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O académico Filimone Meigos defende a necessidade de estudar o conteúdo das músicas do rapper Azagaia, a olhar para a capacidade do músico de abordar assuntos de cidadania, governação e neocolonialismo. As letras do rapper levam a uma reflexão crítica sobre a realidade sociopolítica e económica do país. 

Ainda em vida, a crítica social em Azagaia, já despertava apetite da academia, no país e na diáspora. Com a sua morte, ganha ênfase a ideia de estudar as obras do renomado rapper moçambicano.

O académico Filimone Meigos é dos defensores da necessidade de estudar o conteúdo das músicas de Azagaia, a olhar para a capacidade do músico de abordar assuntos de cidadania, governação e neocolonialismo com recursos a figura mítica, de Samora Machel, para uma reflexão crítica sobre a realidade sociopolítica e económica do país.

Meigos explica que “Azagaia nasceu dois anos antes de Samora Machel falecer, e ele vai pegar nessa figura mítica para falar da precariedade e da incapacidade de gerir toda essa condição colonial que de alguma maneira perpassa os tempos e hoje convivemos com ela”.

Meigos encontra, nos títulos dos álbuns Cubaliwa, As mentiras da verdade e Babalaze, um chamamento para estudar, em conteúdo e forma, as obras. “Se compararmos com outras formas de música, mais de diálogo, mais polifónico e com diferentes instrumentos, podemos dizer que Azagaia tem, na música, dois tempos, dois acordes, cujo conteúdo supera essa pobreza de polirritmia, mas, de certa maneira, ele conseguiu ser contundente e apelar à cidadania.”

O rapper perdeu a vida aos 38 anos de idade, o que para muitos é entendido como morte precoce e, o académico vai ao encontro desse pensamento para argumentar que o artista conseguiu ser atrevido e corajoso para a idade que tinha, ao pegar “toda a problemática e criticar um certo modelo socioeconómico e político vigente que ele aflora e muito bem. Quando ele pega esse discurso que a gente da faixa dele e gente até da minha faixa que vivenciou o tempo de Samora Machel vai entender isso como o repescar de uma realidade que combate à corrupção, à precariedade e que apela para a solidariedade social e para a cidadania, no sentido de agir para melhorar a pátria.”

Aliás, o académico, que falava no programa Noite Informativa, da Stv, considera que o rapper não é o único que merece ser estudado pela academia, entretanto reconhece haver um motivo adicional para a força de Azagaia, em alusão à narrativa sobre as coisas do dia-a-dia que apoquentam os moçambicanos.

É necessário “contextualizar o rapper Azagaia e compreendê-lo no contexto em que ele está inserido. A mim como interessado nas sociologias da arte, interessar-me-ia olhar para o discurso de Azagaia e criar índices, de áreas como economia e política. E isto pode fazer-se com vários artistas, a diferença de Azagaia é que ele foi assertivo ao buscar uma sombra, que é Samora Machel.

 

SEGUIDORES E ACTIVISTAS ANGOLANOS HOMENAGEIAM AZAGAIA

Seguidores e activistas sociais angolanos juntaram-se, na noite de sábado, para uma vigília em homenagem a Azagaia. Os actores consideram o rapper moçambicano uma figura que transcende as fronteiras moçambicanas e prometem continuar com a sua luta.

Calou-se a voz, mas a luta pelos direitos humanos que caracteriza Azagaia continua a ser replicada pela legião de fãs, em Moçambique e em vários pontos onde a sua mensagem encontrou terreno fértil para soar. Em Angola, Azagaia é lembrado e cantado.

Aliás, a cidade de Luanda foi palco da manifestação de uma dor ainda fresca do desaparecimento físico do ícone moçambicano, cuja trajectória artística é por muitos entendida como de coragem e defesa dos interesses do povo.

Em várias províncias, admiradores e activistas também se juntaram, na noite de sábado, para homenagear Edson da Luz.

Azagaia cantou sobre democracia, liberdades e conquistou admiração de vários povos falantes da língua portuguesa, e não só, daí que o descrevem como artista de várias nacionalidades.

O músico perdeu a vida na última quinta-feira, na sua residência, Província de Maputo.

