Com um painel constituído por quatro figuras ligadas ao futebol, a derrota dos “mambas” e consequente eliminação na corrida ao CHAN-18 foi analisada ao pormenor. Abel Xavier, o seleccionador nacional, esteve entre os presentes e afirmou que em momentos como este, em que se perde e aparece o desapego dos adeptos, é importante que a figura do líder esteja presente de modo a acalmar os ânimos. Xavier explicou a derrota de Moçambique como tendo sido a consequência do excesso de ansiedade demonstrada pelos jogadores em Maputo. Segundo ele, aqueles acusaram alguma pressão externa, aliás uma grande maioria nunca tinha jogado num Estádio Nacional do Zimpeto (ENZ) lotado e perante pressão dos adeptos, midia e outros actores. Com o jogo empatado em Antananarivo, pensava-se ter meio caminho andado para a transição à fase seguinte, daí que a aposta foi num jogo em que o meio campo foi bem povoado e onde as transições ofensivas pelas alas fariam o jogo de Moçambique mais forte.
Falha de Victor determinante
Abel Xavier confessou, durante o programa Ao Ataque, que a reacção malgaxe nos primeiros vinte minutos de jogo obrigou a repensar a sua estratégia, uma vez que os insulares trouxeram um futebol mais agrupado baseado na exploração das capacidades técnicas das suas principais unidades. Assumiu ainda que o momento do jogo, e que acabaria por determinar o curso de todos acontecimentos, foi aquele em que Victor falha o passe e permite a intervenção de um contrário e que resulta em golo. Abel Xavier discutiu, entretanto, que como grupo não é sua filosofia penalizar “o jogador”, afirmando que neste tipo de situações todos assumem as responsabilidades, assim como em caso de vitórias todos partilham a alegria. Xavier fez questão de lembrar que este mesmo jogador fez defesas de grande mérito em Lusaka, Zâmbia, na vitória de 1-0, e que não será o infortúnio no Zimpeto, algo atípico, que vai tirar todo mérito do guardião Victor.
Comentadores surpreendidos
Renato Caldeira, comentador residente do programa, disse ter ficado surpreendido pela forma apática com que a selecção encarou o jogo, aliás o decano jornalista desportivo disse repetidamente que aos “mambas” faltou raiva em vários momentos, e que não souberam reagir a pressão imposta pelos malgaxes, tão pouco demonstraram espírito combativo. Para Caldeira, depois de ter sofrido o primeiro golo, a selecção deveria ter jogado o tudo ou nada, lutando para se refazer do prejuízo, mas tal não se verificou. Na sua análise ao jogo, o comentador disse ainda que o futebol apresentado pelo combinado nacional espelha a qualidade do campeonato interno, o “Moçambola”, onde as equipas demonstram fraco nível competitivo.
Por sua vez, Jorge Fernandes, “Jójó”, ex-jogador da selecção nacional, e que participou em várias campanhas com os “mambas” sendo uma das de maior destaque a presença no CAN realizado no Bourkina Faso, e que jogou no Espinho de Portugal, Belenenses, antes de passar por Suíça e Estados Unidos e se radicar na como desportista na Austrália, viu o jogo e fez suas análises. Jójó, considera que a selecção moçambicana jogou bem, pese embora a ansiedade, pressão e inexperiência demonstrada ao jogar perante um público daquela natureza. Para o ex-craque, a selecção malgaxe não fez nada de extraordinário no ENZ para conseguir a transição à fase seguinte. Para o ex-mamba, Madagáscar foi uma equipa fria que aproveitou bem os momentos e os erros de Moçambique para “matar” o jogo. Jójó disse ainda, durante o programa “Ao Ataque”, ser importante dar apoio contínuo ao trabalho que está a ser desenvolvido por Abel Xavier, recordando que estes mesmos “mambas” recentemente venceram a Zâmbia, facto que não deve ser considerado fruto do acaso.
O comentador residente, Elvino “Vino”, também ex-jogador dos Mambas e do Ferroviário de Maputo, destacou, na sua análise, alguma apatia dos seleccionados de Abel Xavier em algumas fases do jogo. Porém, de longe se deve responsabilizar o seleccionador pelo desaire. Vino explica a derrota e fala em situações anormais, como a que ditou o primeiro golo, no qual Victor é mal batido. Para o “ex-mamba”, o Madagáscar foi astuto, soube ler o jogo de Moçambique e explorar bem cada oportunidade. Os visitantes foram para si uma equipa bem esclarecida durante algumas fases do jogo e isso confundiu os nossos atletas.
FILOSOFIA DE FORMAÇÃO DE ABEL XAVIER
Os convidados ao programa foram unânimes em afirmar que a formação nas camadas de base é determinante, para que se consigam sucessos nas selecções principais. Abel Xavier falou da transmissão de metodologias aos treinadores das selecções de base, de modo que assim que quando os jogadores dos sub-17 e sub-21 chegarem a equipa principal, estejam com os princípios harmonizados. Xavier explica que esta filosofia é usada em vários países cujos resultados são notáveis. As selecções devem ter um único “fio de jogo” que é instituído desde cedo. Entretanto, não deixa de lado o desejo de ver o país dispor de uma academia de formação ou centro de estágio integrado para os atletas, lugar onde estes podiam ficar aglutinados pelo menos três meses, visando obter resultados desportivos bem melhores.