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Concurso de leitura expõe quão mal estamos

Entre várias actividades, o Dia Internacional da Criança em Nampula foi marcado pela realização de um concurso de leitura. Muitas crianças mostraram as dificuldades que têm em assimilar a língua portuguesa, mas algumas se mostraram fluentes em emakwa.

Juntou-se o útil e o agradável. No dia em que se celebra a criança, dezenas de crianças partilharam o mesmo espaço, no distrito de Monapo, em Nampula, para disputarem o concurso de leitura. A iniciativa insere-se no trabalho desenvolvido por várias organizações, no âmbito do projecto “Ajudar a ler”, financiado pela Agência Americana de Desenvolvimento Internacional, USAID.

Foi uma oportunidade para se divertirem e, ao mesmo tempo, foi mais uma montra que revelou quão mal está o nosso sistema público de educação. Os concorrentes são alunos do ensino primário do primeiro grau. Cada criança tinha um texto de 100 palavras para ler em um minuto e o júri anotava o número de palavras lidas erradamente para atribuir a pontuação.

O concurso foi dividido em ensino monolíngue e bilíngue. De todos os concorrentes, alguns é que se saíram melhor. “A criança representa esperança no futuro melhor. Ela deve, portanto, merecer o nosso respeito”, leu, sem gaguejar e de viva voz, Marcelino Viagem, tendo arrancado aplausos de adultos, entre professores, directores de escolas e professores que faziam a plateia.

E o que se ouviu da maioria foram dificuldades enormes para a leitura em língua portuguesa. No entanto, a coisa mudou de figurino quando a leitura era em emakwa, principal língua nativa falada nas três províncias do Norte de Moçambique. Aqui, notava-se que muitas crianças conseguiam ler com alguma fluência.

Os melhores classificados foram premiados e, para os organizadores, fica uma ilação, tal como disse Mário Pacate, director do Projecto “Apoiar a Ler”. “Nas zonas rurais, as crianças, para aprenderem rapidamente, precisam de um impulso, porque, quando se deparam com a língua portuguesa, não aprendem e dizia-se no princípio que é uma barreira para o seu processo de ensino e aprendizagem. Para estimular as crianças, nas classes iniciais, precisamos de iniciar com a sua língua local, como puderam testemunhar”.

O ensino bilíngue é uma estratégia que o Governo de Moçambique encontrou, desde 2003, para acelerar o processo de ensino e aprendizagem, mas, paradoxalmente, não existe, no país, um centro de formação de professores neste sistema.

Durante três anos, o projecto “Apoiar a Ler” vai ajudar a incentivar a leitura em 12 distritos da província de Nampula.

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