As reacções sobre a morte de Azagaia continuam a vir de vários sectores sociais. Este sábado, o Presidente do MDM, Lutero Simango, disse que Azagaia despertou os moçambicanos para se comprometerem com o desenvolvimento do país. Já para o Secretário da UNITA, na capital angolana Luanda, a morte do rapper representa um retrocesso para as lutas de emancipação da consciência da juventude africana.

Lutero Simango começou por transmitir à família de Azagaia as sentidas condolências, reconhecendo em Azagaia as suas qualidades criativas na mobilização da consciência de todos, em particular da juventude, para que cada um tenha responsabilidades no desenvolvimento do país. “Azagaia, através das suas músicas, não só nos mobilizava, também nos libertava as almas e obrigava-nos várias vezes a repensar nas nossas responsabilidades, com o único objectivo de garantir o bem-estar do nosso povo”.

Assim sendo, para Lutero Simango, a perda de Azagaia não foi apenas para a sua família, foi para todos. “Em particular, para o nosso partido, MDM. Com ele, fizemos a campanha do ano 2009, na Província de Maputo. E também foi com Azagaia que conquistamos juntos a Cidade da Beira, através da sua cancão e do seu apelo ao voto ao saudoso presidente e, depois, ao Movimento Democrático de Moçambique”.

Para Simango, Azagaia é inspiração na mobilização do povo moçambicano para tomarem o poder.

Por sua vez, o Secretário da UNITA em Luanda, Nelito Ekuikui, primeiro, entende que Azagaia é um dos melhores da CPLP. Segundo, avança que o rapper “Representa um retrocesso para a emancipação da consciência da juventude africana. Azagaia foi o maior expoente da libertação da consciência dos povos oprimidos. Tal como ele sempre disse: povo no poder! Povo no poder significa ter um governo que olha para o povo e serve os interesses do povo. Com Azagaia, morre um bocado de nós, como africanos, e um bocado da nossa esperança. Mas, ao mesmo tempo, a sua morte responsabiliza-nos enquanto jovens da lusofonia e africanos para continuarmos com a luta”.

 

O sociólogo Boaventura de Sousa Santos entende que Azagaia foi um sociólogo que soube interpretar ansiedades do povo moçambicano de forma crítica. Para o intelectual português e para o académico moçambicano Eduardo Lichuche, estudar as letras de Azagaia é fundamental porque permite compreender as angústias dos jovens.

 

O programa Noite Informativa da Stv Notícias desta sexta-feira debateu sobre o legado de Azagaia. A partir de Portugal, o sociólogo português, Boaventura de Sousa Santos, defendeu que Azagaia soube ser um pedagogo interventivo com a sua arte, tendo-se esmerado em mostrar que a sociedade moçambicana podia ser melhor, que os políticos podiam ser mais honestos e a sociedade mais equitativa e justa. “É isso que sempre admirei nele, soube ser um sociólogo do chão, digamos assim, sem desprimor para os sociólogos de Moçambique com os quais tenho trabalhado e que tenho grande admiração. Foi um homem que soube interpretar as ansiedades e um grande sociólogo crítico, o que traduziu em arte”.

Boaventura de Sousa Santos já se tinha referido à qualidade lírica e crítica das letras de Azagaia num vídeo que, recentemente, circulou bastante nas redes sociais. Também devido ao vídeo, quando o rapper moçambicano morreu, o sociólogo português recebeu condolências de pessoas de vários países. “Por causa desse vídeo, eu tenho recebido condolências de vários países porque sabiam a minha admiração por Azagaia. Grandes rappers do Brasil, nomeadamente, Emicida, Gog, que são grandes amigos meus, todos eles choraram a morte do Azagaia”.

Na percepção do sociólogo, o autor de Babalaze e Cubaliwa foi capaz de incentivar a sociedade civil moçambicana de modo a não aceitar imposições externas. Por exemplo, de instituições da Bretton Woods. “Ele era um educador. Eu penso que o que ele fez foi lutar para que a sociedade civil e os cidadãos não aceitassem uma série de imposições de instituições internacionais, o Banco Mundial e o FMI, porque fazem uma série de imposições que os governos aceitam facilmente. Isso cria uma grande revolta. E essa revolta está expressa nas letras maravilhosas do Azagaia”.

