O País – A verdade como notícia

Na próxima quinta-feira, será lançado, pelas 18h, na Fundação Fernando Leite Couto, em Maputo, o livro “Canção de Setembro para Zamuzaria Maria”, da autoria do poeta e declamador Rafael da Câmara, falecido em 2023. 

O livro será formalmente introduzido pelo Professor Albino Macuácua e contará com comentários do escritor e crítico Daúde Amade.

Para a Gala Gala Edições, que edita o livro, “Canção de Setembro” é uma colectânea que abrange a trajectória literária de Rafael da Câmara, reunindo 54 textos em 84 páginas. A maioria dessas composições estabelece um diálogo contínuo com as questões sociais, abordando as aflições e as angústias do quotidiano. 

“Rafael da Câmara revela-se um poeta de versos por vezes melancólicos, porém sempre  críticos e em constante denúncia, expressando um espírito revoltado diante das realidades que o cercam. A sua escrita navega por temas universais e locais, como a vida e a morte, a amizade e o amor, as guerras, a política e os seus intervenientes, a independência, a música, os abusos de poder (legalizados ou não), a infância, a chuva, a nostalgia, o memorialismo, a natureza e a dicotomia entre o campo e a cidade”, pode-se ler na nota de imprensa da editora.

Na percepção de Daúde Amade, adianta a mesma nota de imprensa, “Canção de Setembro para Zamuzaria Maria” é composto, na sua maioria, “de textos de uma poesia narrativizante, onde o tom do canto, a oralidade e os habituais karingana wa karingana andam de mãos dadas nos versos. Esses poemas são, por isso, histórias, como se Da Câmara contasse e cantasse o país a um só tempo”.

De acordo com a mesma fonte, o lançamento de “Canção de Setembro” não se limitará à apresentação da obra, servindo também como um momento de profunda homenagem a Rafael da Câmara, poeta, declamador e um apaixonado pela palavra falada e pelos livros. Na ocasião, os artistas Bakka Yafole, Leo Cote e Feling Capela farão leituras de excertos do livro, oferecendo ao público uma imersão na voz e no universo do autor. O evento é aberto a todos os interessados.

O livro sai pela colecção Biblioteca de poesia Rui de Noronha, da Gala-Gala Edições, tendo sido prefaciado pelo editor Celso Muianga.

Sobre o Autor

Rafael da Câmara nasceu em 1974, na Cidade de Inhambane. Foi um poeta, feminista, professor e antropólogo moçambicano. Tinha uma grande paixão pelas letras, livros e poesia. Publicou os seus textos na revista literária “Xiphefu”, no extinto “Caderno Cultural” do diário “Notícias” e em diversas publicações nacionais. Em 2012, Rafael da Câmara teve uma menção de honra no Concurso Literário TDM, com a proposta poética “Diário de Campo — Inventário para a Construção de uma Canção”. A par de poeta, Rafael da Câmara era um exímio declamador, com constantes presenças nos saraus culturais. Foi dinamizador do “Clube de Leitura de Vilankulo”. Faleceu no dia 24 Abril de 2023, em Vilankulo, com vários livros no prelo, pois sempre acreditou que não estava pronto para sair em livro.

 

Por: Eduardo Quive

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO – divulgou na quarta-feira, 18 de Junho, uma publicação intitulada “A indústria editorial africana: tendências, desafios e oportunidades de crescimento”.
Um documento que se mostra importante para percebermos como vai a vida literária nos 54 países do continente. Uma leitura genérica ao documento e a olhar para Moçambique, faz soar o alerta sobre o que está por ser feito e sobre o  estranho” rumo que a produção de livros que o meu país tomou”.

A começar, o relatório fala da indústria editorial no seu todo, do livro escolar à ficção, leis e políticas culturais para a área do livro, iniciativas de promoção e estímulo ao mercado editorial. A informação foi obtida a partir de fontes governamentais do sector, organizações e através de entrevistas aos que estão envolvidos na indústria. Em Moçambique, não podemos deixar de assinalar a busca de informação que se fez na plataforma cultural independente Catalogus, que tem se dedicado a divulgação de conteúdos sobre eventos e iniciativas literárias em Moçambique.

Segundo os dados recolhidos pela UNESCO em 2023 Moçambique contava com 61 editoras registadas, com 300 títulos publicados, 14 livrarias em funcionamento, 37 bibliotecas públicas e 1.600 empregos gerados pelo sector editorial. Segundo a publicação, há uma livraria por cerca de 900 mil habitantes, numa população total de cerca de 33 milhões.

O relatório alerta para a ausência de políticas públicas que estimulem o crescimento da indústria editorial. No caso de Moçambique, menciona a Política Cultural e a sua Estratégia de Implementação aprovada em 1997, que estabelece os procedimentos básicos para a produção e comercialização de livros em Moçambique. Este instrumento apela à comercialização de livros a preços reduzidos, a fim de permitir um leque mais alargado de leitores e estimular o interesse pela leitura e pela literatura.

Refere-se igualmente à Lei do Mecenato, de 1999 que estabelece os princípios básicos que permitem às pessoas singulares ou coletivas, públicas ou privadas, desenvolver atividades ou apoiar financeira e materialmente atividades no domínio
das artes, da literatura, da ciência, da cultura e da ação social.

