O Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) alerta que perante a aproximação do ciclone tropical Chido ao norte do país, os ventos podem chegar até 220 quilómetros por hora (km/h) a partir de sexta-feira. Entretanto, o norte será mais afectado no domingo
É mais um aviso de alerta vermelho que é lançado pelo Instituto Nacional de Meteorologia INAM que reforça a chegada do ciclone Chido ao país, que evoluiu nas últimas horas desta quinta-feira para o estágio de “intenso”.
O ciclone aproxima-se do canal de Moçambique, devendo entrar ao final do dia de hoje, sexta-feira, com o epicentro previsto para a costa moçambicana dentro de 72 horas.
A entrada em terra do ciclone de categoria 3, o terceiro mais elevado numa escala de 1 a 5, é esperada nos distritos de Memba, província de Nampula, Chiúre ou Mecúfi, na província de Cabo Delgado, “com ventos de 200 quilómetros por hora e rajadas até 220 quilómetros por hora, segundo as projeções actuais”, refere o aviso do INAM.
O mesmo adverte ainda que “face à ocorrência de ventos fortes, trovoadas e chuvas muito fortes, recomenda-se a tomada de medidas de precaução e segurança”.
O aviso, válido até às 24:00 do dia 15 de Dezembro, define como áreas de risco vários distritos de Cabo Delgado e a capital provincial, Pemba, bem como de Nampula e a sua cidade capital provincial.
Ciclone pode afectar cerca de 500 mil pessoas
Entretanto, num encontro havido esta quinta-feira entre o Instituto Nacional de Meteorologia, o Instituto Nacional de Gestão de Desastres Naturais e o sector de saúde, foi revelado que muitas pessoas poderão ser afectadas pela chegada do ciclone Chido.
De acordo com Ana Cristina Manuel, do INGD, mais de 500 mil pessoas ficarão afectadas nas províncias de Cabo Delgado e Nampula e disse que vão precisar que sejam socorridas com base nos cenários que foram vistos no encontro.
“Primeiro, tendo em conta as medidas que devem ser intensificadas, a difusão de informação, a questão do abrigo, da população, a evacuação, o provimento de meios alimentares são necessários. Nós achamos que poderíamos usar a plataforma integrada, que já integra vários meios de difusão de informação, desde as mensagens curtas, a partir das telefonias móveis, a partir das rádios comunitárias que já estão a trabalhar no terreno na difusão de informação, comités locais de gestão de risco”, disse, como formas de prevenção.
E para casos de emergência, Ana Cristina Manuel disse que existem centros de acomodação activos e disponíveis para que possam acolher as pessoas. “Na região norte temos 68 e temos também os meios para apoiar na busca e salvamento, o mapeamento das zonas afectadas, que são os drones, temos os pilotos e também temos os telefones satélites que possam nos apoiar em caso de colapso do sistema de comunicação naquela região”, revelou.
Outrossim, o Instituto Nacional de Gestão de Desastres diz que tem meios de bens alimentares, de abrigo, água e saneamento e também meios para apoiar os grupos vulneráveis, destacando meios específicos como mantas, kits de cozinha, redes mosquiteiras, kits de família, colchões, esteiras e roupas.
Os intervenientes no encontro propõem o destacamento de equipas de nível central que possam apoiar, equipas mínimas que possam apoiar as províncias de Cabo Delgado e Nampula, que são as que se mostram neste momento com alguma preocupação em relação ao impacto dos ciclones.
Por seu turno, Agostinho Vilankulo disse que esta chuva também pode trazer alguns impactos positivos para além das consequências que pode trazer. E apresentou três cenários que podem ser verificados com a queda das chuvas.
“O primeiro cenário é aquele que estamos a falar, que o ciclone entre da província de Nampula e nós temos cerca de 2 milhões de pessoas que estão dentro do risco. Atenção, há uma diferença e neste momento nós estamos falando de pessoas que estão em risco, são aquelas pessoas que vão sentir o efeito, ou de chuva, ou do vento, ou de caudal. Mas dentro desses, nós aplicamos um coeficiente de certeza, com uma probabilidade muito maior, que 10% daquela população pode precisar de assistência. E nós estamos a falar de cerca de 200 mil pessoas, esses podem precisar de assistência. É 10%, mas podemos ter um pouco mais. O universo daqueles que vão sentir o impacto por causa deste fenômeno, são cerca de 2 milhões de pessoas”, disse.
O segundo cenário, de acordo com Agostinho Vilankulo, é do ciclone entrar, por Nampula, mas antes de chegar, provocar impacto nas vias rodoviárias. No caso há vias que podem ser afectadas com destaque os que ligam alguns distritos.
“Este é o cenário costeiro. Se nós formos entrar para o interior, porque também há uma probabilidade de chuvas muito intensas. É certo que o vento vai também diminuindo, mas as chuvas vão continuar a ser intensas”, referiu.
Por fim, o último cenário, onde o ciclone pode entrar, por exemplo, da região de Mecufi ou Pemba, onde existem outras bacias que estão em consideração.
“Em termos de impactos, nós estamos a prever aqui, aqui os impactos são relativamente diferentes, temos cerca de 1 milhão e 400 mil pessoas, e certeza que se o sistema tiver aquela trajetória, mais ou menos cerca de 150 mil a 200 mil pessoas também podem precisar de assistência. Nós temos que, o extremo é cerca de 1 milhão de pessoas, mas aquelas que aparentemente devem ser assistidas, nós estimamos em 10% daquele valor. E também fizemos aqui um exercício sobre a ocorrência de cheias urbanas”, explicou Agostinho Vilankulo.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.
Já na primeira metade de 2023, as chuvas intensas e a passagem do ciclone Freddy provocaram 306 mortos, afetaram no país mais de 1,3 milhões de pessoas, destruíram 236 mil casas e 3.200 salas de aula, de acordo com dados oficiais do Governo.