Na mesma edição do programa Noite Informativa, o Director da Escola de Comunicação e Artes (ECA – UEM), Eduardo Lichuche, disse que Azagaia foi uma figura plural, tendo sido um etnomusicólogo, um poeta, um sociólogo e até político, por aquilo que expressa nas suas mensagens e na forma como analisa a realidade social. Portanto, Eduardo Lichuche recomenda o estudo da obra do rapper. “A importância de pessoas como Azagaia é precisamente essa, fortalecer o nosso conhecimento sobre aquilo que acontece na nossa sociedade”.

Azagaia morreu quinta-feira, 9 de Março, e as cerimónias fúnebres, segundo fontes próximas à família, poderão acontecer terça-feira.

Uma das últimas pessoas que falou com Azagaia, quinta-feira, 9 de Março, foi Gina Pepa. Eram amigos desde os anos 90, eram amigos desde os tempos em que Dinastia Bantu e Rappers Unit faziam, de facto, parte do vocabulário da comunidade Hip-Hop em Moçambique.

A rapper encontra-se a finalizar o seu álbum de estreia, que terá como título Missão cumprida, mesmo a condizer com o percurso artístico do amigo. Para o álbum, Azagaia concedeu uma participação na música “Ironias da vida”. Gravada e acabada, a faixa musical deveria ter um vídeo-clip. Por isso mesmo, na quinta-feira, os dois amigos puseram-se a conversar sobre os pormenores necessários para as filmagens.

Como é habitual, no meio da conversa, Azagaia pôs-se a rir agradado em falar com a amiga para quem telefonou. Aliás, Gina Pepa pensa em Azagaia como um homem sorridente, divertido, de uma alegria contagiante. Portanto, quando falaram pela manhã de quinta-feira, interromperam a ligação porque cada um tinha de tocar o dia para frente.

Ainda assim, o rapper prometeu ligar novamente. O dia parecia longo. As horas passaram e Gina Pepa, ocupada com outros afazeres, só se lembrou de que Azagaia prometera ligar por volta das 19 horas, quando um certo jornalista a contacta a querer confirmar o que as redes sociais já tinham começado a divulgar. Aí, sim, Gina Pepa pressentiu que o seu amigo nunca mais voltaria a ligar. Então, tomou a iniciativa. Ligou ao celular que, do outro lado de Maputo, na Matola, chamou, mas ninguém atendeu. Ligou à esposa. Nada. A partir desse instante, as lágrimas da artista começaram a jorrar no seu rosto tão cheio de Hip-Hop. Mas ela precisava de uma confirmação. Percebendo, mas sem acreditar nas evidências, marcou no celular o número da irmã de Azagaia. Com ela finalmente conseguiu falar. A sentença final estava dada: Azagaia já não estava entre nós, afinal a sua missão na terra já estava cumprida. Quase como o álbum de Gina Pepa.

Inconformada com a morte do autor de Babalaze (2007), Cubaliwa (2013) e Só dever (2019), tanto quanto os seus admiradores, Gina Pepa pôs-se a pensar na amizade com o rapper de forma atabalhoada. A artista lembrou-se daquela voz vibrante, que cantou como ninguém; lembrou-se da sua frontalidade, sinceridade, inteligência e lealdade aos valores que defendia.

De nascimento Edson da Luz, 6 de Maio de 1984, Azagaia iluminou o raciocínio de muitos, intervindo, denunciando e criticando. Entre a música pimba, de fama fácil, Azagaia escolheu o mais difícil: estar do lado dos mais fracos, posicionando-se contra os políticos e os que têm força. Desse ponto de vista, Azagaia contrariou aquela ideia de um certo autor: “Beija a mão que não podes morder”. Azagaia mordeu essas mãos cheias de sangue e desordem. Picou e não soprou. De forma frontal, com recurso a uma composição contundente.