Importa referir que estes instrumentos, a Política Cultural, a Lei do Mecenato e ainda a Política Nacional do Livro, esta última aprovada em 2011, não surtem o devido efeito para contribuir para mudança do cenário cultural moçambicano, pois, pese embora a idade da sua aprovação, não estão regulamentos, por forma que o seu peso se consubstancie na prática.

Adicionalmente, os dois primeiros instrumentos genéricos, referem-se ao sector cultural no seu todo, ignorando as especificidades que o sector do livro tem. O mais próximo que se tem de específico para o livro é a Lei n.º 32/2007 (de 2007) que isenta o pagamento de imposto sobre o valor acrescentado (IVA) à importação e exportação de livros. Na verdade, tem sido muito devido a essa lei que se tem observado a uma dinâmica acelerada de edição e publicação de livros em
Moçambique, incluindo o surgimento e sobrevivência de pequenas editoras, que têm sido responsáveis por trazer ao mercado grande parte de obras que hoje circulam no país. É que os custos de impressão de livros em Moçambique são demasiado elevados e levaria a que o “apelo” feito pelo governo através da política cultural de 1997, não fosse tido em conta. Outra verdade é que sequer ocorre às editoras essa lei, já que ela não é seguida de acções concretas que influenciem maior produtividade e baixo custo, seja na produção e também na venda.

Resumindo, sai mais barato imprimir fora do que dentro e é ainda possível imprimir pequenas quantidades, com qualidade gráfica e rapidez. E os dados não enganam.

A pesquisa da UNESCO que provoca esta reflexão indica que em 2023, o valor total das importações no sector editorial, abrangendo livros impressos, brochuras, folhetos e materiais impressos semelhantes, atingiu aproximadamente US$ 31
milhões, dinheiro canalizado para as gráficas de África do Sul, Índia, Portugal, seguidos pela China e Hong Kong.

Se aos escritores, poetas e editores a preocupação centra-se nas questões relativos à publicação e venda de livros, aos leitores o custo e a qualidade, há actores que podem ver nisto outro um sinal de alerta, como fazer com que tanto dinheiro que provém da produção de livros seja canalizado à indústria gráfica nacional?

Outro dado que não deixa de ser intrigante é o facto de o financiamento para a edição de livros, segundo o relatório, vir apenas do Fundo Nacional de Investigação (FNI), com um orçamento estimado em dois milhões de meticais. Ou seja, esses
recursos vão para obras científicas. A ficção essa muitas vezes fica por ser patrocinada por empresas, sendo de destacar, a banca. Do Estado, distante está o tempo do Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural a quem se deve a
publicação de vários autores que são referência na literatura moçambicana. Mas hoje pouco se sabe sobre o papel desta instituição, se tem dinheiro e a quem se destina esse dinheiro. Aliás, o relatório sequer menciona o FUNDAC quando se
refere ao dinheiro que financia a actividade editorial.

Podemos ir mais longe, a partir do momento que foi extinto o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INLD) deixou de haver uma instituição pública dedicada exclusivamente ao livro, pois as atribuições do Instituto Nacional das Indústrias
Culturais (INICC) são generalistas. Por um lado, a tutela ao livro escolar está com o Ministério da Educação (que tem de lidar sempre com as indefinições identitárias, de Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano à altura do relatório, 2023, para Ministério da Educação e Cultura, em 2025), os livros doutras categorias, nomeadamente a ficção, estão incluídos num pacote que se resume só ao registo pela instituição tutelada pelo Ministério da Cultura (outra instituição que varia de tempos em tempos, de Ministério da Cultura e Turismo, em 2023, para Ministério da Educação e Cultura em 2025), através do INICC. Esta instituição pelas suas atribuições e competências, devia ser o braço público que atribui recursos para impulsionar o sector editorial, incluindo o financiamento, como aliás faz com o cinema. O INICC devia ser mais actuante nas propostas de leis de incentivo, bem como captação de recursos para iniciativas de promoção e divulgação da literatura nacional, que neste momento, a acontecer, é de visibilidade nula, até para os que actuam activamente no sector.

Seguindo ainda a linha de instituições que poderiam ser relevantes no sector editorial, está uma AEMO (Associação dos Escritores Moçambicanos) que embora seja mencionada como promotora de eventos (debates, prémios, etc), quanto à
advocacia ou mesmo iniciativas para a melhoria do campo de produção literária não se faz sentir. Mais concretamente, a “pressão” junto do Governo para que a Política Nacional do Livro e outras leis, sejam implementados, a busca de recursos e meios para financiar a actividade literária, seja na componente de escrita ou na publicação, são alguns exemplos. Tudo isto é sobre o trabalho do escritor, que pela sua natureza seria membro da AEMO.

No meio disto tudo, é de notar o trabalho que grupos e instituições independentes tem desenvolvido e que dinamizam a indústria editorial no país. O relatório, no capítulo dedicado as instituições, menciona a Fundação Fernando Leite Couto, a
Associação Moçambicana de Autores (SOMAS), a Federação Moçambicana das Indústrias Culturais e Criativas e a Associação Moçambicana de Médicos, Escritores e Artistas, como organizações que promovem o livro e protegem os direitos do
autor.

