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Denunciada suposta vala comum na Katembe 

Trabalhadores do cemitério Chali, em KaTembe, denunciam uma suposta vala comum e péssimas condições de trabalho. A denúncia é feita através de um vídeo que circula nas redes sociais. A situação preocupa os moradores.

A denúncia é feita através de um vídeo amador que circula nas redes sociais e que mostra muitos sacos de objectos hospitalares, um deles contendo a perna de uma pessoa morta, sendo mostrados por dois funcionários do cemitério. “Só para você ter noção do que está a acontecer aqui, no terreno, as coisas todas estão aqui”, dizia um dos funcionários do cemitério, no referido vídeo amador.

Além de estranhar os supostos corpos, os trabalhadores falam de péssimas condições de trabalho. A indignação é também dos moradores do quarteirão 10, nas imediações do cemitério Chali, no bairro com o mesmo nome, na KaTembe.

“O que nós estamos a chorar é por causa dessas pessoas que estão aqui, enterradas de qualquer maneira e que provocam um cheiro nauseabundo aqui. Não sabemos se amanhã vamos tomar chá no quintal ou termos o almoço à vontade, ou se a noite vamos dormir em paz”, disse um residente do bairro Chali.

Uma residente do mesmo bairro, também falando em anonimato, disse que tudo aconteceu na sexta-feira e “eu só vi meus vizinhos a dizerem que no cemitério deitaram coisas estranhas, vamos lá ver. Quando chegámos lá, acabavam de enterrar, mas só tentaram fechar um pouco, e aquele coveiro disse que eram cerca de 60 plásticos”.

Também em anonimato, outra cidadã conta a sua versão dos factos. “Meus irmãos estavam a brincar, estavam no muro do cemitério, porque eles gostam de brincar ali em cima. Depois viram uma ambulância chegar ali. Começou a retirar os corpos, muitos corpos nos plásticos, transparentes, pretos, rosa. Deitaram ali mesmo. Depois, meu irmão ficou assustado. Chegou à casa e disse-me o que estava a acontecer. Eu saí, chamei minhas tias, chamámos os vizinhos, fomos lá espreitar o que eles estavam a ver. De facto, aquelas crianças que foram enterradas ali, quase nem foram enterradas, colocaram num plástico, depois começaram a tapar com areia, e depois chamámos o chefe de quarteirão”, contou.

Entre as denúncias está também uma suposta perseguição por parte da polícia aos moradores responsáveis pela gravação dos vídeos que circulam nas redes sociais. Duas moradoras denunciaram perseguições e ameaças de agentes do SERNIC.

“Depois da situação que houve aqui, no cemitério, no mesmo dia, um agente do SERNIC chamou-me, puxou-me para o lado, disse que era para eu entregar o vídeo que tenho, senão me mataria. Disse que o SERNIC não leva tempo para matar. Eu disse que não tinha nenhum vídeo, e, de facto, eu não tinha nenhum vídeo. Apenas vi o vídeo aqui, assisti, porque o meu telefone não tinha carga. Daí fiquei, voltei para casa, e tive medo, porque ele me ameaçou de morte. Saí, fugi, fui-me esconder com as minhas irmãs na cidade”, contou.

Contactada pela equipa do “O País”, a Direcção de Saúde da KaTembe rebate a reclamação dos moradores e diz que não se trata de restos mortais, tal como disse Francisco Mucavel, director distrital de Saúde da KaTembe.

“Não se trata de restos mortais, mas sim de placentas, placentas que são membranas que ligam o bebê à mulher durante a gravidez e após o parto, esta mesma membrana expulsa e necessita de algum tratamento especial. Tratando-se de material biológico com potencial contagioso, não pode ser depositado em contentores de lixo comum. E o lugar mais indicado para o tratamento deste tipo de material geralmente são os cemitérios. Olhando também para o perfil das unidades sanitárias do Distrito de KaTembe, que não tem capacidade cirúrgica, não é possível produzir lixo anatómico como, por exemplo, membros como perna, braços, entre outros, mas sim placentas. Importa também salientar que o distrito da KaTembe tem duas maternidades que concorrem para a produção deste tipo de material”, revelou Francisco Mucavel.

Até à saída da nossa equipa de reportagem do local, o cemitério de Chali estava com os portões fechados.

 

 

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