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Crise da dívida assombra projectos de energia

“Se a situação das dívidas se mantiver, nos próximos dois ou três anos, podemos dizer que seremos afectados”, são palavras do Administrador para área de operações da Electricidade de Moçambique (EDM), Carlos Yum, comentando sobre o que pode acontecer aos projectos de investimento da empresa, caso a situação financeira do país continue delicada. Só os investimentos energéticos da EDM estão avaliados em pouco mais de 10.6 biliões de dólares, divididos em urgentes (227 milhões); críticos ou de curto prazo (386 milhões); e de médio e longo prazos (10 biliões).

Ora, ao se adicionar o valor dos outros projectos de energia (fora da EDM), a verba sobe para cerca de 20 biliões de dólares.

Neste momento, a maior parte dos projectos de electrificação e de geração de energia estão na fase de preparação e estruturação, para que se tornem bancáveis, devendo, em curto espaço de tempo, precisar de financiamento para o arranque. “É importante que o país retome, porque já temos projectos preparados e que dentro de três anos vão precisar de acordos com os bancos para serem financiados”, observou Carlos Yum, numa altura em que a imagem de Moçambique mantém-se degradada junto dos doadores e credores internacionais.

Projectos de investimento emergência

Depois de décadas sem manutenção, grande parte da infra-estrutura está obsoleta e reclama por intervenção. Aliás, se não forem disponibilizados 227 milhões de dólares para o investimento de emergência, as infra-estruturas em causa poderão colapsar.

Projectos de investimento críticos

Há um grupo de infra-estruturas que, nos próximos dois ou três, deverá beneficiar de intervenção, para garantir as operações e consequente fornecimento do serviço aos clientes. Este conjunto de investimentos, avaliados em 286 milhões de dólares, poderá migrar para o grupo de emergências, se não houver dinheiro. O resultado é apagão, tal como tivemos, em 2015, na região norte do país, após a avaria registada na linha de distribuição de Mocuba (na Zambézia) e ou restrições no fornecimento, tal como se verificou, nas cidades de Maputo e Matola, após avaria da subestação de Infulene.

Projectos de investimento de médio e longo prazos

Entre os próximos cinco a 10 anos, a EDM prevê investir cerca de 12 biliões de dólares em infra-estruturas de transmissão e geração de energia, em sintonia com o crescimento nos projectos de geração de energia e com o aumento da procura por electricidade pelas famílias e novas indústrias. Grande bolo será alocado, também, na redundância da infra-estrutura eléctrica, para garantir fornecimento ininterrupto de energia.

 A pensar na industrialização de Moçambique, a empresa deverá direccionar parte do investimento de médio e longo prazos em projectos de geração de energia, conectando-os com os centros de consumo nacional.

Tarifas de energia vão continuar a subir

As tarifas de energia deverão continuar a aumentar, gradualmente, nos próximos cinco anos, até se atingir uma estabilidade tarifária. Desde 2015, as tarifas de electricidade têm estado a ser reajustadas anualmente pela empresa pública. O último aumento foi em Agosto de 2017, e a tarifa doméstica foi fixada em 6.95 meticais por quilowatts/hora. É nesta tarifa onde estão 90% dos cerca de 1.6 milhão de clientes da empresa.  

Até ao início dos reajustes, em 2015, passavam cinco anos da mesma tarifa, sendo que “os aumentos que assistimos são para permitir que saíamos do processo de emergência para estabilização da infra-estrutura”. Mesmo assim, o administrador operacional da distribuidora de electricidade diz que os reajustes não tiveram o impacto desejado, visto que, em 2015 e 2016, registou-se uma depreciação acentuada do metical em relação ao dólar, o que impactou nas contas da EDM, tendo em conta que os custos operacionais da empresa estão indexados em moeda estrangeira.

Yum deixou claro que a tarifa praticada aos consumidores de renda baixa (clientes que consomem mensalmente abaixo de 100 quilowatts/hora) não foi alterada, como forma de garantir que os mais desfavorecidos não sintam o impacto da subida do preço.

E as contas na crise

Para além da depreciação acentuada do Metical, a EDM diz que as receitas da empresa foram afectadas, em 2015 e 2016, pela redução no consumo de energia. Carlos Yum disse mesmo que não se consumiu tanta energia, tal como o previsto, como resultado da falência de algumas entidades económicas.

“A redução no consumo de energia resulta do encerramento de lojas e restauração, uma situação que contribuiu para a redução das receitas da empresa”, disse o administrador para área de operações da EDM.

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