Mas maior mérito do cenário dinâmico, ainda que pouco sustentável, que o país vive, está para as pequenas editoras que não sendo capaz de mencionar todas, facilmente se destacam, Fundza, Ethale Publishing, Trinta Zero Nove, Gala-Gala
Edições, Kulera, a editora da Fundação Fernando Leite Couto (que promove um prémio literário para novos autores), a Associação Kulemba (que promove feiras de livros e dois prémios literários importantes, um para livros infanto-juvenis e outro para os melhores livros do ano), a Xitende (que promove festivais literários), a Fundação Carlos Morgado (que através de um prémio literário publica novos autores) e a Catalogus, que além de plataforma de informação, também edita.
Escusado será afirmar o papel importante da Alcance Editores que publica grandes nomes da literatura moçambicana e outras entidades que, não sendo moçambicanas têm contribuído para a literatura nacional, a Escola Portuguesa (com
vários títulos de infanto-juvenis) e o Camões – Centro Cultural Português em Maputo (com residências literárias para escritores moçambicanos).

Após a leitura deste relatório fica patente o desafio que os actores do sector livreiros estão sujeitos em Mocambique, o mesmo país que nos anos 80 publicava livros com tiragens acima de 3000 exemplares (actualmente a média é de 500) e, passados mais de 40 anos, num contexto aparentemente favorável, o Estado demitiu-se das suas funções, citando o escritor Rogério Manjate, qual “Coelho que fugiu da história”.

Por Mauro Brito

É sempre gratificante e igualmente agradável regressar a esta casa, depois de ter através dela, editado dois títulos, um de poesia e outro de conto. O tempo passou demasiado depressa, e num piscar de olhos, estou aqui diante de vocês, para falar-vos desta obra e do seu proponente, o carismático Nelson Lineu, poeta de sorriso fácil, entre os mais chegados conhecido por chorão, com quem, de forma muito despretensiosa, comecei as lides literárias, junto com o Eduardo Quive, Amosse Mucavele, Madeira, Rosa, Amélia Matavel, Álvaro Taruma, Japone Arijuane, Jaime Munguambe, Mickson Zucula, Heráclito Mucache, entre outros. Nesse longínquo ano de 2010, contávamos as moedas e aguçávamos as estratégias de sobrevivência através da palavra, apesar de tudo, preparávamos o melhor mata-bicho de Maputo, salada de tomate companhada de pão assado em lenha, na cozinha do então, Centro de Estudos Brasileiros, actual Instituto Guimarães Rosa, sob a batuta do Professor, jornalista e poeta Calane da Silva, a quem devemos muito, pela nossa trajectória.

Lineu é um autor com quem se lida muito facilmente, logo me dei conta disso quando o conheci. Nunca vi-o ou senti-o azedo nos seus modos para com os outros, fosse quem fosse, sequer nunca precisou de motivos para sorrir e ser feliz, talvez por isso, habituou-nos a uma certa leveza. Essa leveza, seu notável traço, ultrapassa a dimensão no seu labor literário, é também uma leveza na sua expressão e no modo de ser. Lineu, é um poeta que não só escreve mas também vive poesia, na sua plenitude, a sua poesia é fina, refinada, e suave. Basta-lhe um belo poema para que ponha logo com um largo sorriso e lágrimas no canto do olho.

A sua faina iniciou com a publicação, em estreia, de “ Cada Um em Mim ”, género poesia, depois de um hiato publicou “ Asas da Água ”, também no género de poesia, como se estivesse à procura de si, ou de salto magnânimo, à procura de uma certa postura num mundo desequilibrado. Depois seguiu-se o livro de crónicas, “ O Passo Certo no Caminho Errado ”, durante a vigência da COVID 19, livro este, em formato digital, que levantou alguma poeira no tráfego literário nacional, pano para outra veste. “ Sopro ”, seu primeiro livro de contos, que teve carimbo exclusivo da sua Mãe, foi um regresso à sua província, à sua distinta cidade, Quelimane. Nelson Lineu, que segue as pegadas do biólogo e pai da taxonomia Carlos Lineu, traz-nos uma nova forma de olhar o mundo à nossa volta, com possibilidades de podermos encontrar no nosso meio uma forma de viver a infância e a relação com os nossos avós, longe das telas e das artificialidades.

Bom, deixemos de lado a cidade de Quelimane e essa viagem na boleia da bicicleta, pois essa matéria é para outro texto. Hoje, vou levar-vos um pouco para dentro desta estória proposta pelo Lineu e pelo mestre Idasse Malendza. O texto, “ Quem ensinou a avó a contar estórias ”, começa logo com um título ambíguo, dado que o autor não define se trata-se de uma pergunta ou de uma afirmação, essa escolha, estratégica, impele-nos à um determinado sentido, dependendo do timbre e ritmo da nossa leitura. Por um lado, como se revelássemos um segredo, por outro, como se não quiséssemos assumir que sabemos do segredo. A nossa voz tudo dirá, se assim quisermos. A estória, que muito bem conhece os cantos do baú onde esteve a apanhar tempo, visto que, segundo o próprio autor, já tinha a base feita, faltando-lhe a cereja no topo, feito que conseguiu depois de um hiato de 3 anos. Nem o tempo conseguiu desvirtuar as belas imagens sugeridas, tanto pelo autor, assim como, as belíssimas ilustrações do mestre Idasse, que muito bem acompanham. Ou melhor, foi o Lineu quem pegou por empréstimo a paleta do mestre e foi construindo o seu texto com muita suavidade.

