É na zona baixa do Ricatla, no distrito de Marracuene, em Maputo, onde estão localizadas as 75 famílias que estão a dividir espaço com a água nas suas casas. O governo distrital luta para ter abrigo para as famílias sem violar medidas de prevenção da COVID-19.
Um olhar leviano, e feito por cima, pode dar a falsa ideia de que se trata de um rio que foi invadido por algumas plantas, só que não. Na verdade, o que aconteceu é que as águas invadiram o espaço que era de plantas e residências, aliás, invadiu mesmo as próprias residências, trocando os pátios em riachos.
A cada manhã, Mira, uma senhora de 43 anos de idade, e seus quatro filhos procuram novas técnicas para sobreviver às águas sujas que estão naquilo que normalmente é o seu pátio. Mira precisa de garantir que apesar da água, sua família se mantenha firme. O desafio é quando um dos seus quatro filhos precisa de ir à casa de banho que fica a uns metros da casa principal.
Neste momento as responsabilidades de ser mais velho recaem ao menino João, de 10 anos de idade, que deve carregar a sua irmã mais nova e levá-la para fazer as necessidades. Isso inclui esperar por ela até que termine.
E enquanto as necessidades não chegam, Mira e família pelo menos têm onde ficar a ver televisão, já que a sua sala de estar está intacta. O mesmo não se pode viver na casa de Áuvesse Chimbumbo, onde a água está em todos os cantos e quando dizemos todos os cantos, falamos de tudo mesmo.
A sala, o quarto, a cozinha, a casa de banho e todos os compartimentos da casa estão alagados. A situação já teve até a participação dos vizinhos solidários, mas sem sucesso. Quando pensavam que já extinguiam a água da casa, abriram-se novos furos e, para evitar fazer o trabalho de Marracuene, em Marracuene, surgiu então a ideia de salvar o que fosse possível no mobiliário da casa.
Áuvesse vive com o marido e seus três filhos, a estes teve de mandar para casas mais seguras. Ainda assim, dormir tranquilamente nesta casa é uma miragem. Porque teme que a qualquer momento o nível de água suba dentro da casa e ultrapassem os blocos colocados como suporte da cama.
Mesma situação é vivida em casa de Eugénio Nhantumbo, que vive com sua esposa. Eles pagaram pelo transpasse do espaço há mais de dois anos, sabiam que o mesmo era propenso a inundações, mas tinham motivos para acreditar que não seriam atingidos e esse motivo é que naquele espaço nunca tinha havido esse tipo de problema neste período.
Um detalhe interessante é que, em meio a tanta água a correr da zona mais alta para a mais baixa, há várias obras de casas de pessoas que olham para a baixa do Ricatla como uma zona residencial. E não são poucas casas.
O administrador do distrito de Marracuene, Shafee Sidat, diz que a única coisa que se pode fazer é dar espaços mais seguros. “Mais do que isso não podemos fazer. Não temos força nem condições. O que estamos a fazer é oferecer projectos de casas mais resilientes”.
Mas antes de dar os novos terrenos, a situação em Marracuane exige soluções urgentes. O administrador diz que, no total, são 75 famílias e, para elas, o único desafio são as medidas de prevenção da COVID-19. “O coronavírus nos coloca um travão porque não podemos colocar as famílias no mesmo local. Então estamos a ver a possibilidade de colocar cada uma das 75 famílias em uma casa de aulas”.
Em todo o caso, várias famílias já manifestam interesse de ser reassentadas em zonas mais seguras, isto depois de ver a sua zona de residência submersa. Até aqui, o céu não promete tréguas, nem o Instituto Nacional de Meteorologia as prevê, já que se espera que a chuva continue até terça-feira na zona sul do país.