suas aulas, poderão, ainda, servir-se de outros meios de consulta existentes nos conteúdos que leccionam”, defendeu Azevedo Nhantumbo, especialista em educação do CESC.
Para o CESC, enquanto a comissão de inquérito criada pelo MINEDH faz o seu trabalho de investigação, é necessário que haja uma outra comissão, independente, composta por indivíduos especializados e de reconhecido mérito nas respectivas áreas de conhecimento, para fazer uma revisão profunda em todos os outros manuais didácticos, de modo a evitar que os alunos aprendam conteúdos deturpados.
“Os resultados da revisão técnica dos livros deverão permitir que se tome melhor decisão sobre esta problemática.”
Na tarde desta terça-feira, o Governo, reunido em mais uma sessão ordinária do Conselho de Ministros, deu 15 dias à comissão de inquérito criada pelo MINEDH para buscar respostas ao escândalo.
“O Governo deve, em seguida, fazer uma comunicação pública para partilhar os resultados da auditoria sobre o livro escolar e as medidas tomadas no âmbito da responsabilização dos implicados por estas graves falhas que podem prejudicar as próximas gerações de alunos.”
Segundo o especialista, esta situação revela falta de rigor na gestão dos conteúdos didácticos, por parte do MINEDH.
“Os erros não estão só nos livros. Ao longo dos anos, nós temos assistido a erros de conteúdos nos enunciados dos exames. Então, há necessidade de haver seriedade no acompanhamento deste processo.”
Quem também questiona é o Movimento Educação para Todos (MEPT), que considera ter havido negligência por parte do MINEDH, por não garantir qualidade nos conteúdos.
Segundo Nacimo Afigi, não se justifica que um livro que passou por várias mãos, de profissionais credíveis, se possa ter deixado escapar tantas gralhas, por isso defende uma reestruturação do sistema de educação e maior rigor nos processos de produção de materiais didácticos.
“Precisamos de rever as políticas de educação, mas precisamos mais ainda de actualizar e olhar para a educação em Moçambique numa outra perspectiva. Nós estamos ainda a usar documentos base, se calhar não são tão adequados ao momento que o país vive”, disse Nacimo Afigi, do MEPT.
Já o Movimento Democrático de Moçambique diz que a corrupção que existe no processo de contratação de serviços do Estado é que pode estar por trás deste escândalo.
“Esta situação resulta do cansaço do sistema. Podemos substituir as pessoas, mas o sistema está obsoleto. É a governação da Frelimo que está obsoleta. O problema das contratações por camaradagem, por amiguismo e a falta de profissionalização e a falta de meritocracia são factores que minam a qualidade do nosso ensino”, declarou Ismael Nhacucué, porta-voz do MDM, a nível da Cidade de Maputo.