Xi-cau Cau
Desempenhos dentro de uma bitola bastante aceitável nesta fase do campeonato, pontos perdidos devido a remates a poucos centímetros do poste, "devoluções" da trave, enfim, imprevisibilidades que fazem do futebol o desporto-rei, é o que tem acontecido a Arnaldo Salvado no Ferroviário de Nampula, claramente uma turma para ambicionar os primeiros postos do actual Moçambola, apesar de só ter amealhado 2 pontos em 3 jogos.
Estamos a falar do técnico com mais títulos na história do nosso futebol pós-Independência, alguém que deixou para trás uma carreira de Engenharia Civil por amor ao desporto, que "bebeu", pacientemente, das experiências como adjunto de Rui Caçador e Bondarenko, que muito deu, por vezes graciosamente da sua capacidade à Selecção Nacional. Em suma, um conhecedor e estudioso do futebol e que, à semelhança de Martinho de Almeida, só admira que ainda não tenham sido lembrados para justas homenagens.
Tenho que referir que por ele nutro muita admiração, apesar de já termos tido divergências por diferenças de opinião, com cada um a defender os sectores que escolheu para ajudar a avançar a "dama" que a ambos apaixona: o desporto! Ele, pugnando pelas equipas ou selecções que treinou e eu na minha trincheira de há 50 anos: o jornalismo. Tudo dentro das regras do respeito, decência e boa educação.
Arnaldo Salvado é um homem temperamental. Sempre igual a si próprio, ele "não leva o desaforo para casa". Mas é amigo do seu amigo, da verdade e da lealdade. Do seu bolso, já apoiou atletas, aconselhou-os a não perderem o foco da formação como homens, pensando no pós-futebol. Porém, muito da sua tolerância, param à porta das quatro linhas, onde é exigente q. b.
Recordo que há uns anos, abandonou um lucrativo projecto à frente de uma equipa sul-africana, por são ser compatível com a sua maneira de ser. O mercantilismo que encontrou obrigar-lhe-ia a ter que obedecer às ordens do Presidente do clube, quanto aos jogadores a escalar para cada partida, de forma a serem posteriormente vendidos.
Estudioso do fenómeno desportivo e social, faz questão de conhecer os atletas, os seus temperamentos e capacidades, para deles extrair o máximo em benefício das equipas. Uma das vantagens da experiência que tem, é a de conhecer de uma forma geral as equipas e treinadores adversários, até a sua filosofia, de maneira a tirar benefícios destes trunfos.
Com Salvado, o Costa do Sol colocou na forja, com sucesso, um dos mais arrojados e bem sucedidos projectos do nosso futebol: o do "Pembinha", que gerou, Riquito, Pintainho, Arnaldo e outros, que mais tarde deram títulos ao canário e alegrias ao país através da Selecção Nacional.
Salvado está magoado com alguns adeptos dos locomotivas macuas. E com razão, porque foi atacado nas vertentes em que ele é, na realidade, impoluto: o patriotismo, o anti-racismo e o anti-tribalismo.
É evidente que o que "fala" para os adeptos, são os resultados. Mas terá que haver mais ponderação e serenidade.
Ao abordar este assunto, devo referir que em regra os técnicos do Sul sabem que no Norte do país, o factor tribal funciona segundo os resultados: saudações e abraços quando vencem, rótulos de marronga ou machangana quando perdem.
Independentemente do que venha a acontecer quanto à continuidade de Salvado no Ferroviário de Nampula, pela sua estatura, serviços e lealdade largamente demonstrados, ele não merece, em momento algum, ser "mimoseado" com anti-machanganismos primários.