O País – A verdade como notícia

A primeira-ministra, Benvinda Levi, convidou empresários japoneses a investirem mais em Moçambique e assegurou que a entrada daquele país nos projectos de gás natural é um indicador de que o Governo oferece boas condições para o investimento estrangeiro.  

Moçambique e Japão estabeleceram relações diplomáticas há 48 anos e em pleno dia do metical e do massacre de Mueda ouviu-se o hino nacional no Japão, no dia dedicado a Moçambique na Expo 2025.

O Japão tem sido um parceiro estratégico para Moçambique, garantindo apoio em sectores sociais como saúde e educação, mas também participa em investimentos económicos.

“Nesta nossa cooperação com o Japão, gostaríamos de destacar algumas acções estruturantes de grande impacto no processo de desenvolvimento socio-económico de Moçambique  tais como: a formação e capacitação de recursos humanos, a reabilitação e modernização do porto de Nacala, a construção central termoeléctrica de ciclo combinado de gás natural na cidade de Maputo, a participação japonesa na exploração de gás natural liquefeito, na área 1, na Bacia do Rovuma”, disse a Primeira-Ministra. 

Pequeno em termos de território, mas um gigante mundial no desenvolvimento tecnológico. Moçambique está na Expo 2025 com o interesse de firmar parcerias para a transferência tecnológica.

“Estamos esperançados, que  durante a Expo Osaka 2025, para além da interacção e troca de experiência em matérias de desenvolvimento e inovação, iremos firmar compromissos e acordos, que permitam fortalecer a cooperação nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, para além de estender as relações comerciais e de investimento, numa base de benefícios mútuos”, acrescentou a ministra.   

Neste fórum económico Japão-Moçambique, realizado à margem da celebração do dia de Moçambique, Benvinda Levi convidou empresários japoneses a investirem no nosso país e assegurou que a entrada nos projectos de gás na bacia do Rovuma é um sinal de que Moçambique oferece condições para o investimento estrangeiro.

“A recente entrada de empresas de grande dimensão do Japão, na área de gás e petróleo em Moçambique constituem um factor importante para encorajar o estabelecimento de mais empresas  no país, o que irá concorrer para o aumento e diversificação da carteira de investimentos de projectos estruturantes em Moçambique. Por isso, convidamos e encorajamos os empresários japoneses e demais presentes neste evento a capitalizarem  as potencialidades e capacidades de investimento e de negócios existentes em Moçambique nos vários domínios, com destaque nas áreas de agro-negócio, indústria, energia, infra-estruturas, recursos minerais e turismo”, convidou a governante

Com uma forte produção industrial, o Japão olha para Moçambique não só como um local para adquirir matéria-prima, mas também um mercado promissor, segundo afirmou Hamada Keij, embaixador do Japão. 

Um dos investimentos económicos de vulto do Japão em Moçambique é a reabilitação, ampliação e modernização do Porto de Nacala, através da Mitsui. 

O Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, defendeu, esta segunda-feira, a importância de aprofundar o conhecimento e recolher experiências sobre a liberalização da conta capital. Segundo Zandamela, este esforço é fundamental para que o país esteja preparado para enfrentar os desafios que os acompanham. 

Durante a sua intervenção nas jornadas científicas do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela destacou que uma liberalização criteriosa e gradual da conta de capital pode favorecer a integração de Moçambique no mercado global de capitais. Essa abertura, segundo o Governador, tem o potencial de atrair fluxos financeiros externos e contribuir para o desenvolvimento económico do país.

Zandamela acrescentou ainda que o sucesso desse processo depende da existência de políticas macroeconómicas sólidas, estabilidade institucional e uma supervisão financeira eficaz.  

A Ministra das Finanças, Carla Louveira, afirmou que Moçambique deve avançar com cautela e de forma gradual na liberalização da conta de capital. Segundo Louveira, é fundamental respeitar as características específicas da economia nacional durante esse processo. A ministra falou hoje, nas jornadas científicas do Banco de Moçambique, onde avançou que o país poderá receber, neste ano, cerca de 88 mil milhões de Meticais de créditos e donativos externos para reforçar a disponibilidade de  moeda estrangeira.

