Em 2005, Mauro Pinto expôs a individual Portos de convergência, na cidade de Maputo. Quem diria que passariam 15 anos até um dos mais consagrados fotógrafos moçambicanos voltar a expor uma individual no país? Nem o próprio fotógrafo acreditou que tivesse passado tanto tempo, afinal, regularmente, tem levado as suas obras a galerias estrangeiras.
Uma década e meia depois, Mauro Pinto inaugurou, esta quarta-feira, a série fotográfica Dá licença, na Fundação Fernando Leite Couto, na cidade de Maputo. Bem dito, Moçambique é o quarto país que recebe a mostra aberta ao público pela primeira vez em 2012, em Portugal. No mesmo ano, Dá licença viajou ao Brasil. E porque Macau não quis ficar atrás, promoveu a mesma colecção de Mauro Pinto em 2018.
Finalmente, chegou a vez dos moçambicanos residentes no país poderem visitar uma individual muito diferente das várias exposições realizadas no país, em termos de cenário, de luz e ambiente em geral. Mas por que o fotógrafo precisou de oito anos para expor o Dá licença à sua gente? “Queria que fosse apresentada com dignidade e que fosse bem produzida, como foi o caso. Apresentei o projecto à Fundação Fernando Leite Couto, e aceitou apostar neste projecto”. Logo a seguir, o fotógrafo esclareceu, como que a justificar a sua exigência de qualidade, que o fez esperar tanto: “A fotografia não é um mero instrumento, como muitos pensam. A fotografia é das áreas mais completas de todas as áreas que eu conheço”.
Desta vez, a exposição de Mauro Pinto é constituída por oito fotografias, das quais duas inéditas. “Acho que os trabalhos nunca terminam. A serie é a mesma, e não está desligada do que sempre fiz e continuarei a fazer. Estou muito satisfeito”.
Além de Mauro Pinto, a curadoria de Dá licença inclui Yolanda Couto, quem entende que a exposição foi uma grande experiência, em termos de montagem, principalmente. “Foi uma aposta numa iluminação completamente diferente e uma transformação da galeria para receber esta exposição. Foi um trabalho intenso durante duas semanas. Houve dias em que as pessoas tiveram de trabalhar toda a noite”.
Segundo disse Yolanda Couto, o mais complexo foi conseguir o relacionamento da luz interior das imagens com a luz exterior, por causa da maneira como a individual foi colocada na parede. “O casamento tinha de ser perfeito. Quer dizer, não devia haver sombras e a luz da exposição não devia ser excessiva”.
Dá licença é, para Yolanda Couto, uma colecção que transpira o que se sente quando se entra no bairro Mafalala e nas suas casas. Ali está patente o sentimento das pessoas que vivem nas casas. “Mesmo sem gente nas imagens, sentimos as pessoas através dos objectos expostos. Cada casa transpira a personalidade do seu dono”.
A exposição de Mauro Pinto tem um texto de apresentação de Mia Couto, no qual o escritor realça: “Não existe gente mas há uma multidão que vive nestas imagens. Há vultos e vozes dentro e fora da casa de madeira e zinco. E sem que nada nem ninguém se mova, abre-se uma janela quando a luz murmura: dá licença”.