Camarada Celso,
acabo de ler o seu Prémio Literário José Craveirinha 2021. Não me surpreendi. Percebi que continuas convicto, como eu, que Luís Carlos Patraquim, Mia Couto e Francisco Noa, como se fossem uma santíssima trindade, merecem tal distinção. Penso que os teus argumentos são autênticos. Os três autores contribuem verdadeiramente para a arte literária moçambicana. E não é de hoje, conforme observas, lá vão boas décadas que os temos como garimpeiros da palavra neste trajecto tão difícil e tão cheio de armadilhas.
Concordo contigo. “Ainda bem que nestes tempos pandémicos e incertos a HCB não apanhou Covid”. Há alguns meses, comentei sobre o HCB com amigos e manifestei o receio de o prémio ser cancelado. Contra as minhas expectativas, Dom Celso, eis que num zás, eu todo distraído, lá vens tu a dizer-me que amanhã iremos conhecer o próximo autor agraciado. Boa notícia! Logo que a recebi, pus-me a lembrar da cobertura que há dois anos e meio fiz na belíssima Vila do Songo. Nessa altura, acertei o prognóstico, embora não tenha sido algo público. Os amigos de sempre ouviram-me sustentar a minha posição. Quem venceu em 2018? Ungulani Ba Khosa, o que, salvo o erro, o permitiu estar entre os membros do júri da edição 2020.
Conforme dizia, camarada Celso, que já estou aqui a pensar em Tete, a província que me fez homem, estás certo quando sustentas que o Patraquim, o Mia e o Noa são altos candidatos ao prémio. Só quem não estuda, não acompanha e não compreende os passos da história literária moçambicana pode ter reservas em relação ao teu palpite. Não é o meu caso. Eu até sou distraído, mas sempre acerto qualquer coisa. Por exemplo, sei que antes de Ungulani, venceu o HCB Fátima Mendonça. Lembro-me que algumas pessoas fizeram caso disso, na altura. Mas eu me identifiquei com a decisão dos membros do júri. A consagração à professora Fátima foi feita em boa hora. Ela é um dos pilares da nossa literatura. Então, foi bonito! E este ano, será? Bem, Dom Celso, sabes que o país literário, nos últimos anos, vibra quando o assunto é premiação. Logo, imagino que não teremos uma escolha inquestionável.
Despois de sustentar a tua tese, Dom Celso, estendes a tua lista e lá colocas outros nomes: Paulina Chiziane, João Paulo Borges Coelho, Suleiman Cassamo, Nelson Saúte e Fernando Manuel. Na minha percepção, nem os três primeiros autores e nem estes cincos serão distinguidos com o Craveirinha, amanhã. Sei lá. Chame a isso intuição. Falível. Logo, não coloques a mão no fogo por mim, que eu também desconfio das minhas ideias. Às vezes. Será este o caso? Achas que sim? Eh pa, O País está para fechar a edição desta quarta-feira e o editor do jornal está aqui a pressionar-me para entregar as minhas páginas. Além disso, há uma peça minha que vai ao Jornal da Noite e tenho de a montar. São 19h41, agora, e já não me resta muito tempo. Por isso, tenho de terminar esta conversa que foi uma tentativa de te contrariar, a ti, um editor tão iluminado e que muito aprecio.
Camarada Celso,
sim, oiço-te perguntar quem vencerá o Prémio Literário José Craveirinha 2020, na minha percepção. Na verdade, bem, nem se trata de percepção, mas de observação. Não vou sustentar nada, como tu o fizeste. Tanto posso acertar como errar. Se errar, será a primeira vez que isso acontece desde que comecei a fazer prognósticos públicos. Nada grave. A vida, muitas vezes, parece um erro mesmo… Então pronto. Sem querer discutir se é justo ou injusto, adio essa discussão para mais tarde, acho que o grande vencedor do Prémio Literário José Craveirinha 2020, nesta quarta-feira, dia 12 de Maio de 2021, será… Não. Se contasse, não votaria nele neste momento. Porquê? Penso que o timing é importantíssimo considerar.
Bem, tenho mesmo de encerrar este assunto. Depois falamos dos erros e dos acertos. Sim, isso mesmo, camarada Celso: Armando Artur.