O Banco Central realiza, nesta segunda-feira, a XVI edição das Jornadas científicas do Banco de Moçambique, com o tema “Liberalização da Conta Capital em Moçambique e os desafios da gestão macroeconómica”. 

Durante o discurso de ocasião, a Ministra das Finanças sublinhou a importância da abertura da economia nacional ao capital estrangeiro, para a promoção de emprego e geração de rendimento. 

“Num mundo, cada vez mais globalizado, onde os fluxos financeiros cruzam fronteiras com velocidade e volume sem precedentes, a liberalização da Conta Capital reveste-se de capital importância para atrair recursos que fomentem o crescimento económico, aumentem a eficiência do mercado e promovam o emprego e a geração de rendimento, sem, contudo, comprometer a estabilidade económica interna”, disse a governante.

Contudo, Carla Louveira chama atenção que a liberalização da conta capital “tem de ser gradual e cuidadosamente calibrada, tendo em consideração as especificidades da nossa economia, a robustez do sistema financeiro, bem como os riscos associados à volatilidade dos fluxos de capital”. 

O Governo  terá assinado um acordo com a empresa Vitol para assegurar o fornecimento de combustíveis nos próximos 12 meses e contornar a escassez de divisas. O acordo prevê um financiamento de 600 milhões de dólares, mas o sector privado diz que tal não resolve a escassez de divisas.

A crise de divisas no mercado nacional parece estar longe do fim. É que de um lado está o banco central que acusa os empresários de reter  em quantidades enormes de moeda estrangeira, sobretudo o dólar, e do outro lado os empresários a apontarem o dedo aos bancos comerciais, porém enquanto isso quem sofre é quem vive o dia a dia das importações. 

Moçambique importa grande parte dos produtos e serviços que consome. Para tornar isso possível, usa o dólar para adquirir, uma moeda que ficou escassa desde finais de 2024, situação que ficou bastante evidente nas gasolineiras.

Os transportadores diziam, num passado recente, que não tem sido fácil abastecer porque não havia combustível, reclamando da falta do mesmo em vários postos de abastecimento.

Não demorou muito para o sector da aviação também manifestar desagrado, com algumas companhias aéreas internacionais a suspenderem a emissão de bilhetes em agências nacionais por falta de repatriamento de receitas em dólar.

No início deste mês, em entrevista ao O País, Muhammad  Abdullah, director executivo da Cotur dizia que “tivemos um período de três meses, aproximadamente, em que não conseguíamos vender no mercado moçambicano ou não conseguíamos emitir as passagens aéreas em Moçambique”, considerando a situação de grave.

A falta de divisas afecta inclusive as empresas que dependem de importação de matéria-prima e equipamentos, conforme indica esta lista da CTA com 60 empresas, com pedidos de pagamento de facturas em divisas não satisfeitos.

E não é apenas o dólar que é escasso. Há relatos vindos de importadores informais que usam o rand, moeda sul-africana, que optaram por adquirir a moeda no mercado negro, assumindo os riscos que daí advem.

É o caso de Deolinda Machiane, importadora informal há mais de 20 anos, que diz que “todo ladrão sabe que quando vem ‘um Dubai’, a importadora ou o importador que se faz dentro do veículo, traz consigo dinheiro”. Para ela, isso é uma vulnerabilidade.

E essa vulnerabilidade a que são sujeitos os importadores informais é causada pela falta de moeda estrangeira nos bancos comerciais. Afinal “os nossos bancos não nos fornecem rands. Tu vais ao banco, mesmo com conta bancária, dizem que não tem rands”, conta Deolinda Machiana, acrescentando que para evitar constrangimentos nos bancos acabam optando pelo mercado negro. 

“É possível, depois de adquirir o rand, a pessoa mandar certas pessoas vir a mim, atrás do próprio rand. Segundo, posso adquirir a moeda estrangeira falsa”, revela Machiana.

Para Deolinda Machiana, que é també conhecida como Mukherista, a actual crise de divisas só permanece por falta de vontade das autoridades. “Com a própria conta bancária não tens nenhum rand no banco, mas no mercado negro está cheio de rand. Pergunto de onde vem o rand que está cheio no mercado negro?”, questiona.

