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A Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo) acolhe, esta quarta-feira, pelas 11:30 horas, uma palestra subordinada ao tema: “Educação da Mulher em Moçambique: ontem, hoje e amanhã”, que será orientada pela escritora e Doutora Honoris Causa Paulina Chiziane.

O acto que decorrerá no anfiteatro Paulus Gerdes, Campus Universitário de Lhanguene, enquadra-se nas celebrações do Dia da Mulher Moçambicana, 7 de Abril, e tem como objectivo enaltecer o seu papel no desenvolvimento social e económico do país.

Na mesma ocasião, para assinalar a efeméride, serão desenvolvidas actividades recreativas, feira de saúde e gastronómica.

Paulina Chiziane recebeu o título de Doutora Honoris, em 2022, perante académicos da Universidade Pedagógica de Maputo, estudantes, escritores e vários convidados da Universidade Pedagógica de Maputo.

A escritora foi laureada pelos seus feitos nas pesquisas literárias. Na altura, Paulina Chiziane defendeu que Moçambique pode perder a liberdade e voltar a ser colonizado. A escritora entende que o país precisa despertar, produzir o seu próprio conhecimento e deixar de depender dos outros.

Paulina Chiziane é uma escritora que se dedica a friccionar as causas e os dramas da mulher moçambicana, nos seus romances. Exemplo disso são os livros “Balada de amor ao vento”, “Niketche” e “O sétimo juramento”.

“Mundlerere” é o título do espetáculo de dança de Francisca Mirine e Paulo Inácio, com o acompanhamento musical de Thobile Makhoyane, que será apresentado ao público no Espaço Cultural 16NetO, na Cidade de Maputo, nesta quarta e quinta-feira, a partir das 19 horas. 

De acordo com a nota de imprensa do Espaço Cultural 16NetO, “Mundlerere” é uma expressão que pode ser interpretada como uma metáfora para os desafios e incertezas da vida. A expressão evoca a ideia de um jogo de sorte ou azar, no qual decisões e acontecimentos são imprevisíveis e, muitas vezes, estão além do controlo humano.

“Na essência de “Mundlerere”, está a noção de que a vida é repleta de dualidades e escolhas que moldam o nosso destino. Assim como uma moeda lançada ao ar, a vida pode cair em diferentes faces — ora favoráveis, ora desfavoráveis. A metáfora da moeda também sugere que as decisões são frequentemente binárias, obrigando-nos a escolher entre duas alternativas, sem nunca termos certeza do resultado”, avança a nota de imprensa da organização.

Ainda no mesmo documento, pode-se ler que a reflexão convida o espectador a encarar a vida com humildade e aceitação, reconhecendo que não se pode controlar todas as variáveis ou prever o futuro.

“Mundlerere” propõe um equilíbrio entre perseverança e resignação, entre tomar decisões conscientes e lidar com as consequências inevitáveis.

SOBRE OS AUTORES

Francisca Pedro Mirine, moçambicana de 26 anos de idade, nasceu a 24 de Outubro de 1997. Bailarina, acrobata, intérprete e criadora de coreografias e projectos, actua como freelancer. Iniciou a sua carreira artística na Companhia Municipal de Canto e Dança da Matola, onde aprendeu dança tradicional, e, posteriormente, expandiu os seus conhecimentos para outras modalidades, como dança contemporânea e acrobacia circense, através da Associação Cultural Mono.

Ao longo da sua trajectória, trabalhou e continua a colaborar com coreógrafos nacionais e estrangeiros, tendo participado em diversos workshops de dança para fortalecer a sua formação artística e profissionalizar-se na área. Em 2020, participou no Programa Procultura, uma residência financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, realizada em Kampala e Gulu, Uganda. Em 2022, apresentou a sua peça” Reflexos” na Primeira Mostra ProCultura, em Cabo Verde. No ano seguinte, integrou a peça “Vozes”, da coreógrafa Janethe Mulapa, na Ilha da Reunião, e também a peça “Wanste”, de Edna Jaime, no Centro Cultural Franco-Moçambicano. Em 2024, voltou a apresentar “Vozes” no Festival Massa e iniciou uma residência artística na Cité des Arts, em parceria com o Centro Cultural Franco-Moçambicano, em Saint-Denis, França, de 9 de Setembro a 5 de Outubro.

