O Chefe do Estado-Maior da Armada de Portugal diz que o desenvolvimento económico de Moçambique estará ligado à navegação marítima, mas, para tal, Gouveia e Melo defendem um investimento na cabotagem. Já o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, diz que o país não vai ficar rico só com a exploração do gás natural.
A capital moçambicana acolheu, terça-feira, a terceira Conferência da Economia do Mar, evento organizado pela Câmara de Comércio Portugal–Moçambique. “É sobre isto que iremos ter a oportunidade de debater com personalidades dos dois países que estão altamente envolvidas e competentes para, decerto, nos trazerem luzes para este magno desafio”, contextualizou Pedro Rebelo de Sousa, presidente do Conselho Geral da Câmara de Comércio Portugal–Moçambique.
O objectivo era encontrar formas de gerar dinheiro a partir da exploração de mares e oceanos, mas sem colocar em causa a sua sustentabilidade.
Nascido em Quelimane, na Zambézia, Henrique Gouveia de Melo mostrou conhecer as águas moçambicanas e apontou formas de como o país pode aproveitar as suas potencialidades para o desenvolvimento económico.
“O desenvolvimento económico de Moçambique estará, assim e na minha visão, intrinsecamente ligado às actividades marítimas e, neste caso concreto, aos portos e caminhos-de-ferro que são os pontos de ligação do transporte marítimo, tanto os de cabotagem que corresponde a uma parte do transporte de carga manuseada nos portos moçambicanos aos internacionais”, indicou Henrique Gouveia e Melo, Chefe do Estado-Maior da Armada de Portugal.
Desenvolvendo a cabotagem marítima nos seus portos, Gouveia e Melo entende que Moçambique poderá envolver a indústria ligada ao mar e outras actividades afins.
“Assim sendo, esta navegação pode constituir um elemento catalisador de uma nova economia do mar que se pode sintetizar nos seguintes factores: primeiro, materializa a via de comunicação e transporte desimpedido; segundo, há uma via mais económica, resultante dos custos reduzidos do transporte marítimo; terceiro, um catalisador da futura economia azul na medida em que cada metical ou dólar investido na capacitação das infra-estruturas ferro-portuárias produz um efeito multiplicador, cuja valorização da respectiva região portuária corresponde sete vezes ao valor investido”, revelou Gouveia e Melo.
Mas não há bela sem senão. A localização geográfica de Moçambique e a sua extensa costa colocam-no vulnerável às invasões externas e às mudanças climáticas.
“Torna-se, assim, necessário, na minha opinião mais uma vez, reforçar a presença naval efectiva na costa, a monitorização de movimentos costeiros suspeitos e a capacidade de garantir eficazmente o apoio logístico. Além disso, Moçambique é, historicamente, o país da África Austral mais afectado por desastres naturais, dos quais se destacam as secas, os ciclones e as cheias”, sugeriu o Chefe do Estado-Maior da Armada de Portugal
O antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, alertou que o gás natural não é o único caminho para o desenvolvimento do país. “Não é o gás que vai fazer desenvolver Moçambique. O gás pode ser para fazer parte daquilo que dissemos depois da independência, que a indústria será um factor dinamizador, um dínamo que faz andar a economia baseada na agricultura”, acautelou Joaquim Chissano, antigo Presidente da República.
Assim, o antigo Chefe do Estado defendeu a necessidade de se investir noutras actividades ligadas ao mar. “O desafio é fazer com que esta indústria do turismo, que compreende terra e mar no nosso país, fauna bravia e fauna marítima seja também parte das prioridades e isso exige a preservação dos ecossistemas”, apontou Joaquim Chissano.
No país, cerca de 43% da população vive no litoral e ocupa 19% do território.