Por seu turno, Sudecar Novela, Presidente da Associação dos Mukherista, diz que os desafios têm sido diários para quem prefere usar os bancos comerciais. 

“Pode-se fazer essa operação e não se refletir este depósito na conta do fornecedor por uma semana, por um mês, por dois meses, por mais longo tempo. Então, isto não é negócio. O fornecedor, porque não há divisa, o próprio banco não tem divisa para poder transferir, revela Sudecar Novela.

Do informal ao formal, as Pequenas e Médias Empresas são também afectadas. Ângelo Macassa, Presidente do Pelouro de PME na CTA, diz que sofrem mais as empresas das áreas do comércio e da indústria, uma vez que as indústrias usam maquinarias, que por vezes tem que importar peças ou matéria-prima. 

“Então, estes são os grandes desafios, os sectores muito cruciais que nós temos. Temos técnicos de mão-de-obra, às vezes, que é preciso vir de fora para vir assistir e fazer a semba de algumas máquinas e não conseguimos fazer o pagamento destes técnicos ou a intenção de suportar os custos deles para cá”, conta Macassa.

Uma solução urgente é necessária, para evitar crises maiores, defende a Confederação das Associações Económicas de Moçambique na pessoa do presidente do pelouro das Pequenas e Médias Empresas, Ângelo Macassa.

“Repara que em alguns dos casos a importação tem que ser feita com antecedência, porque isto é um processo todo, é uma cadeia toda. E se nós conseguirmos fazer a importação agora, temos a certeza que vamos ter os produtos, praticamente, a partir de Outubro para frente, de modo a poder baixar os mercados na quadra festiva”, revela.

Entretanto, de acordo com Macassa, “se nós não conseguimos fazer agora, nestes próximos dois, três meses, temos de imaginar o que vai ser para todos nós”. 

O  vice-presidente do Pelouro de Política Monetária e Serviços Financeiros da CTA, Egas Daniel, entende que mesmo com as medidas tomadas recentemente pelo Banco de Moçambique, o problema da falta de divisas prevalece.

“A Associação de Combustíveis, em particular o governo, assinou um memorando de entendimento com uma empresa que está a fazer a gestão da crise, oferecendo mais ou menos a flexibilidade necessária para o processo de importação, aumentando o tempo necessário para o pagamento das facturas de combustível e até com crédito disponível de 600 milhões de dólares durante 12 meses para poder lidar com a crise dos combustíveis”, revela.

Mas, segundo Egas Daniel, o combustível é um sector particular cuja solução foi esta “e parece ter ultrapassado a crise que estávamos a viver”.

É que nos outros sectores a crise continua e o futuro pode ser incerto, segundo vice-presidente do Pelouro de Política Monetária e Serviços Financeiros da CTA.

Egas Daniel diz mesmo que o que se viu dos combustíveis, de dificuldades no abastecimento, longas filas de espera, “aquilo é uma amostra do potencial impacto negativo que pode acontecer para os demais sectores, se a situação continuar e a gravidade atingir os níveis em que o sector de combustíveis atingiu”.

Para Egas Daniel, seria o cenário mais pessimista possível, em que alguns produtos começam a escassear no mercado, alguns bens começam a não serem fornecidos no nível desejado em termos de satisfazer a demanda do mercado e pressionar os preços a aumentar. 

Minimizado o problema no sector dos combustíveis, o governo é agora desafiado a encontrar respostas para resolver a escassez de divisas no país para evitar uma crise maior.

O Presidente da República, Daniel Chapo, recebeu, esta Sexta-feira, em audiência na Presidência da República, o Director-Executivo da Kenmare, Tom Hickey, que reiterou o compromisso da empresa irlandesa em continuar a investir em Moçambique nas próximas décadas. Tom Hickey destacou o impacto económico, social e fiscal das operações da mineradora na província de Nampula e manifestou confiança no ambiente de negócios do país.

Falando à imprensa no final do encontro, o Director-Executivo da Kenmare disse que a audiência com o Presidente da República foi uma oportunidade para reforçar laços entre a empresa e o Governo. 