Além disso, participou no programa Umoja, um projecto internacional que reuniu artistas da Noruega, Zimbabwe, Quénia e África do Sul, entre 2013 e 2014. Na sua experiência coreográfica, colaborou em várias peças, entre as quais “Guiana”, de Luís Filipe (2011, Moçambique), “Peça de Circo Acrobático”, de Hurient Niaje (2018, Noruega), “Eva”, de Didier Botiana (2018, Moçambique), além de trabalhos com Emily Trusdag e Sonia (2018, Noruega). Em Moçambique, participou em “Motus Corpos e Gyme do Povo”, de Lulu Sala (2019), “Makandene”, de Carlos (2021), “Vozes” de Janethe Mulapa (2023, Ilha da Reunião), e “Wanste” de Edna Jaime (2023). Também colaborou com Hermínio Nhatumbo ao longo da sua carreira.

Paulo Inácio é um bailarino profissional especializado em danças tradicionais moçambicanas e africanas. Com uma sólida formação a partir de seu treinamento inicial em um centro comunitário, em seguida, e na companhia de dança.  

Actualmente, é membro integral da prestigiada Associação Cultural Hodi e Afroswing, onde actua  como bailarino sénior e professor de dança infantil.

A paixão de Paulo pela dança o impulsiona a estar constantemente em movimento, apresentando, ensinando e desenvolvendo as suas habilidades. Recebeu um treinamento de coreógrafos nacionais e  estrangeiros renomados, incluindo Janeth Mulapha, Panaibra Gabriel, Lulu Sala, Ídio Chichava,  Horácio Macuácua, Stephen Bon Garçon e Pak Ndjamena. 

O artista foi seleccionado para fazer parte do projecto “Theka“, criado por Horácio Macuácua e Ídio Chichava. O projecto apresentou o seu talento em festivais renomados, como o Festival  Theaterformen na Alemanha, Costa do Marfim e o Festival Kinaniem Maputo.  

Paulo continua a ministrar aulas online sobre danças africanas e desenvolve  activamente as suas próprias coreografias solo. Está a colabor com Edna Jaime em projectos criativos.

Thobile Makhoyane Magagula é uma artista multifacetada originária do Reino de eSwatini. Fundindo vocais hipnotizantes com instrumentos tradicionais como o makhoyane e o sitolotolo. Criou um estilo único que se denomina “DloziRock”.

Ao longo da sua carreira, Thobile co-fundou o duo musical Spirits Indigenous e o colectivo feminino SheKings. Participou ainda de diversas colaborações e projectos, incluindo TP 50, FunkRiot e TemaSwati, além de ter contribuído com músicas para filmes e documentários premiados, como “Mabatabata” e “Resgate”, de Moçambique.

A artista já se apresentou em palcos renomados como o Festival Bushfire, Festival AZGO e o Festival de Artes de Soweto, além de outros eventos na eSwatini,, Moçambique e África do Sul.

Entre 11 de Abril e 12 de Maio, estarão abertas as inscrições para a terceira edição do Prémio Literário Mia Couto, uma iniciativa da Cornelder de Moçambique (CdM), em parceria com a Associação Kulemba, que visa premiar as melhores obras literárias de autores moçambicanos.

Segundo um comunicado de imprensa sobre o concurso, para esta terceira edição, serão elegíveis obras literárias publicadas entre 01 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2024, na categoria de romance. 

As obras submetidas serão avaliadas por um júri especializado e idóneo, com base em critérios como originalidade, qualidade literária e relevância cultural.

Desde a sua primeira edição, o Prémio Literário Mia Couto já laureou importantes obras da literatura moçambicana, como “No verso da cicatriz”, de Bento Baloi; “Pétalas negras ou a sombra do inanimado”, de Belmiro Mouzinho; e “Estórias trazidas pela ventania”, de Adelino Albano Luís. 

Nas duas edições anteriores, cada um dos vencedores recebeu um valor monetário na ordem de 400.000 MZN (quatrocentos mil meticais).

Diferentemente das edições anteriores, entretanto, nesta terceira, as inscrições serão realizadas de forma online, directamente no site da Associação Kulemba. 