Este mesmo texto, representa aos olhos do narrador, uma criança fascinada pela palavra, encantada pelo prazer que a narração transmite, representa um regresso ao lugar seguro, que a infância é, dele e de todos nós. Conforme observa “ (Eliane Debus, 2017, p28) o texto literário, sua feitura por meio da linguagem, carrega consigo uma força humanizadora, considerando que, como observa Cândido, “ satisfazem  necessidades básicas do ser humano, sobretudo através dessa incorporação, que enriquece a nossa percepção e a nossa visão do mundo ”.

Através da voz e dos olhos da Olga, por meio de uma linguagem simples e ritmo suave, vamos sendo guiados por vários momentos de transição, com um desenrolar da estória com muita intensidade e leveza ao mesmo tempo, pode-se destacar alguns, como tais: a morte do avô, o momento de decisão quando a avó decide começar a contar estórias, muito a contra gosto, sob o risco de decepcionar-se e decepcionar os seus netos, como forma também de reconciliar-se com a morte, por outro lado, proporcionar um momento de delícia com os netos.

O que a Olga, exímia narradora desta estória, na primeira pessoa, nos quer ensinar em parte, é que através da partilha genuína e espontânea das palavras, ou mais particularmente do conto, estabelece-se uma relação de proximidade, mais humana e com duração garantida. O acto de contar e ouvir, são muito especiais e essenciais à vida humana, e exigem uma postura diferente.

Outra marca do texto, começa por reflectir sobre o significado de ser avó, que, em parte, deve-se ao facto de, saber traduzir o mundo em forma de narrativa e ensinar a ver e ouvir o mundo envolvente. Esse posicionamento da personagem influencia como a estória é conduzida, sem haver espaço para escolhas, pois o texto inicia já com a trama instalada, colocando-nos também em estado de ansiedade e apreensão, e certa empatia também.

O texto traz à tona os valores humanos como a empatia, que envolve toda a família de forma mútua. Essa relação neta-avó, ultrapassa a co-sanguínea, ao ponto de a neta sentir a dor da avó, conforme atesta o trecho: “ Essa incapacidade roubava-lhe a alegria e sorrriso que a caracterizavam, a ponto de sentir-se um pouco menos avó. Dentre os netos, só eu sentia a sua dor, e não era por eu ser a primeira neta ou por morar com ela e o avô Angorete ”.

Este conto, é sobre sentimentos que despertam em nós ao ler este texto, que causam uma certa comoção, ao tratar com tamanha sensibilidade e cuidado, de temas profundos da humanidade, o porquê da avó não saber contar estórias. É essencialmente uma obra sobre o amor, através do qual possamos restaurar o bom hábito nas famílias, o de encontrar sempre espaço para a convivência e partilha de momentos.

Ao distinguir avô Angorete como melhor narrador que conheceu, a neta, não só redefine essa figura de avô, como humana, sensível, mas também, reconhece o valor simbólico e o significado que tem nas suas vidas, com o devido respeito e consideração, hoje muito atiradas à sarjeta, senão vejamos o que se ouve através das histórias que desfilam pelos canais de televisão. É tão evidente, que a relação até certo ponto, determina a qualidade de sono do personagem, não fosse a narradora ter uma qualidade de sono sujeita ao fecho com chave de ouro, dado pelo avô Angorete.

Quem ensinou a avó a contar estórias não é um livro difícil, basta que nos coloquemos na situação da personagem, pela qual desenvolvemos desde as primeiras linhas uma tamanha simpatia pelo avós, onde a palavra assume um significado de alimento, de guião e ferramenta.

O narrador, como se pode ver, ignora as motivações que levaram a avó a não saber contar estórias, mas diz-nos quando, com o nascimento da neta que mais tarde vai ser peça-chave no desfecho da estória. O momento de contar história, assume um significado muito maior, na medida em que recria-se aí, um momento de afecto, mágico, durante o qual são passados ensinamentos, estreita-se relações e cultiva-se o amor sem medo.

O acto de narrar uma estória é um acto que vai além do momento em si, que impacta directamente o leitor e o ouvinte, como podermos aferir no trecho seguinte “ Naquele momento percebi que, mais do que nós, os netos, a avó sentia a falta das estórias.”

Estamos perante uma narrativa fluida, com recurso a uma certa dose de metalinguagem, sem ser muito complexo. O Lineu, não se desvia em cenários, como quem capricha num enchido pronto a defumar, ele sabe o norte para onde a sua mão deve-se dirigir. O seu foco é o diálogo, sem bengalas, e propositadamente deixa a missão ser encetada por uma menina, que assume um significado de recomeço, de inclusão, numa abordagem completamente oposta aos padrões clássicos, onde a criança não tinha direito a opinião.