De acordo com o CEO, a Kenmare pretende manter os actuais postos de trabalho e continuar a gerar receitas fiscais e de royalties para o Estado. “Esperamos continuar a empregar mais de 1700 pessoas, continuar a gerar rendimentos de imposto e de royalties para o Governo e continuar a investir em desenvolvimento económico, social e educacional em torno da nossa mineração em Moma”, sublinhou.

Tom Hickey valorizou a visão do Presidente da República sobre o papel do sector privado no desenvolvimento nacional. “Ele tem uma grande ideia de como empresas como a Kenmare podem investir para o país, para a nação e o valor que podemos trazer e apreciamos muito isso”, observou.

Questionado sobre o ambiente de negócios no país, o CEO respondeu que “Moçambique foi bom para a Kenmare, e esperamos que continue sendo um lugar onde podemos crescer e onde podemos adicionar valor para a nação nos próximos anos”. 

Fundada na Irlanda, a Kenmare Resources opera em Moçambique há mais de quatro décadas e é uma das principais produtoras mundiais de minerais pesados extraídos de areias, utilizados em pigmentos industriais. 

 

Moçambique prevê alcançar uma produção de cerca de 90 toneladas de café até ao fim deste ano. O anúncio foi feito nesta quinta-feira, em Maputo, pelo secretário de Estado do Mar e Pescas, Momade Juízo, durante a abertura da Expo Café Moçambique 2025.

Sob o lema “Do cultivo à degustação: celebrando os 50 anos da independência de Moçambique”, a Expo Café visa promover a cultura do café e valorizar os produtores locais, ao mesmo tempo que estimula o consumo interno, a comercialização e a inovação sustentável em toda a cadeia de valor.

“Como se pode constatar dos dados que partilhamos, é que cerca de 90 toneladas têm sido a produção média que será alcançada neste ano”, afirmou Momade Juízo.

De acordo com Momade Juízo, mais de quatro mil pequenos produtores estão, actualmente, envolvidos na produção de café no país, cobrindo áreas que variam entre 0,5 e um hectare. No total, cerca de 2,2 mil famílias vivem desta actividade agrícola.

As províncias de Manica, Sofala, Cabo Delgado e Maputo destacam-se como os principais centros de produção. O responsável sublinhou que as condições agro-ecológicas de Moçambique são favoráveis ao cultivo do café em diversas regiões, o que representa uma oportunidade estratégica para gerar rendimentos familiares e reduzir a desflorestação por meio de práticas agrícolas sustentáveis.

“A produção de café permite gerar rendimento para as famílias e, simultaneamente, oferece alternativas viáveis e sustentáveis a práticas prejudiciais ao ambiente, como o desmatamento”, destacou Juízo.

Actualmente, o café moçambicano já chega aos mercados internacionais, valorizado pela qualidade das suas variedades, como o arábica, ou robusta e o raro café racemosa. “As nossas variedades são bastante competitivas e estamos virados para o mercado global para promover o potencial do nosso país”, acrescentou.

O governante garantiu ainda que o Executivo continuará a investir em formação técnica, pesquisa e atração de investimentos, com o objectivo de fortalecer a cadeia produtiva do café em Moçambique.

Por sua vez, o presidente da Associação Moçambicana do Café, Genaro Lopes, também enalteceu o potencial do país para se destacar na produção de café de excelência. “Temos um país com tudo para poder produzir bons cafés. Clima, solo, variedades incríveis como o arábico e o robusta, e até espécies raras como o racemosa. Isso não é comum e pode ser o nosso grande diferencial”, afirmou.

Lopes reiterou a disponibilidade da associação em continuar a colaborar com o Governo no desenvolvimento sustentável do sector.

O Banco de Moçambique aponta para a continuidade da redução do custo de vida à luz das medidas paliativas adoptadas pelo Governo, com destaque para a redução das tarifas de portagem em Maio e a isenção, recentemente, do Imposto sobre Valor Acrescentado, em produtos de primeira necessidade como sabão, açúcar e óleo alimentar.

De acordo com o relatório publicado recentemente pela instituição bancária, “no curto prazo, prevê-se a manutenção da tendência para a desaceleração da inflação anual, a reflectir o impacto das medidas governamentais que incluem o ajustamento em baixa das tarifas de água e portagens e a queda dos preços de alimentos no mercado internacional”. A perspectiva económica está, também, ligada à estabilidade do Metical.