O concurso é aberto a todos os autores moçambicanos, com obras publicadas no período elegível. O regulamento do prémio pode ser consultado no site da Associação Kulemba. 

Neste primeiro dia de Abril, às 17h30, no Instituto Guimarães Rosa, na Cidade de Maputo, a Editorial Fundza vai lançar o livro “Crónicas de Desastres”, uma colectânea de crónicas escritas por estudantes de várias universidades do país.

A ser apresentado pela escritora Clévia Guivala, o livro “Crónicas de Desastres” resulta da terceira edição do Concurso de Crónicas, organizado pela Feira do Livro da Beira (FLIB), com o propósito de despertar o gosto pela escrita e estimular reflexões, entre estudantes do ensino superior, sobre redução de riscos de desastres.

O livro é constituído por 115 páginas e vinte crónicas. Nos textos, os autores fazem da literatura um instrumento de intervenção social, demonstrando a sua preocupação sobre um tema tão urgente de se debater, como o da redução do risco de desastres.

Para Editorial Fundza, os textos de “Crónicas de Desastres” são uma chamada de atenção ao ser humano sobre a necessidade de cuidar melhor o mundo que habita.

Segundo os organizadores da Feira do Livro da Beira, a escolha do tema decorre do facto de o país, frequentemente, ser assolado por desastres naturais, havendo necessidade de criação de estratégias para a sua mitigação. Daí ter-se visto na leitura, na escrita e na arte, instrumentos de construção do conhecimento para preparação, de modo a lidar com desastres, pode-se ler na nota de imprensa da Editorial Fundza.

Além de “Crónicas de Desastres”, a Editorial da Fundza já editou “Água” e “Estórias da paz e reconciliação”, ambos organizados pela Feira do Livro da Beira.

Em Chimoio 32 grupos disputam o prémio de 80 mil meticais, no maior evento carnavalesco, edição de 2025. A dança, coreografia e música estão entre os elementos a serem apurados. 

Arrancou este sábado, na cidade de Chimoio, província de Manica, a décima sexta edição do Carnaval 2025. O evento de dois dias está a ser disputado entre bairros e escolas. Dos concorrentes dos 22 bairros apenas cinco deverão sair vitoriosos, enquanto que nas escolas sairão três classificados.

Mila Belmiro, vereadora da educação, cultura, juventude e desporto no conselho municipal de Chimoio avançou que a décima sexta edição conta com a participação de grupos convidados dos distritos.

“No ano de 2025, estamos a trabalhar com 32 grupos, dos quais 22 dos bairros e 10 das escolas. E hoje, serão classificados os grupos quanto à indumentária, coreografia, dança e música. Dos 32 grupos serão apurados 11 dos bairros e cinco das escolas. Amanhã, estaremos a trabalhar com os 11 dos bairros, onde serão classificados: o primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto grupos. Dos cinco que estaremos a trabalhar com eles amanhã, serão classificados o primeiro, o segundo e o terceiro das escolas”, explicou a vereadora. 

Os participantes dizem que estão preparados para levar os  prémios para casa.

“O segredo é só dançar com força e com gás, aquelas coisas, danças de carnaval (…) Tem que esperar muito de nós, porque este ano, nós viemos com tudo. Estamos preparados para qualquer obstáculo que venha à nossa frente”, afirmam os concorrentes. 

Os grupos vencedores levam para casa  valores monetários, que variam de 10 a 80 mil meticais.

 

Entre esta sexta-feira e domingo, a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, capital portuguesa, acolhe a terceira Mostra de Artistas Residentes PROCULTURA, um programa de dança contemporânea que reúne os artistas Pak Ndjamena, Mai-Júli Machado e Francisca Mirine (Moçambique) e Nuno Barreto, Djam Neguin e Rosy Timas (Cabo Verde).

Segundo pode-se ler no site da Fundação Calouste Gulbenkian, serão apresentadas criações recentes, que resultam do trabalho realizado nas residências promovidas pelo programa de mobilidade de artistas PROCULTURA, que, em geral, abrange artistas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor Leste.