Desde os seus 20 anos de idade, Azagaia fez do RAP um fenómeno além da música. E essa vocação começou como que ocasionalmente. O rapper lança “As mentiras da verdade” e o tema logo se torna um hit. Na música, o artista convoca os moçambicanos a uma reflexão sobre a realidade social e política do país. Mexeu em temas considerados tabus e problematizou questões tornadas impronunciáveis, como o provável fim do primeiro Presidente da República, Samora Machel.

Depois de “As mentiras da verdade”, a forma de pensar a música mudou em Azagaia. No artista, fortaleceu-se um sentido de causa, de luta, de ideal e de compromisso com o seu povo. Talvez, por isso, o rapper se fez conhecido entre os moçambicanos, tornando-se, com cerca de 23 anos de idade, uma das figuras mais interventivas do país.

Azagaia ganhou respeito fazendo um ritmo que, para muitos, era de marginais. Fez-se ouvir e as pessoas passaram a prestar atenção nele, nas suas músicas, nas suas ideias e, consequentemente, no fenómeno Hip-Hop. Lírico e consciente. Com o microfone na mão, fez com que pessoas muito velhas do que ele passassem a apreciar o ritmo em poesia. Naturalmente, a sua música levou-o ao patamar dos “eternos”, dos que, com a música, encontram uma morada além da existência. Em Moçambique, na região, nos PALOP e na CPLP.

A importância de Azagaia consolidou-se com o lançamento do álbum Babalaze, em 2007, é certo. Nessa altura, granjeou tantas simpatias quanto inimizades. Com temas como “A marcha” e “Alternativos”, o álbum foi verdadeiramente bem recebido no país e Azagaia quase tornou-se uma legião. A certa altura da sua carreira musical, passou a fazer concertos trajado de roupas aparentemente militares. Eufórico, com um fôlego único, o rapper fazia vibrar o palco e mexia com as pessoas nos seus concertos.

Azagaia foi amado, cantado, apoiado, mas nem tudo foi um mar cor-de-rosa nos seus 38 anos de vida intensa. Atento às vicissitudes sociais como sempre foi, em 2008, lançou uma das suas músicas mais populares: “Povo no poder”. Foi um estrondo! A música incomodou muitos políticos. Na sequência desse tema inspirado na reacção popular a seguir à subida do preço do transporte, naquele ano, em pouco tempo, foi chamado à Procuradoria da República por suspeita de “atentar contra a segurança do Estado”. De lá saiu mais esclarecido e “Povo no poder” continuou a ser uma das principais composições musicais do país.  “Cão de raça”, “Maçonaria”, “Calaste” e “A minha geração” (Cubaliwa) não ficaram muito atrás.

Com as suas músicas, Azagaia honrava o pseudónimo que tinha. Sem dever nada a ninguém. Mas Só dever é esse último EP que lançou ainda vivo.

Azagaia sempre soube que era incómodo. Talvez, por isso, a morte foi abordada nas suas músicas. Sem medo. Azagaia viveu combatendo pela verdade e contra o medo. Numa das suas composições, “Filhos da”, com N. Star, o rapper diz o seguinte, a certa altura, “Medrosos, quando morrem, não servem nem para estrume”.

Azagaia viveu de pé. Quando se apercebeu de que poderia participar ainda mais na mudança, alinhou na lista do MDM para deputado na Assembleia da República. Mas essa eleição não aconteceu. Continuou a fazer música. Nem o tumor cerebral diagnosticado em 2014 o fez confusão. Pelo contrário, Azagaia continuou lúcido e a fazer os seus concertos. O último (ou dos últimos) aconteceu há poucos dias, na Beira, essa cidade que lhe permitiu ter o título para o seu segundo álbum, Cubaliwa.

Não morreu a tiro, como muitos temiam, não morreu na Índia, quando lá foi fazer cirurgia. Morreu em casa, num bairro humilde da Matola. As reacções à sua morte vieram de toda parte. O rapper Allan considerou, tal como Gina Pepa, que o país perdeu um herói e líder de uma geração de artistas. Simba Sitoi disse que a qualidade das suas líricas fará sempre falta.“Questionamo-nos agora sobre quem mais poderá ter o nível da sua qualidade poética”, disse Simba Sitoi.

Já Kloro defendeu a necessidade de se resgatar Azagaia que cada um tem dentro de si e continuar com a luta em prol da sociedade moçambicana e pela humanidade.