O texto já vai longo, e nesse passo, não vai sobrar nada ao leitor, que certamente quererá explorar ao seu belo prazer os contornos desta belíssima estória. Então, termino dizendo que, este livro, mais do que proporcionar uma viagem à minha infância, levou-me a revisitar os deliciosos momentos que passei com os meus avós, em Nampula, espero que para vocês também funcione como uma chave, para abrir novos caminhos, nessa viagem, que a vida é.

Boa viagem!

Por M.P.Bonde

 

Que trégua me aguarda neste universo em declínio; as sombras adulam o escuro, a fome serpenteia o coração das manhãs com o sono vergado ao esquecimento; vamos às urnas com pedras escondidas, em páginas amarelecidas, dentro da algibeira; ou dito de outro modo, estar no cume do poleiro é cartar com púcaros a última réstia de esperança ao porto seguro?

Que projecto nos encanta, desencanta ou descasca um mundo em constante revisionismo; a polarização do debate é nivelado por baixo, qual conversa de comadres, vislumbrando a linha que nos separa da Xefina, na apanha do caniço!

Peço tréguas a este coração sem ritmo! A pulsação do verso adormece nos batimentos de outrora; o amor esfumou-se ladeira abaixo; o brilho dos primórdios da luta se desespera com o fervor do imediatismo; tanta parra e a uva, quase vulva, continua distante!

Desligo-me desta atmosfera quase febril; aporto por instante na ilha estuprada a mais de 50 anos; de mansinho a voz angelical de Yilian Cañizares derrete meu estado lastimável; um regalo este hino a pureza das alma;

Deste lado da barricada, ouve-se, entre os portões da avenida, o chiar da mágoa; e as facas? afiadas no desdém dos lábios secos, o embuste é um rio que salga a memória; não espero nada para além do comodismo!

Como disse o mestre: dedico a você o meu silêncio.

Não fazer nada é uma arte nos dias que correm; Promete-se rios e mundos e a casa vai caindo aos pedaços, com a luz da palavra esventrada no sótão do passado. Vamos as tréguas; beba-se o cálice deste vinho ensanguentado com o dever aquartelado em páginas sem poesia; eleita é a escrita no seu devaneio; órfã de beijos e abraços flutua sobre índico o alfinete da ironia; Quase cinquentenária a literatura orbita no vazio de um país adiado! Que lupa a noite esconde? Neste alguidar de sonhos, a produção literária não é acompanhada pela efervescência de uma agremiação engajada com os seus cultores, uma apatia quase mórbida, um lufa-lufa de tachos entre o passado e o presente.

O que nos aguarda o frenesim do voto no jardim dos escribas? A linha abissal será aberta no fim deste retiro? No soalho deste andar vislumbro a jangada descendo a embocadura do Índico em direcção a parte nenhuma.

Como se cobram as promessas escribas? A união chegou ou vamos empurrar o texto com a barriga?

Este é um tempo de urgências, um tempo sem tempo; a sabor da espera foi aprisionado na borda no níquel que separa a sensatez do desvario; Qual é o papel do escriba em tempo de incertezas? Assobiar para o lado, pendurar a pena ou escavar no vulcão em erupção a essência do seu valor?

Quão ingénuo é o candidato inocente! Quem sabe que o mistério é o maior aliado não se expõe num ninho de vespas.

 

Por Teresa Manjate

 

Geração 8 de Março Memórias marginais é o título de um livro que agrega 54 textos escritos por oitomarcistas de diferentes anos, sob a coordenação de Almiro Lobo e Leandro Paul, igualmente desta geração. Os textos são sobre momentos vividos depois do célebre discurso do 1º Presidente de Moçambique, Samora Moisés Machel proferido, exactamente nesta data.

Uma das características mais salientes da situação actual no nosso País é a falta de quadros. Temos carências de quadros técnicos e científicos nos mais variados níveis e sectores […] estamos conscientes de que, sem quadros de dominar a tecnologia avançada e de abarcar a complexidade do desenvolvimento da sociedade, não é possível construir o Socialismo (Samora Machel, 1977).

Na sequência desta proposição, o discurso estatuiu que a partir daquela data, todos os estudantes que tinham concluído o 5º, 6º e 7º anos, correspondentes aos 9ª, a 10ª e a 11ª classes, actuais, estavam obrigados a interromper a sua formação escolar para fazer parte do “exército” que ia salvar a pátria, no contexto do êxodo maciço dos profissionais públicos portugueses, depois da independência nacional, em 1975. Aconteceu! Todos os estudantes interromperam os seus estudos e rumaram para o Centro 8 de Março para múltiplas “frentes”. São alguns desses actores que agora falam sobre as suas experiências, na primeira pessoa.

Na verdade, o “Chamamento da Pátria” começou antes do dia 8 de Março de 1977. A colectânea conta com textos de alguns desses colegas.