“Este é um programa vibrante, que dá a conhecer um conjunto de práticas coreográficas de artistas africanos, no cruzamento entre tradição e dança contemporânea. A mostra promove um espaço de apresentação e partilha destas criações e o diálogo com outros contextos de criação contemporânea, incentivando a circulação internacional dos artistas participantes”, avança o site da Fundação Calouste Gulbenkian.

A partir das 18h30 desta sexta-feira, na Sala 1, na Fundação Calouste Gulbenkian, Francisca Mirine vai apresentar “Reflexos”, uma peça de dança que aborda questões sociais, reflectindo sobre o comportamento humano face às dificuldades de sobrevivência em sociedade.

A coreógrafa e bailarina Francisca Mirine examina o funcionamento do pensamento humano perante situações adversas, tendo em conta a actualidade moçambicana.

Francisca Mirine é uma bailarina freelancer, intérprete, professora de dança e coreógrafa moçambicana. Tem vindo a trabalhar com artistas nacionais e estrangeiros e a participar em festivais, workshops, criações de dança e residências artísticas e em programas de intercâmbio. Desenvolve as suas próprias criações de dança e escreve os seus projectos.

No domingo, a partir das 17:30, no estúdio do Centro de Arte Moderna Gulbenkian, Pak Ndjamena vai apresentar “dEUs nOS aCudI”, um espectáculo de dança criado pelo artista, que reflecte sobre as sociedades de consumo e o lugar do corpo na actualidade.

“O corpo contemporâneo é livre ou controlado? Original ou imitado? A experiência do corpo é influenciada pelo padrão cultural no qual está inserido? Partindo destas questões, ‘dEUs nOS aCudI’ procura também investigar a forma como a religiosidade secularizada, as crenças, as divindades, os rituais e os mitos estão interligados no quotidiano. O artista questiona como estes podem ser utilizados como estratégia de controlo social, afectando directamente os corpos e a sociedade, através de regras e padrões”.

Pak Ndjamena, natural de Maputo, é um artista multifacetado. Bailarino, coreógrafo, professor de dança contemporânea, actor, realizador de filmes de dança contemporânea e músico. Tem vindo a desenvolver um conjunto de técnicas de dança híbrida. Coreografou e interpretou mais de 20 peças e foi o vencedor do Mozal Arts & Culture Award 2019, na categoria de dança, em Maputo. Tem levado a cabo as oficinas de Tremuria Project, uma nova terapia através do corpo dançante em África, Europa e América do Sul. Já se apresentou em vários festivais internacionais de renome.

Ainda no domingo, no caso, a partir das 19 horas, no Palco Grande Auditório, Mai-Júli Machado vai apresentar “AMELLE”, uma performance que aborda histórias sobre experiências e processos de desenvolvimento corporal, psicológico e espiritual partilhados pelas mulheres, constrangidas por questões fisiológicas, sociais e políticas relacionadas com padrões predefinidos.

AMELLEAtitude, Maturidade, Elegância, Legado, Liberdade e Esperança – é um ritual passado de geração em geração, atravessado por memórias comuns, vivências do passado, presente e futuro próximo. Com esta criação, Mai-Júli Machado invoca memórias de passagem de menina a mulher e denuncia as restrições impostas às mulheres cujos ideais não cabem em normas definidas pela sociedade. Neste pequeno ritual, a artista convida-nos a despertar a AMELLE que reside dentro de nós”, adianta a o site da Gulbenkian.

Mai-Júli Machado começou a dançar como profissional na Companhia Municipal de Canto e Dança Tradicional da Matola. Teve formação em técnicas de dança contemporânea na Casa da Cultura, em Maputo, e na Culturarte, com o coreógrafo Panaibra Canda. Em 2022, a sua primeira peça de dança foi apresentada no Festival Kinani, seleccionada e financiada pelo Instituto Francês. Em 2023, participou da peça da coreógrafa francesa Mathilde Monnier, intitulada “Black Lights” e foi seleccionada para representar Moçambique na competição de dança contemporânea no Burquina Faso.

 

O escritor e editor Dany Wambire vai participar na 62ª edição da Feira do Livro Infantil de Bolonha , que decorre entre 31 de Março e 3 de Abril, em Itália.