Em Portugal, Jimmy P., com quem gravou pelo menos uma música, deseja-lhe um eterno descanso. Valete destacou que “Morreu um dos maiores rappers da Língua Portuguesa. Um dos seres humanos que mais admirei em toda a minha vida. Um verdadeiro patriota. Amou África e Moçambique como poucos. O irmão que nunca tive”.

No Brasil, Gabriel, o Pensador, escreveu na sua rede social que “Nosso irmão Azagaia, ícone do rap lusófono, nos deixou hoje muito cedo, aos 38 anos, em sua casa em Moçambique. Grande perda para nossa música e cultura hip hop. Seu legado é eterno, mano, descanse em paz”.

Azagaia, homem temente a Deus e que rezava antes dos concertos, partiu. Coerente, deixando para trás uma mulher e duas princesinhas.

 

 

Ainda sobre a morte do rapper Azagaia, a ministra da Cultura e Turismo diz que o país perdeu um activista versátil, que usou a sua música para expressar a sua versão dos factos na sociedade.

Numa mensagem a que o “O País” teve acesso, Edelvina Materula disse, ainda, que Azagaia foi uma lenda da música moçambicana e que contribuiu para o engrandecimento e afirmação da música de intervenção social.

A governante acrescentou que a marca do rapper fica registrada e o seu nome agrafado na história da música do país e do continente africano.

Diversos artistas usaram as suas contas nas redes sociais para prestar homenagem ao rapper Azagaia. Ainda nas redes sociais, várias outras pessoas publicam fotos do autor de Babalaze, acompanhadas de palavras que expressam a sua grandeza.

As condolências sobre a morte de Azagaia vêm de toda parte. De Portugal, por exemplo, o rapper Valete partilhou nas suas contas das redes sociais.

“Um dos seres humanos que mais admirei em toda a minha vida. Um verdadeiro patriota” (…) A milhares de quilómetros de distância faremos uma homenagem eterna a um dos homens mais importantes da História do Rap Lusófono”.

Do Brasil, o rapper Gabriel Pensador lamentou nos seguintes termos: “grande perda para nossa música e cultura hip-hop”.

Mesmo sendo praticante de outro género musical, a cantora angola Pérola escreveu: “que notícia triste! Descansa em paz, Azagaia!”

Em Moçambique, a comoção foi ainda maior. Vários artistas dedicaram mensagens ao “mano Azagaia”, como era também chamado.

A cantora Lenna Baúle descreveu Azagaia em apenas duas palavras: Grandioso e eterno!

O professor universitário e presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, Nataniel Ngomane, escreveu:

“Morreu um Homem. Homem, com agá maiúsculo. Porque representava todos os Homens e Mulheres desfavorecidos. Os desgraçados, os miseráveis. E não era apenas um rapper. Era um Homem. Homem com agá maiúsculo.  “Povo no Poder!”

A também cantora de Hip-Pop, Iveth, que cantou ao lado de Azagaia várias vezes, dedicou o perfil no facebook ao cantor e ainda publicou o seguinte:

“Disseste o que deveria ser dito e fizeste o que deveria ser feito. Choramos a tua morte, mas celebramos a tua vida e obra com orgulho e honra. Lutaste um bom combate e deste voz aos sem voz, tiraste goela afora as mentiras da verdade e gritaste por paz, justiça para todos.”

O Governo também reagiu à morte do Azagaia, através da Ministra da Cultura e Turismo.

“Perdemos o músico de intervenção social, Azagaia, uma lenda da música jovem moçambicana que tatuou a sua carreira pela forma destemida como tratava os assuntos nas suas composições musicais. A sua marca fica registada, e o seu nome agrafado na história da música do nosso país e do continente africano.”

Ano passado, também nas redes sociais, o intelectual português Boaventura de Sousa Santos já se tinha rendido à composição de Azagaia, num vídeo que circulou bastante na internet.

Azagaia morreu, mas a obra é eterna. A família vai reagir à morte oportunamente.

Moçambique vai receber 25 milhões de euros para reforçar o combate à insegurança alimentar e a preparação face aos desastres naturais. O dinheiro é parte de um total de 50 milhões de euros disponibilizados pela União Europeia à região austral de África.

