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Dirigismo desportivo: paixão ou… tarefa?

Desde os tempos da Secretaria de Estado aos de Ministério dos Desportos, passaram por lá vários titulares. Cumpriam uma tarefa do Estado. Uma vez chegada ao fim, pouco neles sobrou. Nem sequer a paixão que obrigaria a regulares presenças nos eventos desportivos que antes faziam gala em referir como importantes para a formação completa dos cidadãos. Há excepções, mas a regra mostra-nos o seguinte: alguém se lembra de ter visto nos últimos anos, os senhores José Júlio de Andrade, Pedrito Caetano, Fernando Sumbana, Mateus Kathupa e outros, nos recintos desportivos?

Eram frequentadores enquanto titulares – de contrário ficaria mal – mas uma vez retirados, outras agendas falam mais alto.

Estava-se portanto em presença do mero cumprimento de uma tarefa, de cuja passagem não ficou uma réstia de paixão, numa uma área tão apaixonante?

Mais exemplos: o ex-PCA de Cahora Bassa, Paulo Muxanga, era visto nos campos a torcer pela “sua” equipa, enquanto titular da Hidro-eléctrica. Actualmente, vemos por lá o seu sucessor, o ex-Ministro Couto, ao que tudo indica para cumprir e dar a cara à tarefa que foi recentemente incumbido na empresa integradora do clube.

Porém, este assunto ganha mais estranheza quando alguns dos antigamente “carolas” como José Neves, Michel Grispos, Mário Guerreiro, Osório Macome, Augusto Fernando e tantos outros, ficam épocas inteiras sem darem uma “forcinha” aos clubes que dirigiram e de que se diziam apaixonados.

Esse “virar das costas” aos campos, infelizmente, até atinge antigos jogadores e jornalistas desportivos que em regra só marcam presença para cumprir a escala de serviço.

 

Falta de qualidade explica tudo?

 

Como alegação de fundo, a fraca qualidade. Se fosse o Real Madrid, Benfica ou Borússia… Infere-se daí que a qualidade sendo medíocre, só satisfaz a mediocridade. A menos que haja por detrás, algum imperativo de… tarefa!

Felizmente sopram ventos bons, do Centro e do Norte do País. O Ferroviário da Beira, como única equipa dos PALOP na Fase de grupos da Liga dos Campeões de África, “filha” legítima de uma terra em que os campos e os camarotes extravasam entusiasmo e festa, contagiando tudo e todos, está dar o mote. Lá ninguém fica indiferente, quando há futebol ou basquetebol competitivo.

Mas abordo este assunto porque é preocupante, pois a falta de qualidade para mover os espectadores aos campos, pode e deve ser alterada com a nossa participação e presença e não com um mero virar as costas.  E como entender os quês e porquês de um Girabola, que custa milhões, ser vivido e sentido por velhos e novos em Angola, quando a Selecção vem cá exibir um nível claramente inferior ao nosso?

Então, a baixa qualidade não explica tudo. Ela também está sendo vitimada pela baixa auto-estima que se apoderou de nós e em que o “Made in Mozambique” (nunca entendi o porquê desta sigla estar em inglês), representa, à partida, falta de qualidade.

Claro que a paixão não deve vir por decreto. Com as novas realidades no Mundo, o desporto têm que ser gerido e dirigido por métodos modernos e competentes, mas a paixão continua a ser importante.

É lindo – para eles, triste para nós – quando vemos de Portugal, antigos dirigentes do FC do Porto, Benfica, Sporting ou outros, a cederem os seus postos aos mais novos, mas nunca o privilégio de continuarem incondicionais adeptos de uma causa que só desaparece com o fim da vida.

Porque tudo é diferente entre nós? Explique-me quem souber!

 

 

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