A ruptura de uma conduta adutora de água no Município da Matola, que teve lugar na tarde do último domingo, causou destruição de parte de uma casa, muros de vedação, electrodomésticos e muitos outros bens, nas casas próximas à conduta, para o desespero dos residentes. A conduta ora rompida já estava cansada, pois foi construída na época colonial e opera há sessenta anos.
Como consequência deste incidente, cerca de cinco mil pessoas ficaram desprovidas de água, numa altura em que, para além das necessidades básicas do dia-a-dia, a água é essencial para o combate à pandemia da COVID-19.
Depois de uma noite de domingo, previsivelmente difícil, devido à sensibilidade dos bens afectados, a nossa equipa de reportagem visitou o local e o cenário era desolador.
Erguida sobre uma conduta da época colonial, a casa de Joaquim Fernando foi a mais afectada. O tecto foi completamente danificado, junto às paredes da sala, que não resistiram à fúria da água, tal que tinha uma pressão que chegou a elevar-se em pouco mais de cinco metros de altitude.
Joaquim Fernando conta que, para além da destruição, a água invadiu a casa e molhou quase tudo, sem dó, nem piedade.
“Aqui tudo molhou: roupa, electrodomésticos, livros, até nossos documentos pessoais. Está tudo aqui no sol, para ver se recuperamos alguma coisa”, desabafou a fonte.
Fernando, como alguns dos seus vizinhos que sofreram menos, teve uma noite difícil, pois à lista dos prejuízos se juntam as mantas e os colchões, que ficaram completamente ensopados.
“Passamos mal a noite. Tivemos que nos empilhar no mesmo local e para evitar a cacimba da madrugada, improvisamos um plástico e cobrimos a sala, que ficou sem tecto. Mas, não foi fácil passar a noite”, contou Joaquim Fernando.
Uma imagem chamou-nos a atenção. O pequeno Jonas conferia o nível de destruição dos seus manuais escolares e cadernos de exercícios. Estavam todos molhados. Com alguma esperança, enquanto os mais velhos colocavam colchões e mantas ao sol, ele colocava os seus cadernos e livros, mesmo sem saber qual seria o resultado.
Segundo os seus pais, Jonas e outras crianças do bairro deviam ir à escola, mas não o fizeram, pois não havia condições.
A casa da vovó Julieta também não escapou. Tudo ficou submerso. A noite foi longa. A ela só restou a remoção do matope que escolheu a sua humilde residência para se acomodar.
“A água entrou na minha casa e destruiu muita coisa. Ainda estamos a lutar para remover o matope que lá há. Falta-nos sabão para limpar as coisas. Mesmo o saco de arroz ficou molhado e só conseguimos aproveitar a parte de cima que não foi afectada. A parte de baixo não podemos comer, pois foi atingida por água misturada com fezes”, revelou a idosa Julieta Maússe, transtornada.
Ora, não é só pelas casas que os moradores do Língamo reclamam. A eles falta água potável e a solução encontrada foi buscar água numa fonte completamente desconhecida, por debaixo da ponte.
É água que aparentemente é limpa, mas não se conhece a sua proveniência, conforme conta a Cecília Neves, uma moradora do Língamo.
“Desde que rebentou o tubo geral, ficamos sem água, por isso decidimos vir até aqui. Esta água nós usaremos para lavar roupa, loiça e outras coisas, mas, se não houver alternativa, usaremos para beber, apesar de não ser aconselhável, devido ao risco de contrair doenças”, disse.
Conhecem o risco, mas os moradores daqueles bairros dizem não ter outra opção e recorrem àquela fonte, sempre que há escassez de água.
No local, o director-geral do Fundo de Investimento e Património do Abastecimento da Água, Victor Tauacale, acompanhava as obras de reposição da conduta e disse estarem a um nível bastante avençado, tendo garantido que até as 16 horas desta segunda-feira (27), os cerca de cinco mil moradores dos bairros Trevo e Matola A teriam água.
“As obras estão bastante avançadas e prevemos que iniciemos com os ensaios por volta das 15h e com esses testes, por volta das 16h, será reposto o abastecimento de água às famílias afectadas, pois depois disso nós abriremos a válvula encerrada para evitar desperdício”, explicou.
Aos moradores afectados, o gestor do Fundo de Investimento e Património do Abastecimento da Água – FIPAG garantiu a reposição dos danos causados.
“Vamos ressarcir os danos, porque foi um evento natural, mas eles não têm culpa pelo sucedido, nem podem sair prejudicados, por isso nós iremos repor. Neste momento, estamos a fazer o levantamento dos danos”, referiu Victor Tauacale.
A conduta adutora de água, ora rompida, como muitos outros sistemas de transporte de água na cidade e província de Maputo, funciona desde o tempo colonial, há cerca de 60 anos, e o FIPAG diz que a reposição já está concluída em muitos desses locais e que a fase subsequente é de testes.
Há que destacar que a casa afectada, bem como outras vizinhas, foram erguidas em cima da conduta, para além das linhas de alta tensão que passam bem por cima das residências. Portanto, uma zona que devia ser de reserva.