Moçambique vai receber dinheiro da União Europeia. Desta vez, o valor é de 25 milhões de euros, que deverão ser usados, entre vários fins, para a mitigação da insegurança alimentar no país, com maior enfoque na província de Cabo Delgado.

O valor é parte de 50 milhões de euros que a comunidade europeia vai desembolsar em apoio aos países da África Austral.

Num comunicado de imprensa, a que o “O País” teve acesso, a Comissão Europeia aponta as áreas em que o dinheiro deverá ser aplicado.

“Esses fundos ajudarão a combater a insegurança alimentar e a desnutrição, melhorar o acesso a serviços básicos, melhorar a preparação para desastres e promover a educação em situações de emergência em toda a região”, lê-se na nota.

Dos 50 milhões de euros, 25 milhões vão para Moçambique, 13,3 milhões para Madagáscar, 7,4 milhões para Zimbabwe, 4,3 milhões de euros para Lesotho, Malawi e projectos regionais.

No documento, a organização europeia faz referência ao terrorismo, que já provocou a deslocação de mais de um milhão de pessoas.

Morreu, esta quinta-feira, Edson da Luz, mais conhecido por Azagaia. Segundo uma fonte familiar, o cantor de hip-hop moçambicano morreu num acidente doméstico.

Famoso e acarinhado pela forma crítica com que abordava as questões sociais, até políticas, Azagaia era considerado, pelos seus fãs, a “voz do povo”.

Filho de uma comerciante moçambicana e de um professor cabo-verdiano, Edson da Luz nasceu no dia 06 de Maio de 1984, em Namaacha, Província de Maputo.

Aos 10 anos de idade, o cantor mudou-se para a capital do país, local onde viria a concluir o ensino médio e ingressou numa universidade. Ainda em Maputo, Azagaia passou pelas camadas de formação de basquetebol do Desportivo de Maputo.

Iniciou a carreira musical com 13 anos, integrando com o grupo Dinastia Bantu, com MC Escudo, e lançou, em 2005, o álbum Siavuma.

No dia 10 de Novembro de 2007, Azagaia editou o seu primeiro álbum a solo, intitulado “Babalaze” (que significa ressaca) pela editora Cotonete Records. O lançamento atingiu recorde de vendas no dia de estreia.

“Babalaze” contou com as participações de Terry, em “Eu Não Paro”, e de Valete, em “Alternativos”. O álbum continha músicas bastante críticas ao Governo moçambicano, facto que impediu que algumas faixas fossem tocadas nos canais públicos.

Das músicas consideradas polémicas, destacam-se “As Mentiras da Verdade” e “A Marcha”, este último que bateu recordes de vendas.

Numa retrospectiva dos principais acontecimentos em Moçambique, Azagaia lançou “Obrigado Pai Natal”, em 2007, e “Obrigado de Novo Pai Natal”, em 2008.

Depois da revolta popular de 05 de Fevereiro de 2008, em Maputo, Azagaia apresentou o tema “Povo no Poder”, que lhe valeu uma intimação para se apresentar na Procuradoria-Geral da República, suspeito de “atentar contra a segurança do Estado”. A música voltaria a ser lembrada na revolta popular de 1 e 2 de Setembro de 2010.

Em 2009, lançou a música “Combatentes da Fortuna”, que o rapper disse ser inspirado na crise do Zimbabwe e que, apesar de ter sido censurado, foi dado como o videoclipe mais visto da história do rap moçambicano.

No ano de 2010, lançou a música “Arriiii”, versando sobre um escândalo de tráfico de drogas em Moçambique, casos de fuga ao fisco e assassinatos.

Em 2011, Azagaia foi preso, na companhia do seu produtor Miguel Sherba, após ter sido encontrado um cigarro de “soruma”.

Depois de uma produção de três anos, Azagaia lançou o segundo álbum de originais, Cubaliwa (significa “nascimento”), a 09 de Novembro de 2013, na Associação de Escritores Moçambicanos, em Maputo, contando entre os temas destacados “Movimento de Intervenção Rápida”, “Homem Bomba” e o tema de apresentação lançado em Outubro “ABC do Preconceito”.