O banco central acrescenta ainda que as expectativas macroeconómicas dos agentes económicos, reveladas no inquérito de Maio, apontam para uma inflação anual de 4,90% em Dezembro de 2025, o que representa uma revisão em baixa de 3 pontos percentuais face às expectativas divulgadas no inquérito de Abril.

No que toca aos riscos e incertezas para as projecções, o Banco de Moçambique aponta incertezas quanto ao efeito do crescente agravamento da situação fiscal; quanto à velocidade da reposição da capacidade produtiva e de oferta de bens e serviços; e quanto aos efeitos dos choques climáticos sobre a actividade.

Entretanto, os economistas Dimas Sinoia e Humberto Zanque, afirmam que tais perspectivas avançadas desde o início do ano não se fazem sentir no bolso do cidadão e que há disparidade entre as previsões e o efeito desejado. Para estes, há necessidade de adopção de outras medidas, tais como aumento de níveis salariais e reformas estruturais de médio e longo prazo para garantir que o cidadão comece a sentir as mudanças.

Os economistas entendem que há necessidade de combinação de factores como aumento dos níveis de produção e produtividade.

Dimas Sinoia – Economista

Este não é um resultado que se alcança em meses. Quando falamos do aumento do custo de vida, estamos a querer dizer que houve acúmulo de vários elementos como aumento de níveis salariais e reformas estruturais de médio e longo prazo para garantir que o cidadão comece a sentir uma estabilidade.

Não obstante o esforço do banco central para garantir a estabilidade cambial, há choques que foram acontecendo ao nível do sector económico no país e a sua recuperação necessita de medidas adoptadas de forma gradual. As medidas do governo elencadas pelo Banco de Moçambique têm um efeito paliativo e, muitas das vezes, não chegam a produzir o impacto desejado pelas famílias.

Para que cheguem a produzir resultados devem estar alinhadas as reformas do lado fiscal e monetário para garantir o equilíbrio da situação em comparação com os cenários dos anos passados.

Ainda que pequenas variações ao nível internacional vão tender a ter um impacto no custo de vida, com isso para dizer que o país só irá ser auto suficiente quando conseguir produzir os seus próprios alimentos. Outro aspecto importante que concorre para a redução do nível de vida são as finanças públicas e é importante que continuemos como país com garantias de melhoramento na sua gestão.

Humberto Zaqueu – Economista

As perspectivas avançadas pelo Banco de Moçambique podem ser entendidas como medidas de gestão de crise, creio que era preciso fazer alguma coisa para responder a actual crise e subida intensiva do custo de vida. O Banco de Moçambique está sim a fazer a sua parte no que toca à gestão monetária e cambial porém as acções concretas devem continuar a vir do lado do governo. Por exemplo, vejo com bons olhos o corte de alguns gastos públicos de forma razoável.

O choque de oferta e factores climáticos são alguns dos grandes constrangimentos que devem ser controlados para que as tendências do Banco Central venham a ser reais. Não é só a redução de portagem e IVA que deve ser feita, é preciso aumentar a produção e a produtividade para que haja redução em baixa dos preços de productos no mercado mas tal só será possível com o apoio à agricultura. Assegurar o crescimento da produção agrícola é permitir que o país deixe de ser dependente do exterior para comer.

A política fiscal é outro componente importante que bem gerido pode alavancar a economia do país e elevar o custo de vida, mas tal medida não pode atacar a pequenos comerciantes sob pena de afogar os iniciantes. Creio que a melhor medida medida passar por o governo renegociar os contratos com os megaprojectos.

A economia moçambicana registou uma nova contracção no primeiro trimestre deste ano, com uma queda de 3,92%, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Este é o segundo trimestre consecutivo de recuo económico, embora a magnitude da queda seja inferior à do mesmo período do ano passado, quando a economia afundou 5,73%.

O INE aponta como principal causa para o fraco desempenho económico os efeitos persistentes das manifestações pós-eleitorais ocorridas no último trimestre de 2024, que afectaram negativamente a actividade produtiva e comercial em diversas regiões do país.