Em 1976, mesmo antes do célebre “Chamamento da Pátria”, a 8 de Março de 1977, enquanto estudava na Escola Secundária Josina Machel, fui umas das pessoas recrutadas para desempenhar cargos prioritários da jovem nação, tendo sido afectada para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, uma instituição nova, repleta de desafios e oportunidades. (Isaura Pinto, p. 29)

Cada um dos textos relata a experiência dos autores, os encontros e desencontros de sonhos; expectativas alcançadas ou goradas; visões partilhadas, adivinhando-se algumas fechadas a 7 chaves. É o nosso livro. O livro possível. O livro real. Faltam as histórias dos colegas que ficaram perdidos ao longo do percurso. Lembro-me do Paulo Nikitimwili, do grupo de 1977, que escrevia história como a da “Isaura” com que todos nos deliciávamos [por onde andará o nosso embrião de contista, novelista ou mesmo romancista?]; ainda o encontrei em Ribáuè, na Escola Secundária da Frelimo, ambos como professores. Andava, em tempos de folga, com calhamaços de papeis debaixo do sovaco, embrenhado, sorumbático, em matas, com ares de escritor. Depois disso, mais nada! Nunca mais tive notícias do nosso colega escritor.

Há tantas, e tantas referências a procurar e a quem pedir registo! Ficam as histórias dos colegas que nos deixaram, com muita saudade como Daniel Neto Bomba Júnior, Amália Paulo, Eusébia Mata, traquinas e rebeldes como eles próprios, nas suas causas, só para mencionar alguns, como exemplo.

Há outras por escrever como de colegas que se notabilizaram ao longo das suas carreiras profissionais, como “embaixadores” da cultura moçambicana, escritores de renome ou pertencentes a altas esferas da administração de instituições nacionais. Vamos ter que receber destes colegas os seus depoimentos. Falta ainda o registo individual ou colectivo dos colegas que pertenceram ao grupo “Rebeldes do Aquário”. As nossas memórias são estas, incompletas, inacabadas e que precisam de ser preenchidas, engordadas com mais episódios, em cruzamento de olhares.

No conjunto dos textos, 54, há marcas de vida de jovens oriundos de todas as províncias do país, inscrevendo ou registando momentos na Centro 8 de Março e fora dele, com vívidas memórias individuai e colectivas.

Lembro-me de ter passado uma noite no quarto, de ter matabichado no refeitório e de ter sido chamada a um encontro com os técnicos (“camaradas”) da Educação que estavam a organizar o Centro e a afectação dos estudantes.

[…] Disseram-me, mais tarde, que fui dada como desaparecida do Centro (“aquela estudante da moto foi-se embora assim mesmo!”) — creio que pensaram que eu não havia aguentado ali ficar nem um dia!

O encontro com a “camarada” Celina Costa foi breve: «Vais dar aulas na Escola Secundária da Frelimo, em Ribáuè» («Ribáuè????» — perguntei-me eu!) «em Nampula» («Ahh! Ribáuè ficava em Nampula!»). (Alexandra Neves)

 

Xoto Kulia: o denominador comum

Há histórias envolventes sobre O xoto kulia e as manhãs intensas. Estas referências são a tónica dominante, pois 90% dos textos fala deste treino político disciplinar (PPD).

O dia-a-dia era regido por rotinas rígidas. Acordávamos cedo, ao som de apitos, pancadas ensurdecedoras nas portas e gritos para que fôssemos rapidamente para o pátio, para o “shot-kolia” [PPD, a Preparação Político-Disciplinar].

Fiz algumas sessões do “shot-kolia”, poucas. Depois, disse ao Zé Tó que não sairia mais do quarto. Pedi-lhe que dissesse que eu estava doente.

[…]

Mas um dia, de repente, um pontapé fez a porta do quarto quase sair dos gonzos. O instrutor entrou de rompante, aos gritos. E…deparou-se com o esqueleto, de bivaque bem colocado, a “sorrir” para ele. O salto de saída do quarto foi maior do que o grito de entrada. Desapareceu dali e nunca mais voltou. (Mário Rassul, p. 48)

De uma forma geral o clima envolto neste treino desde o acordar, a marcha no campo de futebol ou nas avenidas da cidade era visto e sentido como uma agressão aos “bons costumes” das famílias donde vinham os “mancebos”. Não era para vida militar a que estavam convidados/convocados. Os treinos eram uma coisa à parte.

Manhãs corridas. De manhã muito cedo: “shot-kolia”, marcha militar. Voltas ao campo de futebol, tornado campo militar. No início, um pouco assustada com aquilo tudo. É ginástica? Não é ginástica. É treino militar? Não é treino militar. O que é, afinal? É “shot-kolia”. Ponto final. (Teresa Manjate, p. 131)

 

Das refeições

Em 1977, as refeições eram fartas e agradáveis, o que aparentemente não aconteceu nos anos seguintes, o que abespinhou os ânimos e moveu reuniões sérias com a então Ministra da Educação, a Senhora Graça Machel. Tudo apimentado com humor de passados mais de 40 anos!

A experiência do 8 de Março foi dura. No início, parecia uma travessia num deserto sem fim. Lembro-me de um episódio marcante: após a Preparação Político-Disciplinar (PPD), enquanto esperava no pelotão para entrar no refeitório, o cansaço e a fome quase me derrubaram. Vi estrelas – literalmente. Por sorte, alguém me segurou antes que caísse. Foi aí que descobri que pão simples pode ser um manjar e que chá adoçado com doce de ananás não é, afinal, tão mau assim.

