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Enfermeiros exigem valorização da classe

Foto: O País

Celebra-se hoje o Dia Mundial do Enfermeiro. Os profissionais celebram a data, exigindo melhores condições de trabalho e valorização da classe. Já o Governo apela ao abandono das práticas que mancham a classe, com destaque para o mau atendimento.

Dezenas de profissionais de saúde, trajados de branco, bloquearam parte da avenida Joaquim Chissano, para depois das 8 horas desta sexta-feira marchar, pela avenida Acordos de Lusaka em direcção à Praça dos Heróis moçambicanos, onde, em homenagem aos heróis nacionais, foi depositada uma coroa de flores.

Depois deste momento, os profissionais juntaram-se no anfiteatro do Instituto de Ciências de Saúde, ISCISA, para uma cerimónia que contou com a presença de membros do Governo.

Os profissionais aproveitaram a ocasião para reconhecer a sua importância e contribuição no garante da saúde e bem-estar das pessoas, uma vez que correspondem quase à metade do número de profissionais no Sistema Nacional de Saúde, com mais de 18 mil profissionais, divididos em diversas especialidades.

Odete Oficial é uma das enfermeiras que participou na celebração. Profissional há 34 anos, sente que os desafios do dia-a-dia da profissão passaram de formação (no início da sua profissão) para desvalorização da classe.

“No dia-a-dia, ouvimos os enfermeiros a reclamarem sobre as condições de trabalho a que são sujeitos, sem falar das condições salariais. Toda a gente conhece o salário do enfermeiro e sabe que não dignifica, nem o profissional, nem a classe”, disse.

Igual a ela, Olga Novela, enfermeira há 43 anos, que mereceu homenagem pelo seu desempenho ao longo dos anos, no exercício das suas várias funções, diz que só os próprios enfermeiros podem mudar e buscar a valorização que merecem. Por isso, apela aos profissionais para darem o seu máximo, servindo ao povo, e um dia será reconhecido.

No mesmo evento, a Ordem dos Enfermeiros destacou a necessidade do reforço da formação dos profissionais.

“Os desafios que nós enfrentamos começam com a nossa numerosidade. Somos muitos e o que nos coloca em uma situação de vulnerabilidade, desde o custo que aparentemente representamos, a lista de anseios não satisfeitos que de nós derivam, dentre elas a necessidade de protecção e de ambiente propício para prestar cuidados dignos aceitáveis, a necessidade de aprender mais e elevar as nossas competências clínicas, éticas e de gestão”, disse Grácio Guambe, vice-bastonário da Ordem dos Enfermeiros de Moçambique.

O Governo, por seu turno, reconheceu os desafios do sector, principalmente sobre a disponibilidade de enfermeiros no país, que ainda está abaixo do recomendado internacionalmente.

“O rácio de enfermeiros gerais em Moçambique é de 3,1 por 10 mil habitantes, contra o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde de 3,4 por 10 mil habitantes. Este rácio irá continuar a sofrer o impacto do rápido crescimento da população do nosso país. Por isso, decorre um esforço para formar mais profissionais de enfermagem e colocá-los no Serviço Nacional de Saúde. Durante o período 2016-2022, as instituições de formação pública graduaram 5893 enfermeiros, um número superior à previsão inicial de 4741 graduações”, disse o vice-ministro da Saúde, Ilesh Jani.

Sobre a formação académica, Jani diz que o Governo tem em vista um programa intensivo de formação de quadros especialistas.

“Verificamos a necessidade de formar quadros de enfermagem de áreas especializadas, como, por exemplo, em neonatologia, cuidados intensivos, anestesiologia e instrumentação. Para estas áreas, o Ministério da Saúde está a implementar o Plano Acelerado de Formação, a partir do qual se prevê graduar 1728 enfermeiros especializados até 2025”, prometeu.

Contudo, exige que os enfermeiros abandonem as práticas que mancham a classe: “Apelamos, no entanto, para que lutem contra todos os males que atentam ao bom nome da classe de enfermagem e de todos os profissionais de saúde, incluindo a indiferença ao sofrimento do próximo, o mau atendimento hospitalar, o desvio de produtos de saúde, o uso irracional dos recursos do Estado e as cobranças ilícitas. Faz-se, por isso, necessária a implementação integral do Código de Ética e Deontologia Profissional do Enfermeiro, recentemente lançado pela Ordem dos Enfermeiros de Moçambique”.

Este ano, o Dia dos Enfermeiros é celebrado sob o lema “Nossos profissionais de enfermagem, nosso futuro”.

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