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Comércio aos arredores da linha férrea coloca várias pessoas em perigo na Cidade de Maputo

Foto: O País

Aumenta o número de pessoas que vendem hortícolas aos arredores das estações ferroviárias. A prática põe em perigo a vida de várias pessoas. Nos últimos três meses, houve seis mortos e nove feridos em acidentes ferroviários.

Vender nas bermas da linha férrea é o único meio de sustento para algumas pessoas, um pouco por todo o país.

Em alguns casos, a procura pelo “pão de cada dia”, perto da linha férrea, pode ser perigosa e originar lembranças traumáticas. Tália Augusto, de 22 anos, não se esquece do dia em que tropeçou e caiu na ferrovia.

“Uma cliente chamou-me quando o comboio parou. Quando corria em sua direcção, tropecei e caí. Tive lacerações nos joelhos, e a parte abdominal ficou dolorida. Fiquei uma semana em casa, com medo de voltar às vendas e que o incidente voltasse a acontecer”, contou Tália Augusto.

Nesta actividade, o momento em que o comboio chega à estação é decisivo para vender e assim garantir algo para alimentar famílias, por isso é necessário “gritar” para anunciar o produto à venda e correr para chegar primeiro ao cliente.

Por isso, relatos de incidentes como o que Tália Augusto teve são recorrentes. As vendedeiras reconhecem os riscos que correm nas linhas férreas.

“Corremos riscos, mas preferimos fazer isto (vender perto da linha férrea) a roubar, para sustentar as nossas famílias. Além disso, como temos visto, nos últimos dias, os preços dos produtos alimentares, do transporte, de tudo têm vindo a subir”, desabafou Zulfa Carlos, uma das vendedeiras.

A pobreza, aliada ao aumento de preços, leva muitas mulheres a vender hortícolas ao longo das vias-férreas, na estação de Infulene, na Cidade de Maputo. Uma vez que já houve incidentes que envolvem crianças, as vendedeiras tomaram medidas para, pelo menos, proteger menores e jovens de até 20 anos de idade.

“Proibimos que menores dos cinco e jovens de até aos 20 anos de idade vendam neste local. Mas pessoas dos 20 aos 65 anos de idade podem fazê-lo”, explicou Herma Absalão, vendedeira.

Entretanto, a medida pode não ter o resultado desejado, porque as casas não estão para além dos 50 metros da via-férrea, tal como manda o decreto que define as zonas de protecção portuária.

Nos últimos três meses deste ano, pelo menos seis pessoas morreram e nove ficaram feridas em dois acidentes ferroviários, reportados pela imprensa nas províncias de Tete e Maputo.

De acordo com a chefe do Serviço de Transporte de Passageiros na empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), Iara Popinsky, nas passagens de nível, onde é necessário haver mais cuidado, ocorrem mais acidentes.

“Nas passagens de nível com guarda, as pessoas não respeitam os sinais. Há um semáforo, uma cancela, mesmo assim, as pessoas não respeitam. Antes de se definir se uma passagem de nível terá ou não guarda, faz-se uma avaliação de risco. Notamos ainda mais o desleixo dos automobilistas nas passagens de nível com guarda”, justificou.

Em 2018, a empresa Caminhos de Ferro de Moçambique proibiu a venda nos comboios de passageiros e estações. A medida funcionou, mas parcialmente.

“Por isso, estamos a vedar as estações, baseadas num plano a curto, médio e longo prazos. O plano está em curso, já foram vedadas a estação central e as da Matola-Gare, Machava, da Gar de Mercadoria”, avançou Iara Ponpinsky.

Enquanto isso, nas estações ferroviárias, a luta pelo sustento entra em choque com os perigos existentes e quem realiza actividades comerciais nesses locais pode estar entre a vida e a morte.

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