Mas, se há algo que esta jornada me deu, foram as amizades. Algumas perduram até hoje, laços que resistiram ao tempo e às adversidades. (Da Silva, p. 145)

A experiência das refeições animou outros episódios com referências de Boane, com várias escalas de humor. João Martins que após a convocação para o exército e ida a Moscovo conta uma dessas experiências:

O cardápio do “Restaurante Boane” era simples. Nas catorze refeições tínhamos um compacto, que só ao provar é que se podia identificar, de tão cozido que estava. Podia ser farinha de milho, arroz ou mesmo massa. Ao fim de alguns dias já conseguíamos distinguir a composição exacta só pelo aspecto. Este compacto vinha acompanhado de peixe que, apesar de não ser carapau, era parecido tanto no aspecto como no tamanho. Cada unidade permitia servir três doses, nomeadamente o “filete” de cima, o “filete” de baixo e o terceiro contemplado tinha o privilégio de poder chupar a cabeça, o rabo e a espinha dorsal que ainda tinha uns vagos “farrapos” de carne. (João Martins, p. 135)

 

Dos debates, medos e lágrimas

Há episódios sobre camiões. Uns que subiram com empurrão dos colegas e que, o descer, se tornou pesadelo (Teresa Manjate, 131); outros caíram do camião e viram estrelas (Irene Mendes, p. 22)

Como era pequena, tinha muita dificuldade em subir aqueles camiões altíssimos. Um dia, caí e bati com a nuca no chão. Foi a primeira vez que vi estrelas; tenho quase a certeza que fiquei um tempinho inconsciente. Quando me ajudaram a levantar, lá entrei, com apoio de colegas, no altíssimo camião militar. (Irene Mendes, p. 22)

Há também relatos de cabelos cortados, rapadinhos, que causam dó, lágrimas e muita solidariedade.

Um dos episódios de que me lembro foi a ordem de “rapadela colectiva” das cabeças masculinas, precisamente quando estreou o filme “Blue Sunshine”, que, com carecas reluzentes, nos havia estimulado o terror.

Fui humilhada em público por ter caracóis que, de tão finos, eu não conseguia – nem tinha a arte – de trançar. E foi dada, em voz de comando, a ordem de os cortar tão rente quanto possível, poupada, mesmo assim, à “lâmina zero”. Pela primeira vez, reagi, entre a raiva e a revolta, e como não me era permitido verbalizar o que me saía da alma, fui arrastada pelas colegas de quarto e vizinhas (Guida, Narri, Raquel, Zulmira) para a camarata, onde desabei em lágrimas e impropérios abafados.

E adormeci ao som do violão do Álvaro Casimiro, que sabia que a música de Chico Buarque era um poderoso calmante – e o único acessível.  (Ana Melo, p. 130)

Houve ainda debates sobre “estudar, produzir, combater”, palavra de ordem na Luta de Libertação Nacional, nas zonas libertadas.  O campo de futebol deveria ou não deveria ser transformado em campo de produção? (Lobo, p.10).

Na verdade, a caminho do lançamento do livro, em Maio de 2025, vi uma horta verdejante no ex-Centro 8 de Março, outra vez Pio X, não no campo de futebol, mas num espaço aberto, bonito e visivelmente produtivo.

Em relação ao nosso livro, só temos que dizer que fizemos a nossa parte, deixamos um legado, uma herança que poderá ser lida hoje e amanhã.

Os organizadores garantem, encorpando as vozes dos co-autores que estas memória podem ser lidas em versões e-book e impressa. Os que quiserem ouvir as nossas histórias podem fazê-lo em qualquer lugar e momento. Tal foi feito a pensar também nos invisuais. Oxalá as próximas iniciativas deste género sejam como esta: iclusiva.

 

A cidade da Beira acolheu a 8ª edição do Festival do Livro Infanto-juvenil da Kulemba, um evento que celebrou a literatura dedicada às crianças e jovens, homenageando, este ano, o renomado escritor moçambicano Alberto da Barca, figura incontornável na produção literária infantil do país.

Durante quatro dias, o festival reuniu escritores e poetas de Moçambique, Brasil e Portugal, entre eles Celso Celestino Cossa e Mauro Brito, em diversos espaços culturais e escolas primárias da cidade, promovendo o gosto pela leitura desde cedo.

Sob o lema “Os continuadores da liberdade”, a programação foi especialmente dedicada à celebração dos 50 anos da independência nacional, através de debates, oficinas, leituras encenadas e atividades com crianças.

O Presidente do Conselho Municipal da Beira destacou a importância do livro infanto-juvenil como uma ferramenta poderosa na formação de valores e na prevenção de futuras crises sociais.

O Festival do Livro Infanto-juvenil da Kulemba volta a afirmar-se como uma plataforma essencial para a valorização da literatura moçambicana e o incentivo ao hábito de leitura entre os mais jovens.

A banda de funk moçambicana, sediada nos Estados Unidos, Kina Zoré, apresenta-se, pela primeira vez, nos palcos africanos para celebrar a cultura moçambicana. A digressão africana da banda Kina Zoré, em solos africanos, será de 9 de Julho a 26 de Julho.

Trata-se de uma digressão que devia ter acontecido em 2020, mas tudo ficou cancelado devido à COVID-19. E, agora, sem máscaras e sem nada fechado, Kina Zoré quer colorir e fazer vibrar os seus admiradores e público em geral.