De acordo com o comunicado de imprensa da Editorial Fundza, no evento, Dany Wambire vai reunir-se com agentes literários e editores de livros infanto-juvenis de alguns países, com o objectivo de divulgar o catálogo de obras infanto-juvenis da sua editora e adquirir direitos para publicação de obras do mesmo género em Moçambique.

Em Bolonha, além de comprar e vender direitos, Dany Wambire, que também é curador do principal festival literário para a camada infanto-juvenil em Moçambique, o Festival do Livro Infantil da Kulemba (FLIK), espera “colher experiências e estabelecer parcerias que agreguem valor acrescido” ao evento que se realiza anualmente na Cidade da Beira.

“A Feira do Livro Infantil de Bolonha é o maior evento literário dedicado ao público infanto-juvenil e fazer parte desta feira é uma oportunidade ímpar para aprender modos de pensar e fazer uma festa literária para crianças”, considerou Dany Wambire, citado no mesmo comunicado de imprensa.

Além da Feira do Livro Infantil de Bolonha, no mesmo período e na mesma cidade, serão realizadas duas actividades paralelas, designadamente, Bologna BookPlus (BBPlus), uma extensão dedicada à publicação comercial geral; e a Bologna Licensing Trade Fair/Kids (BLTF/Kids), um evento de licenciamento da BCBF para direitos subsidiários de marcas e propriedades para crianças, adolescentes e jovens adultos.

A participação de Dany Wambire na Feira do Livro Infantil de Bolonha conta com o apoio e a colaboração da Agência Italiana de Comércio, baseada em Maputo.

Dany Wambire nasceu em 1989. É mestre em Comunicação e licenciado em Ensino de História. É escritor e fundador da Editorial Fundza. “A adubada fecundidade e outros contos”, seu livro de estreia, foi distinguido com menção honrosa no Prémio Internacional José Luís Peixoto (2013). Também publicou “O curandeiro contratado pelo meu edil” (2015), “Quem Manda na Selva” (2016), “A mulher sobressalente” (2018), “O Toninho e a vaca letreira” (2020), e “A arte de pilar medos” (2024).

 

Severino Ngoenha e Padre José Luzia defendem que há uma necessidade de se revisitar a história da intervenção da Igreja Católica na vigência do colonialismo português em Moçambique, numa altura em que se vive a terceira vaga da colonização. Os dois falavam durante o lançamento da obra “Moçambique: da colonização à guerra colonial, a intervenção da Igreja Católica”.

Uma obra escrita por dois escritores portugueses, Manuel Vilas Boas e Amadeu de Araújo, que retratam a intervenção da Igreja Católica no período colonialismo português em Moçambique. Uma intervenção que ajudou o país a perceber a ligação que existia entre a religião e a política.

Padre José Luzia, um dos entrevistados no livro é convidado a fazer comentários no lançamento do livro, disse que havia uma ligação directa entre a política e a religião, tal como a relação entre Dom Manuel Vieira Pinto, então Bispo de Nampula, e Samora Machel, então presidente da República.

“Quero dizer, o testemunho que temos, sobretudo do Vieira Pinto e o meu, não é tanto do tempo colonial. Atenção, que o Vieira Pinto ainda ficou até 2001. Portanto, é toda a relação de Vieira Pinto com Samora Machel”, disse o Padre José Luzia.

O sacerdote revelou ainda que o conteúdo do livro deve levar os leitores a uma percepção profunda da ligação entre religião e política. “Neste momento, nós precisamos de, ao ler este livro, perceber a profundidade, por um lado, do Evangelho de Jesus, porque agora às vezes aparece aí nas redes sociais que eles vieram com o Evangelho, mas ficaram com a terra e nós ficamos com a religião. Não é verdade”, revela. 

E dá exemplo do que acontece com o próprio, quando diz que “aquilo que sou, politicamente, e sou profundamente político, não sou capaz de fazer uma homilia sem meter a mão na política. Não sou capaz. Porque, de facto, a fé e a política estão dentro de mim como alguma coisa que actua permanentemente. E eu não sou um crente a olhar celestialmente para as nuvens. Eu sou crente na conjuntura, e por isso fui o primeiro a ser expulso de Moçambique, a seguir à independência”.

