Escreve como quem vive. Por que para viver precisa de escrever. Chama-se Alerto Bia. Escritor e Poeta Moçambicano nascido na Terra de Boa Gente [Inhambane] a 02 de Março. Possui 3 obras literárias. "No vulto perambulante pelas avenidas/ torrentes de água fluem se dispersar/ dentro de mim/ hirto o calor pela ira do patrão".
Como vê o cenário literário em Niassa?
Sob duas perspectivas. Por um lado, o cenário é crítico, pois há escassez de quase tudo, com maior enfoque aos eventos literários que visam a descoberta de novos talentos. Por outro lado, o cenário literário existe, porém abstracto, pois carece de pernas para andar. Há tantos fazedores da literatura, mas nos escombros do silêncio, sem quem os levitar. Todavia, é um campo muito fértil, que num input de oportunidades, pode vir a chegar longe.
O que lhe motiva a escrever, a viver entre letras e a ser escritor e poeta?
Não sei, para ser honesto. Porém, sinto que escrevo como forma de me conversar e me auto-conhecer. Contudo, desconheço o que me impulsiona. Talvez seja o contacto que tive com o papel e caneta desde a tenra idade onde exercitava a escrita com auxílio do meu pai e o contacto que tive com os livros ao longo da minha maturação, tenha sido um vetor decisivo para a minha motivação pela arte de escrever. Ou talvez ainda, eu seja uma ilha habitada pelos espíritos literários, onde, contudo, vergo-me à escrita como única forma que me sinto hábil para exorcismar os espíritos que em mim habitam e alcançar o fascínio da auto-satisfação.
E os teus livros? O que gritam por dentro? Quantas vozes gritam dentro deles?
Escrevo não somente aquilo que sinto, mas o que enxergo também. O “Sonhar é ressuscitar”, minha obra de estreia, serviu-me de proposta literária para me identificar nesta esfera onde a palavra conjuga-se. Nele procurei versar o amor nas suas diversificas formas, pois é pela via do amor que todos procuramos entender o universo, e é pelo amor que nos unimos como seres. Não muito tarde em “sombras cálidas” embarquei numa nova linha de abordagem fazendo denúncia das adversidades que constituem as nossas vivências no quotidiano, tentando levar ao (provável) leitor a sentir, reflectir e mudar (se possível) a consciência em como se concebe as coisas. Contudo, a escrita é sempre prematura, e procuro sempre prender-me em aspectos que nos leve a uma reflexão profunda no que concerne a exaltação da identidade sem, no entanto, dispensar a paisagem que nos rodeia.
Serve ser escritor num país onde não se lê e pouco se escreve?
Sim, a escrita é, desde os primórdios, um meio de comunicação. Porém, perante adversidades que vivenciamos, desde a leitura e escrita escassa, não se pode criar ruptura da escrita, pois este serve de meio para registrar as nossas vivências, e meio de comunicar ao leitor dos vários mundos que se vão construindo como poder da palavra nos livros.
O que sonha ver no nosso país como escritor e docente?
Os sonhos são muita das vezes, senão todas, irreais. Porém não se pode parar se sonhar. Sonho com um país rico de literatura, onde haja maior circulação do livro a preço acessível a quem não tem pão na mesa, por exemplo. Sonho com um pais onde as editoras e a imprensa no geral busquem acções que visam difundir e internacionalizar a literatura Moçambicana. “A educação é a chave do sucesso”, portanto, sonho com uma educação de qualidade onde os sujeitos desta são impulsionados desde a tenra idade com vista insta-los a registrar as nossas vivências e consequentemente contribuir para a exaltação e prospecção da nossa moçambicanidade, identidade muito nossa.