O sector secundário foi o mais penalizado, com uma redução significativa de 16,18%. Dentro deste, destacam-se as quedas na produção e distribuição de eletricidade, gás e água (-22,47%), na indústria transformadora (-14,77%) e na construção (-10,77%). Já o sector terciário registou um recuo de 8,31%, influenciado, principalmente, pela queda nos serviços de hotelaria e restauração (-21,57%), transportes e comunicações (-21,33%) e comércio (-18,08%).

Em contrapartida, o sector primário apresentou um desempenho positivo, com um crescimento de 2,09%, impulsionado pelas actividades de mineração, que cresceram 6,53%, e pela pesca, com uma alta de 1,32%.

Do lado da procura, o consumo privado, principal motor da economia, mostrou sinais de enfraquecimento, contribuindo para uma redução de 0,22% na procura agregada. As exportações caíram 2,26%, enquanto as importações cresceram 6,11%, agravando o desequilíbrio externo.

Face ao cenário de desaceleração, o Governo foi forçado a rever em baixa a sua previsão de crescimento económico para 2025, que passou de 5% para apenas 2,9%. Em 2024, a economia moçambicana já havia crescido apenas 1,85%, bem abaixo da meta estabelecida de 5,5%.

A crise social também teve efeitos severos sobre o tecido empresarial. De acordo com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), cerca de 955 empresas foram directamente afectadas pelas manifestações e actos de vandalismo, resultando em prejuízos superiores a 32,2 mil milhões de meticais (o equivalente a cerca de 500 milhões de dólares) e na perda de mais de 17 mil empregos em todo o país.

A consultora internacional Knighthood Global, responsável pela reestruturação da companhia Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), iniciou o processo de contratação de cinco aeronaves do modelo Boeing 737-700, como parte de um plano estratégico para revitalizar a operadora aérea nacional.

Segundo uma informação confirmada à nossa redação por fontes bem posicionadas na instituição, a Knighthood confirma que conta com autorização expressa dos accionistas da LAM para executar o negócio, o que marca uma nova fase no processo de reestruturação da companhia, iniciado em 2023, após anos de dificuldades financeiras e operacionais.

“A Knighthood Global está a conduzir este processo competitivo, com prazos limitados, para garantir aeronaves que atendam aos requisitos operacionais, comerciais e estratégicos da LAM, seja por meio de compra directa, aluguer financeiro ou aluguer operacional”, refere o documento.

A Knighthood, sediada em Abu Dhabi, esclarece que os aviões devem ser configurados em duas classes, com capacidade para entre 120 e 140 passageiros, de modo a responder às exigências da rede intra-africana da companhia moçambicana.

As propostas formais dos potenciais fornecedores deverão incluir especificações técnicas detalhadas, relatórios actualizados de manutenção e condições comerciais claras, sendo o prazo de submissão estabelecido até sexta-feira, 20 de Junho de 2025.

A contratação das novas aeronaves insere-se num esforço mais amplo de reestruturação da LAM, que atravessa uma fase crítica marcada por prejuízos financeiros, frota reduzida e perda de fiabilidade operacional. A intervenção da Knighthood sucede à actuação da consultora sul-africana Fly Modern Ark, que identificou problemas graves de má gestão, corrupção e ineficiência técnica dentro da empresa.

Actualmente, a LAM enfrenta défices operacionais e limitações na sua frota, composta por um número reduzido de aviões ativos, incluindo modelos Q400 e Boeing 737-700. Parte das rotas internacionais e domésticas tem sido assegurada através de arrendamentos de emergência, como no caso do voo para Lisboa, operado por um Boeing 767 alugado.

A iniciativa da Knighthood é vista como um sinal de renovação institucional e operacional, com o objectivo de restaurar a confiança dos passageiros, recuperar a capacidade de concorrência e recolocar a LAM como referência no espaço aéreo africano.

Com o prazo para a recepção das propostas a aproximar-se, o mercado internacional da aviação observa com atenção os próximos passos da companhia moçambicana, que poderá, com a chegada destas novas aeronaves, iniciar um novo capítulo da sua história.

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