Os advogados de Jean Boustani apresentaram em Nova Iorque, no julgamento sobre as dívidas ocultas, provas de que o Banco de Moçambique tinha conhecimento do escândalo financeiro. Facto que contraria o antigo governador, Ernesto Gove, que dizia desconhecer.
O libanês Jean Boustani, antigo responsável de vendas da construtora naval Privinvest, suspeito de montar o esquema de corrupção de venda de navios a preços inflaccionados a MAM, ProIndicus, e EMATUM, é um dos arguidos do caso dívidas ocultas a ser ouvido em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América.
No julgamento que decorre no tribunal de Broklyn, os advogados de Boustani apresentaram documentos que demonstram o envolvimento do Banco de Moçambique. A defesa de Boustani usou as cartas de autorização de empréstimo do Banco Central, para defender o arguido, com alegacões de que foi tudo legal, uma vez que o Banco autorizou os empréstimos para as dívidas, conforme exigia o Credit Suisse, que concedeu o crédito.
E conforme as duas cartas, tidas como confidenciais, uma é dirigida ao Director Executivo da Proindicus, Eugénio Matlaba, com o seguinte conteúdo:
“Serve a presente para acusar a recepção, da carta de V. Exas, solicitando a aprovação da contratação de empréstimo externo, junto do Credit Suisse, no valor de USD 372. 000, 000, 00 a qual mereceu a nossa atenção.
Relativamente ao assunto versado, cumpre-nos informar a V.Exas, que o Banco de Moçambique autoriza a contratação do financiamento (…)” Lê-se no documento.
Igualmente, em outra carta separada, dirigida a Henrique Gamito, administrador delegado da EMATUM, nos mesmos moldes, o Banco de Moçambique autoriza a contratação da divida da EMATUM, no valor de 850 milhões de dólares.
As duas cartas foram assinadas por Silvina António de Abreu, empossada em Setembro último ao cargo de administradora do Banco de Moçambique, que na altura em que foram contraídas as dívidas ocupava o cargo de directora.
A confirmação do envolvimento do Banco Central nas dívidas ocultas, em sede do tribunal em Nova Iorque, contrariam os pronunciamentos do então Governador Ernesto Gove, que em 2016 teria dito ao “O País” não ter conhecimento do escândalo financeiro.
No julgamento que decorre em Nova Iorque, a defesa de Jean Boustani já usou também o facto de o Governo estar a reestruturar a dívida da EMATUM, como uma das alegacões para defender que não houve conspiração para defraudar os investidores que compraram os títulos de crédito da EMATUM.