Já Severino Ngoenha, que foi chamado para fazer a apresentação do livro, começou por dizer que  as apresentações dos livros não têm que dizer o que os autores querem trazer, “têm que dar razões para as pessoas irem ler livros”.

Ngoenha disse que o livro “Moçambique: da colonização à guerra colonial, a intervenção da Igreja Católica” é um convite para rever uma parte da história moçambicana, mas também para revisitar a historiografia nacional.

“Estamos a 150 anos da terceira vaga da colonização, aniversário da escravatura, estamos a 50 anos de independência, o que foi a missão cristã. Recordar-se que em 1962, Paulo VI foi o primeiro a receber Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, a dizer que, de um lado, o cristianismo não tem nenhuma novidade para os povos africanos, porque afinal de contas, a primeira terra do cristianismo foi a África, desde o primeiro século do cristianismo, e em segundo lugar a dizer que é legítimo que os africanos lutem pela independência, e foi a primeira grande personalidade a levantar-se contra a colonização e o aparecimento de libertação. Então, a Igreja tem os seus pecados, tem as suas virtudes, tem uma historiografia complexa e muitas vezes é tomada com demasiada simplicidade. Então, isto é um convite para revermos uma parte da nossa história e um convite da historiografia nacional para tomar a sério este tema”, revelou o filósofo.

O lançamento do livro, que já está à venda nas livrarias, contou com a participação de académicos, religiosos e estudantes.

 

No próximo dia 3 de Abril, às 17h30, no Camões – Centro Cultural Português em Maputo, a Gala-Gala Edições vai lançar “Poemas de Revisitação do Corpo Seguido de Apoteose do Nada”, de Sangare Okapi 

O poeta Sangare Okapi entregou-se à produção literária há 20 anos. Para celebrar a determinação e delicadeza do autor, a Gala-Gala Edições vai lançar o livro “Poemas de Revisitação do Corpo Seguido de Apoteose do Nada”, que reúne os dois primeiros livros do autor, em ordem de escrita.

A edição literária da Gala Gala, segundo uma nota de imprensa, oferece aos leitores a oportunidade de revisitar os primeiros passos de um poeta que, desde cedo, demonstrou uma capacidade ímpar de executar a poesia por meio de uma linguagem singular e primorosa. Pode-se ler no documento: “O texto do Sangare Okapi é uma imersão nas raízes da poesis, onde o corpo e o vazio se cruzam num baile que nos confronta com a nossa própria fragilidade e transcendência. Esta obra revela-nos um Sangare iniciante e avant-gardian, um enfant terrible que, desde o início, se destacou pela ousadia e originalidade, explorando temas como o corpo, a identidade, a memória e a morte com uma acuidade que nos deixa sem fôlego”, afirma o editor da editora, Pedro Pereira Lopes.

O livro de Sangare Okapi integra a colecção “Biblioteca de Poesia Rui de Noronha”, e será apresentado ao público numa cerimónia que contará com a participação dos professores universitários e ensaístas Sara Jona Laisse e Lucílio Manjate, que vão partilhar as suas reflexões sobre a obra e a importância de Sangare Okapi para a literatura moçambicana.

Sangare Okapi nasceu em Maputo, em 1977. É bacharel em Ensino de Português e professor. Publicou os livros de poesia “Inventário de Angústias ou Apoteose do Nada” (2005), “Mesmos Barcos ou Poemas de Revisitação do Corpo” (2007), livros para a mente e o coração “Mafonematográfico Também Círculo Abstracto” (2011), “Os Poros da Concha” (2018) e “Fleuma” (e-book, 2024). É co-autor dos livros “Era uma vez…” (2009) e “Antologia

Inédita — Outras vozes de Moçambique Maputo” (2014). Está representado na revista brasileira “Poesia Sempre” (2007). Co-produziu e encenou a peça “Pereto de Onti”, distinguida com mérito no Festival Regional de Teatro Amador Zona Sul, organizado pela Casa da Cultura do Alto-Maé (1996). Foi distinguido com o Prémio Revelação FUNDAC Rui de Noronha (2002) e o Prémio Revelação de Poesia AEMO/ICA (2004).

Em 2008, foi Menção Honrosa no Prémio José Craveirinha de Literatura.

 

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