No povoado de Malova, distrito de Massinga, encontrámos Eduardo Martins que foi uma das primeiras pessoas a chegar, Junho do ano passado, a Inhambane, vindo de Cabo Delgado, distrito de Moeda. Instalou-se em pequenas cabanas em Massinga, com a ajuda de pessoas daquela comunidade.
A zona, onde vivia, não foi atacada, mas fugiu por medo do pior, uma vez que, nos distritos vizinhos, já se ouviam relatos de ataques perpetrados por terroristas. “Eu ouvi do meu filho que estava noutro distrito, ele fugiu para minha casa por causa dos ataques e, também, decidi vir para Inhambane”, contou Eduardo.
Veio para Inhambane em busca de um abrigo seguro. Aliás, Eduardo Martins estivera antes na terra da boa gente, onde lutou na guerra dos 16 anos, mas, depois da guerra, decidiu voltar a Cabo Delgado, sua terra natal.
Conta que nunca perdeu contacto com os seus companheiros e, quando as coisas pioraram por lá, pediu ajuda aos antigos companheiros de trincheira e foi logo aceite. Ele e mais 12 pessoas foram instalar-se em Malova.
A ajuda de que ele precisava era um lugar seguro para morar. Embora tenha encontrado o que procurava, pondera voltar à terra que o viu nascer quando tudo acabar.
Ao contrário do senhor Eduardo, dona Filomena, que vem de Muedumbe, chegou ao distrito de Massinga em Novembro do ano passado, depois da entrada dos terroristas na sua aldeia. “Os terroristas chegaram à nossa aldeia e começaram a disparar por dois dias seguidos”, recordou, com lágrimas, tudo por que passou em Novembro, quando, por dois dias, os homens armados aterrorizavam a zona, saqueando bens e matando gente.
Foram dois dias de ataques, mas o pior ainda estava por vir. A fugir dos terroristas, dona Filomena e a família composta por oito pessoas ficaram 30 dias nas matas, sem nada para comer. Depois, conseguiram fugir, foram parar em Nampula, de lá, apanharam autocarro até Massinga em casa do seu irmão que é, também, um combatente da luta de libertação e que vive lá desde a década 90.
Por causa dos ataques, ela perdeu tudo que construira, mas diz que, se tudo acabar, vai voltar para Muedumbe. “Quando guerra acabar, eu quero voltar para casa, agora tudo que quero é um pedaço de terra para cultivar e produzir minha comida”, disse dona Filomena, lamentando a situação difícil em que se encontra, mas, ainda assim, tentando procurar soluções para alimentar a família.
Ao todo, estão, na província de Inhambane, mais de 60 pessoas que vêm de Cabo Delgado, sendo que 47 das quais estão em Massinga.
As autoridades garantem que as famílias recebem toda assistência necessária desde à sua chegada.
Segundo o Delegado do INGD em Inhambane, Cândido Mapute, as famílias recebem assistência alimentar mensal e quites de abrigo de emergência.
Para resolver a situação em definitivo, Mapute disse ao “O Pais” que está em curso o processo de identificação de espaços e demarcação para a construção de casas para as famílias que vêm de Cabo Delgado.
As 61 pessoas são de 11 famílias que estão nos distritos de Massinga, Inharrime e cidade de Inhambane e as crianças foram integradas nas diversas escolas dos três distritos.