Segundo uma nota de imprensa, cada espectáculo da banda tem sido, sempre, uma viagem cultural que une povos, retratos de tempos e memórias. Tchova Nyolo (nunca desista), também nome do álbum do colectivo, é como a banda baptizou a digressão que começa na Luxy Garden, em Eswatini.

No dia 12 de Julho, a banda arruma os seus instrumentos para se apresentar no prestigiado Niki’s Oasis Restaurant and Jazz Bar, na cidade de Joanesburgo, África do Sul. E já na sexta-feira, dia 18 de Julho, Kina Zoré vai fazer vibrar a cidade de Maputo no palco Coconuts Live.

O produtor e apresentador norte-americano, Bob Boilen, sobre uma das músicas da banda, “COVID-19”, disse “há pessoas a lidar com coisas intensas… e Kina Zoré colocou tudo isso na mensagem desta música. É tão leve, é realmente bonita. Uma das belezas da música é como se pode transformar um assunto pesado numa peça leve e, na verdade, torná-la mais comovente”.

Kina Zoré é um agrupamento que toma o mundo como o seu principal palco. Com a canção “Va Gumulelana (eles estão a lutar)” venceu o Grande Prémio do Concurso de Composição John Lennon. A banda já partilhou palcos com Angelique Kidjo, Skatalites, Red Baraat, Zap Mama, Debo Band, Sierra Leone Refugee All-Stars e Jazzmeia Horn.

Sobre Kina Zoré

Trombetas triunfantes, vocais e polirritmias vibrantes fazem de Kina Zoré uma força de beleza hipnótica. Liderada pelo premiado compositor moçambicano Hélder Tsinine, a banda domina a pista de dança com ritmos africanos, mais electrizantes, que ecoam da cidade natal de Hélder, Maputo. Kina Zoré atraiu a atenção internacional, incluindo participações no NPR Tiny Desk e no Christian Science Monitor. Com os fãs a encher as pistas de dança, não é surpresa que o próprio nome “Kina Zoré” seja um apelo à dança.

Um grupo de profissionais de media de África, Ásia, América Latina e do Oriente Médio participa numa viagem imersiva a Xinjiang, na China. A iniciativa designada “China Up Close” ou “China de perto”, em português, promete revelar de perto as transformações de uma das regiões mais emblemáticas do país.

Com música, cores, aromas e sabores, a cidade de Xinjiang recebeu jornalistas de quatro cantos do mundo para mais uma edição do “China Close Up”. O evento é basicamente uma viagem de campo, que permite uma visão profunda da riqueza cultural e histórica da cidade maioritariamente muçulmana, que fica a quatro horas de voo da capital chinesa, Pequim.

A viagem imersiva começou, de facto, no sábado. O grupo selecto de profissionais teve, neste dia, um encontro, diga-se, com a música tradicional chinesa, com os aromas e sabores da região, ao visitar o Grande Bazar de Xinjiang, o maior mercado da cidade, onde também habita o maior edifício da região. O mercado oferece aos mais de um milhão de visitantes anuais um pouco de tudo, desde vestuário até gastronomia, artesanato, entre outros.

No domingo, antes de o sol nascer em Moçambique, que tem uma diferença de 6 horas com a China, o grupo já estava em mais uma actividade do itinerário, que no total compreende a visita a cinco cidades chinesas.

De 15 a 22 de Junho, ou seja, durante sete dias, os jornalistas serão guiados pelos ventos da história. O roteiro não é só uma viagem, é uma travessia por séculos de cultura viva, em que o passado e o presente se encontram.

De Turpan a Hami, o grupo conhece aldeias tradicionais que ainda respiram os seus costumes, visita hospitais e centros religiosos que misturam fé e ciência e museus que guardam memórias milenares, como as Cavernas dos Mil Buda.

Para os participantes, a imersão, que junta jornalistas de televisão, rádio, imprensa escrita e media sociais, serve ainda para trocar experiências sobre as características, desafios e oportunidades das suas profissões em seus respectivos países.

A poetisa, escritora e activista social moçambicana Énia Lipanga é a representante de Moçambique na Conferência Internacional sobre Indústrias Culturais e Criativas Inclusivas, nas Ilhas Maurícias. O encontro vai reunir representantes de indústrias culturais e criativas para promover a igualdade de género e prevenir as violências no sector cultural e artístico.  

A conferência, organizada pela Comissão do Oceano Índico com o apoio da Agência Francesa de Desenvolvimento, reúne representantes das Indústrias Culturais e Criativas de seis países da região: Comores, Madagáscar, Maurícias, Moçambique, Reunião e Seicheles.

Énia Lipanga, conhecida pelo seu activismo social na defesa dos direitos humanos, inclusão da pessoa com deficiência e pelo uso da arte como ferramenta de transformação social, participa como oradora e convidada especial nas mesas redondas e actividades culturais do evento.

Durante a conferência, são discutidos temas-chave como: a compreensão aprofundada da violência sexual e de género nas ICC; a valorização de boas práticas e desconstrução de estereótipos; a criação de recomendações operacionais para ambientes culturais seguros e equitativos; a disseminação de ferramentas produzidas, como diagnósticos regionais e cursos online (MOOCs), junto aos profissionais, instituições e meios académicos.

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