O País – A verdade como notícia

Decisores devem ser mais proactivos na disponibilização de informação tecnológica

Fotos: O País

Os especialistas agrários que participaram, hoje, na feira de agro-negócios Mozgrow, na Cidade de Maputo, consideraram que a grande fonte de apropriação de riqueza no sector da agro-pecuária é o acesso à tecnologia. Por isso, segundo entendem, os tomadores de decisão devem ser mais proactivos na busca e na disponibilização de informação tecnológica.

A Arena 3D, na KaTembe, Cidade de Maputo, foi, pelo segundo dia consecutivo, palco de uma série de reflexão sobre temas importantes para o desenvolvimento social e económico, a nível nacional. Na manhã do dia de encerramento da feira de agro-negócios Mozgrow, o tema proposto ao debate foi precisamente “Inovação e transferência de tecnologia na agro-pecuária”. Nesse painel, fizeram parte quatro especialistas do sector, nomeadamente, António Magaia, representante comercial da Syngenta em Moçambique; Joaquim Milagre Cuna, director nacional dos Agentes de Desenvolvimento de Agro-negócios – IDE Moçambique; Daniel Bolla, director da Olga Rural; e Fungayi Simbi, engenheiro agrónomo sul-africano.

O primeiro a intervir na sessão muito concorrida e comentada foi António Magaia, para quem o desenvolvimento do sector agro-pecuário depende, essencialmente, da proactividade dos decisores e do acesso eficiente à informação tecnológica. “Precisamos de ser proactivos nesta procura de informação, por parte dos tomadores de decisão. Nós, empresas, temos informação e conhecimento. Mas, como foi dito ontem, estamos aqui para fazer dinheiro. Nós precisamos de investir onde temos retorno do investimento que fazemos”.

Para os oradores da Mozgrow, Moçambique precisa de investir na procura e disponibilização da informação relevante para o sector agro-pecuário, porque o mundo está em constante actualização de conhecimentos inerentes à produção. Não sendo Moçambique um caso à parte, a ciência deve ser usada a favor dos produtores.

Esta, igualmente, foi a abordagem de Joaquim Cuna, que, concordando com Magaia, acrescentou o seguinte: “Há alguns anos, a principal fonte de apropriação de riqueza nas zonas rurais era a terra. As pessoas esmeravam-se para adquirir grandes extensões de terra. Hoje, a fonte de apropriação de riqueza é conhecimento e tecnologia. Independentemente de ser pequeno, médio ou grande, tem que ter acesso às tecnologias”. Logo, actualmente, muitas vezes, pouco importa o tamanho da propriedade do produtor. O conhecimento e a capacidade de utilização ou reutilização do espaço revela-se crucial para a produtividade no sector agro-pecuário.

Considerando “tecnologia” uma palavra-chave no debate da manhã desta quinta-feira, Daniel Bolla explicou o que isso significa: “Quando falamos de tecnologias para o sector agro-pecuário, devemos considerar dois aspectos: uma coisa são tecnologias de insumos e a outra são tecnologias de processos. É um erro querer entrar nas tecnologias de insumos enquanto as de processos ainda não estão bem tomadas”.

Para Bolla, criar bases de conhecimento e produtividade é indispensável. Por isso, no capítulo das transferências de tecnologias, deve-se considerar a parte que transfere conhecimento e a que recebe. “Se a parte que recebe está fechada, podemos dar tudo, mas não irá captar nada. Ou por outra, se a parte que recebe está aberta, mas a pessoa que está a trazer a tecnologia não entende do contexto de produção ou quem está a produzir, de nada valerá.”

No debate sobre a “Inovação e transferência de tecnologia na agropecuária”, houve uma contribuição proveniente do engenheiro agrónomo sul-africano Fungayi Simbi. Resumidamente, Fungayi Simbi defendeu a tese de que as tecnologias essenciais para o desenvolvimento do sector existem no país e que as exposições da feira Mozgrow são exemplos disso. “O que eu tenho notado é que, se nós olharmos para o número de empresas que estão a expor aqui (os seus produtos), vemos que a tecnologia está disponível em Moçambique”.

No último dia da feira de agro-negócios, houve muitas contribuições do público. Um dos participantes que contribuiu com ideias foi o empreendedor Rui Gomes, que explora um aviário no distrito de Boane, na Província de Maputo. Entre os problemas apontados, o participante destacou o seguinte: “As tecnologias de que precisamos são financiáveis. Temos é que importar, mas, quando as importamos, temos custos acrescidos”. E deu exemplos, referindo que o país não cria políticas favoráveis para a importação de material que estimule o uso de energias renováveis, como os que são usados para a instalação de painéis solares, com taxas de importação altas.

Do público, houve ainda uma contribuição que mereceu aplausos, a de Michaque Sacanhane. O empreendedor denunciou a falta de comunicação entre as autoridades governamentais e o sector-privado, o que acontece há anos no sector da agro-pecuária. “Não há comunicação entre o sector-privado e os governos. Eles expõem-se como dirigentes, mas não nos dirigem nem nos abraçam. Esta ainda é altura de importarmos da Europa carroças para transportar lixo, num país como este? Mas nós estamos aí com maquinaria”.

A feira de agro-negócios Mozgrow decorreu de quarta à quinta-feira e, nos dois dias de actividade, a Arena 3D, na KaTembe, acolheu o evento.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos