Só no ano passado, foram mais de 850 casos diagnosticados no Hospital Central de Nampula, número que representa aumento em cerca de 100%, se comparado a 2021. A gastrite não tem cura e há que devem ser evitados, porque pioram a doença.
Começou com um quadro de dor ardente no estómago sempre que consumia determinados alimentos. Júlia Leonor reporta esse quadro desde 2020.
“Dói-me o peito, como se estivesse a aquecer por dentro. Principalmente quando como arroz, feijão manteiga, salada de alface e de repolho”.
Moisés Firmino é outro paciente que reporta o mesmo quadro clínico: “existem alguns alimentos que provocam esse problema depois de consumir. É o caso de refrigerantes, água gelada, feijões e arroz”.
O relato dos dois pacientes sugere tratar-se de gastrite, mas a confirmação definitiva só pode ser feita por um especialista em gastroenterologia – especialidade médica que cuida do sistema digestivo.
“O estômago é como se fosse uma bola. Tem uma cavidade interna que chamamos de mucosa e é ela que fica afectada quando temos gastrite. A ferida [no estômago] é outra situação – aí já estamos a falar de úlceras. A gastrite pode ter um padrão de inflamação e pode ter um padrão de erosão que ocorre da descontinuidade ao nível da camada que protege o estômago, a mucosa, neste caso, enquanto que a úlcera é uma depressão que ocorre como complicação da gastrite. Então, o processo, sempre, inicia como uma gastrite”, explica Roqueia Combana, médica gastroenterologista.
Em mais uma consulta com a médica gastroenterologista, Júlia apresenta os resultados das análises a que foi submetida e, para a sua sorte, não se trata exactamente de gastrite.
“Pedimos exames laboratoriais e não apresenta nenhuma alteração. Uma das suspeitas que tínhamos era de uma infecção pelo “helicobacter pylori” que é uma das principais causas da gastrite, mas no caso dela não tem esta infecção. Neste caso, tem um tratamento conservador que são as medidas gerais. Aconselhamos a ter uma dieta adequada para pacientes com gastrite”.
Dependendo do quadro clínico do paciente, são realizados exames com recurso à torre endoscópica. “Por meio deste procedimento nós diagnosticamos, visualizamos as alterações e também podemos tratar algumas situações. Por exemplo, se o paciente tiver uma úlcera ao nível do estômago que é uma das complicações da gastrite é possível fazer o tratamento por via endoscópica”.
A médica explica que a gastrite não tem cura definitiva, mas também por si não leva à morte. “A gastrite, por si só, não mata, mas pode evoluir com algumas complicações como é o caso da úlcera do estômago, ou que pode acontecer no duodeno e o paciente pode evoluir com um quadro de sangramento digestivo em que vomita e defeca sangue e, se não for controlado, pode levar à perda da vida”.
O recomendável para não desenvolver um quadro de gastrite é evitar certos alimentos que têm um grande potencial de causar irritação na camada do estômago. Para os pacientes com gastrite “aconselhamos sempre o paciente a evitar o álcool, o tabaco,evitar o consumo de refrigerantes, o paciente deve evitar ou reduzir o consumo do chocolate, café, o consumo de chá preto, o piri-piri, os temperos, no geral. Deve evitar também alimentos processados, estamos a falar de salsichas, chouriços e de certa forma os laticínios derivados de leite, alguns vegetais crus como é o caso da cebola e tomate que têm uma grande concentração de ácido”.
Os casos de gastrite têm vindo a aumentar em Nampula, afectando mais as mulheres e a população jovem. Em 2021, foram reportados 456 casos e, no ano passado, o número disparou para 854.