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Da praga de insectos e dos odores nauseabundos pós-carnaval…

Da praga de insectos e dos odores nauseabundos pós-carnaval…

 

Dizem os que sabem que “depois da bonança vem a tempestade”. Ou é ao contrário? Bom, se não for aquele o adágio correcto, reais foram os eventos que se seguiram às efusivas celebrações do carnaval. Os organizadores daquele evento tinham alguma dificuldade em recordar-se do modo cíclico, repetitivo, em que esses mesmos fenómenos que vou relatar se sucediam. Uma das mais graves omissões na estratégia daqueles era disponibilizar locais para o imperativo do alívio das necessidades aos presentes nas festividades. Estas, durante três dias e três noites tiveram como  epicentro, e como já se referu acima, a Avenida de Angola. Aquelas multidões consumiram tudo o que estava em oferta. Empantorraram-se de guloseimas, de mabadjia, amendoim torrado, castanha de cajú, mapfilwa, tintsiva, magumba frita, e  embriagaram-se com as bebidas adquiridas nas cantinas abertas ao longo da estrada. E daí, era ver gente com esgares nos rostos, motivados pelos apertos nos intestinos. As Nas barrigas rugiam explosões, as bexigas quase rebentavam de pressão. Retretes públicas, onde achá-las? As que haviam eram as privadas, as das habitações dos bairros  Indígena e da Mafalafa. Alguns foliões, pelo respeito ao pudor, e não pela saúde pública, aproximavam-se aos proprietários das residências e solicitavam pelo uso das instalações sanitárias. Assim  formavam-se longas filas de gente aflita nos quintais. Outros, que constituíam a maioria, não se detinham a pedir ajuda a ninguém. Encostavam-se aos muros ou às cercas de caniço e aí, sem pudor, aliviavam-se das aflições. Referimo-nos às necessidades menores, porque para as maiores procuravam lugares mais esconsos, pouco frequentados. Aí acocoravam-se e faziam o que tinham a fazer. Ao fim de cada dia era muito complicado percorrer aqueles caminhos, muito menos os becos, sem se correr o risco de pisar aqueles volumosos bolos de excrementos. Dir-se-ia que os terrenos daqueles bairros haviam-se convertido em sentinas colectivas ou em campos de minas anti-pessoais.

Acrescentemos a este evento, a pestilência dos fumos que provinham da incineração dos lixos da Bucaria. Adicionemos também, talvez pior, a parcela dos baldes das residências que extravasavam com o súbito aumento do número de utentes. Os Serviços de Salubridade cumpliciaram para tornar a vida da população num verdadeiro inferno: durante os dias de carnaval não houve recolha dos baldes.

O desastre instalou-se. Nuvens de moscas varejeiras_ que o meu amigo Cleto, cheio de fumaças de intelectual, denominava chrysomya putoria_ invadiram aquelas duas comunidades. Nos seus vôos ofuscavam a luz do sol que teimava em derramar um calor húmido e asfixiante. Os insectos, esverdeados e pesados, zumbiam e pousavam em tudo, sobre as comidas, sobre os lábios das pessoas, sobre tudo, uma autêntica praga que trouxe consigo surtos de diarreias e doutras doenças. Os cheiros nauseabundos eram de cortar o apetite_ referimo-nos ao de boca, porque doutro é tabu mencionar.

Decorreram duas semanas até que as epidemias foram debeladas. A própria natureza encarregou-se de vir ao socorro dos residentes ao enviar aquele vento e aquela chuva redentora que varreu os terrenos e apagou os incêndios da lixeira municipal da Bucaria.

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