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Indústrias esperam pela inspecção para analisar seus produtos

A informação foi avançada pela directora do Laboratório Nacional de Higiene e Alimentos, Nivalda Bomba, em entrevista à nossa reportagem a propósito do surto de listeriose na vizinha África do Sul. Acompanhe a seguir os trechos mais relevantes.

Quais são os desafios na área de análises laboratoriais de produtos do mercado formal e informal?

A actividade de análise dos produtos é um desafio muito grande porque, além do mercado formal, temos o sector informal, tal como referiu. Se olharmos, primeiro, para o sector formal, vamos aperceber-nos que temos vários estabelecimentos, tais como: mercearias, supermercados, restaurantes, hotéis e muitos outros que vendem comida crua ou confecionada. Eles, em princípio, já sabem que devem solicitar uma análise de laboratório para fazer o controlo periódico dos seus produtos. Se esses estabelecimentos não vêm até nós, temos o sector de fiscalização e vigilância sanitária, temos a Inspecção Nacional de Actividades Económicas e temos os centros de higiene ambiental que actuam em estabelecimentos de pequena dimensão. E durante a fiscalização e a inspecção são colhidas amostras dos produtos em situação irregular para análises laboratoriais. Portanto, tanto o proprietário do estabelecimento pode vir voluntariamente até nós para analisar os seus produtos ou chegarão até nós por via da inspecção. É mais difícil trabalhar com o mercado informal, porque não está organizado. Então esse é um desafio muito grande, mas vamos tentando fazer o que se pode.

E o laboratório consegue atender à demanda?

Nós temos muitos estabelecimentos, e num ano não conseguimos visitar a todos. Embora tenhamos delegações espalhadas pelo país.

E como é a vossa relação com os proprietários dos estabelecimentos?

Os técnicos de laboratório não saem daqui para colher amostras, porque pode haver conflito de interesse. Ou seja, na nossa área analítica pode haver corrupção. Aliás, mesmo com os clientes trazendo as suas amostras para cá, quando eles chegam à recepção são colocadas etiquetas. Dessa forma, o técnico de laboratório não sabe se se trata de fulano ou sicrano e faz trabalho com isenção. Nós fazemos de tudo para que não haja nenhum risco de se adulterar o resultado. Por isso, trabalhamos em coordenação com esse grupo de inspectores, eles é que vão ao terreno e recolhem as amostras.

E como o público em geral deve proceder ao identificar um produto que não esteja em boas condições?

As pessoas também podem submeter as suas amostras. Além disso, elas podem denunciar. Elas não precisam esperar pelos inspectores. E temos recebidos várias denúncias e com base nelas faz-se a recolha dos produtos e a sua posterior avaliação.

Qual é o trabalho que está a ser desenvolvido pelo laboratório face ao risco de possíveis casos de listeriose no país?

Primeiro, é preciso dizer que o risco de surgimento de casos de listeriose é muito reduzido, uma vez que o Governo já tomou a medida de cativar todos produtos suspeitos. Mas caso se tome a decisão de analisar amostras do produto apreendido, será necessário mandar para o laboratório da África do Sul. Neste momento, nós não fazemos a análise da listéria. Não porque seja difícil, mas porque teríamos de pesquisar primeiro qual é o método de análise e comprar os respectivos reagentes e meios de culturas para essas análises.

Como avalia a adesão das indústrias, empresas e comerciantes que lidam com águas e alimentos aos serviços prestados pelo laboratório?

Embora já tenhamos um número considerável de empresas que sabe da sua responsabilidade de submeter os produtos para análises, a maior parte delas só o faz após a visita da inspecção. O ideal seria que as indústrias, empresas e comerciantes procurassem pelos nossos serviços de forma rotineira. Afinal nós servimos de termómetro para avaliar a qualidade dos produtos que eles estão a colocar no mercado. E, no final do dia, o que todos queremos é que a população consuma produtos de qualidade e que não criam danos à saúde.

 

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