Um cenário que contrasta com o que se vive de dia – um corre-corre de pessoas que chegam à cidade por motivos de trabalho, ou para fazer compras e cumprir vários compromissos.
Mas, quando o sol se põe e a noite chega, o cenário é diferente, mesmo às sextas-feiras… sem eventos sociais, lugares de diversão encerrados… enfim às 19 horas, no centro da cidade, reina um silêncio ensurdecedor, comparado ao da madrugada.
Os restaurantes da cidade, que às sextas-feiras ficavam cheios, agora, quando dão 18 horas fecham as suas portas, já não se “txila” e as luzes cintilantes são as únicas que dão brilho aos lugares.
O tempo passa… às 19h50, o cenário, no terminal do Museu, também é fantasmagórico – ninguém está lá à espera de transporte. Mas, as barracas do Museu, essas sim, arranjaram alternativas para continuar com os desmandos.
No escuro, algumas pessoas ficam paradas em círculo, como se de um grupo “inocente” de conversa se tratasse, porém, quando por ali um carro passa, correm para vender bebida. Contudo, o processo não é tão simples, a pessoa passa, primeiro, por uma entrevista, para se aferir se é, de facto, cliente ou não.
Já num dos maiores terminais da capital do país, no CFM, o relógio, que fica no topo do edifício, já não funciona e acompanha o ambiente, pois lá parece que tudo parou no tempo.
Às 20h30, o silêncio dá lugar à tensão na avenida Guerra Popular, o único ponto onde “O País” encontrou pessoas. Lá, a guerra popular é para tomar o transporte, e homens e mulheres aguardavam por mais de 30 minutos pelo meio que os levaria para casa.
Fernando Chaúque, que voltava do trabalho com destino a Boane, contou que estava à espera de transporte já havia 40 minutos. Surpreendentemente, não tinha nenhum documento que lhe permitisse ou justificasse a sua permanência na rua até às 21 horas (hora do início do recolher obrigatório) e, segundo disse, apelaria ao bom senso da Polícia, caso fosse interpelado.
Já Carlos, outro munícipe que também aguardava pelo transporte, contou que conhece pessoas que pernoitaram na esquadra por conta da violação do decreto presidencial, mas apelou a que a preocupação das autoridades, neste momento, devesse ser outra.
“Acho que temos de parar de nos preocupar se as pessoas têm ou não credencial; estamos a voltar do trabalho e queremos ir para casa, mas como fazer? Não há transporte aqui; é preciso que o Governo disponibilize mais transportes para que nós, o povo, cumpramos a lei”, exortou.
Ainda na Guerra Popular, enquanto uns lutavam para chegar à casa, outros preocupavam-se em vender os seus produtos, a Polícia até estava no local, mas teve dificuldades em os persuadir a abandonar o local.
Na Praça dos Combatentes, os vendedores é que combatem o recolher obrigatório, na desculpa de que preferem morrer da COVID-19 à fome.
“Ao dia, a Polícia manda-nos embora, não podemos vender e, à noite, mesma coisa… o que devo fazer para sobreviver?! Estando aqui ou em casa, vou morrer na mesma”, disse Ana Gil, uma vendedeira.
Até mesmo crianças desafiam o frio da noite e, mesmo sem máscaras, fintam a COVID-19, como se fossem imunes.
Já passavam das 21 horas e, no bairro da Maxaquene, tanto adolescentes quanto adultos mandaram passear o recolher obrigatório, uns vendiam roupas usadas, vulgo calamidade, outros o amendoim. Há outros que, em grupos, consumiam, ao seu bel-prazer, bebidas alcoólicas.