Como convidados neste álbum, encontram-se nomes como Stewart Sukuma, Dama do Bling, a Banda Likuti, Ras Haitrm, Júlia Duarte e o rapper angolano MCK. O álbum chegou a ser apresentado com o nome de “Aza-leaks” em 2011, por alturas da apresentação do tema “A Minha Geração”.

Cubaliwa deu origem a uma digressão denominada Bem-vindos ao Cubaliwa, em que Azagaia se apresentou com a banda Os Cortadores de Lenha.

O consumo de estupefacientes voltou a manchar a sua carreira, quando, em Junho 2014, durante uma entrevista a um canal televisivo, o cantor confessou que tinha sido detido novamente por posse de droga e justificando que o consumo da canábis se devia à suposta recomendação médica, uma vez que padecia de epilepsia. Azagaia preparou em directo e acendeu o que o próprio disse ser “soruma”.

Poucos dias depois, num texto apresentado no Facebook a 15 de Junho de 2014, Azagaia anunciou que, por temor pela sua vida, abandonaria a carreira musical e iria passar a viver em Namaacha, sua terra natal.

Semanas depois, o cantor disse que estava com um tumor cerebral e iniciou uma campanha de arrecadação de fundos pela Internet. O projecto “Help Azagaia” serviria para reunir mais de 790 mil Meticais para custear a cirurgia de retirada do tumor, realizada na Índia a 18 de Outubro.

Um ano depois de se ter afastado dos palcos, Azagaia voltou a actuar, apresentando-se num concerto numa discoteca, em Maputo, em Maio de 2016.

Xixel Langa e Wanda Baloyi darão início às celebrações organizadas pelo Centro Cultural Franco-Moçambicano, neste mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, com dois concertos intitulados “She is”, a ter realizarem-se esta Sexta-feira, a partir das 20h, no Jardim do Centro Cultural Franco-Moçambicano, na Cidade de Maputo.

De acordo com o Franco-Moçambicano, os espectadores terão a oportunidade de reviver temas já conhecidos de Wanda Baloyi, sendo, para Xixel Langa, uma oportunidade para a apresentação do seu mais recente trabalho discográfico intitulado “Vatekile”, o qual constitui convite a uma viagem pelo período colonial, onde os negros eram transportados em navios para serem comercializados, ficando assim distantes da sua terra natal. Com isto, Xixel encontra na música uma forma de fazer sentir o grito de repúdio à guerra e desgraça mundial do povo que foi afastado da sua terra, para que tal acontecimento não se repita.

Xixel Langa começou oficialmente a sua carreira artística, a solo, em 2003, tendo no mesmo ano, feito a sua primeira aparição pública. Participou de shows de bandas e artistas conceituados como Gito Baloi, Stewart Sukuma, Kapa Dech, Timbila Muzimba, entre outros.Em 2006, radicou-se na África do Sul, onde fez parte de umas das melhores bandas Sul-africanas: “Tucan Tucan”; assim como, fez parte de “Manding Khan”, como bailarina e vocalista de ritmos do Ocidente de África. Em 2018, foi melhor canção no Ngoma Moçambique. Em 2004, foi prémio revelação e melhor voz no Top Feminino.

Quanto a Wanda Baloyi, é uma artista que pertence a uma família de músicos, e pode ser descrita como uma cantora de “cocktail africana” e neo-soul, com interesse multilinguístico: inglês, português, zulu, changana e guitonga. Lançou o seu primeiro álbum intitulado “Voices” pela Universal Music, e ganhou o Melhor Arranjo Africano no “Kora Awards”; teve duas indicações “SAMA” e uma indicação ao “Channel Music Video Award”. Seu segundo álbum, com título “So Amazing”, foi seguido por “Colours” e “Love & Life”, com o qual ganhou, em 2015, o prémio de “Best Urban Jazz”, no Metro FM Music Awards. Até o momento, Wanda Baloyi já se apresentou em vários festivais internacionais e fez turnês pela África do Sul para promover o projecto “Love & Life”, que mereceu um remix internacional para uma de suas canções intitulada “Kisses”, remixado por Louie Vega.

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