As operações de evacuação das vítimas das intempéries iniciaram há seis dias, mas ainda não foi possível tirar todas as pessoas que perderam suas casas e bens da vila sede do distrito de Búzi, em Sofala. As vítimas aguardam o momento da sua transferência para iniciar uma nova vida no posto administrativo de Guara-Guara, no mesmo distrito.
Búzi continua uma vila ainda isolada pela água. Não se consegue chegar ao local via terrestre. Os únicos meios para evacuar as vítimas do meu tempo são embarcações, que, por vezes, param de circular por falta de combustível.
Vive-se um drama humanitário no distrito do Búzi. A espera já vai longa. Os rostos denunciam cansaço e impaciência. As operações de resgate das vítimas das inundações naquele distrito começaram há quase uma semana, mas as filas continuam longas.
São centenas as histórias de quem perdeu quase tudo. Debaixo do sol, multiplicam-se as reclamações.
“Não estamos a conseguir ser evacuados. Estamos a sofrer com as crianças. Estamos debaixo do sol e sem nenhuma explicação sobre o problema de fundo”, reclamou Angélica Armando, na fila de espera com seus quatro filhos, dos quais um bebé no colo.
“Os barcos pararam e não estão a levar pessoas para Guara-Guara”. O posto administrativo de Guara-Guara, no distrito de Búzi, é uma espécie de terra prometida para homens, mulheres e crianças que sonham em construir uma nova vida longe da obrigação de terem que mergulhar sempre que cai chuva intensa.
Mas enquanto esse momento não chega, Angélica e seus dependentes submetem-se ao sacrifício imposto pela natureza. “Nem tomar banho conseguimos. Não há água e está difícil conseguir o que comer”, avançou.
Sofre-se também para comer e a fome obrigou pessoas a começaram a confeccionar comida no mesmo local onde dormem e guardam seus bens. As condições de saneamento são deficitárias. Enquanto a equipa do “O País” conversava com as pessoas afectadas, não havia combustível para levá-las a Guara-Guara.
Entretanto, o delegado marítimo do distrito de Búzi desdramatiza a situação. “Temos combustível. Ontem (segunda-feira) recebemos e esta terça-feira voltamos a receber mais”.
NÚMERO DE AFECTADOS CONTINUA A AUMENTAR
Nas últimas 24 horas, mais 76 mil pessoas foram adicionadas à lista das vítimas do ciclone tropical “Eloise” nas províncias de Sofala, Manica, Zambézia e Inhambane. Contabilizam-se, agora, 248.481 pessoas afectadas, o correspondente a 46.816 famílias nas mesmas províncias, incluindo em Gaza. O número de óbitos subiu de seis para sete.
O levantamento preliminar dos dados aponta para 9.806 casas parcialmente destruídas, 4.154 casas totalmente destruídas e outras 3.007 inundadas.
Há 74 unidades sanitárias destruídas nas cinco províncias, 322 salas de aula parcialmente devastadas e 89 completamente reduzidas a escombros. O drama vai levar o seu tempo a passar.