Durante muito tempo a biodiversidade foi ignorada. Falava-se da flora e da fauna como entidades complementares, mas nunca se ia ao fundo da complexa relação entre os seres vivos. A noção de que a vida plena, tal como a conhecemos hoje, depois de milhares de milhões de anos de evolução, baseia-se na diversidade para estar em equilíbrio é uma ideia relativamente recente.
Foi com a adopção, a 22 de Maio de 1992, do texto final da Convenção da Diversidade Biológica, sua assinatura na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e a sua entrada em vigor a 29 de Dezembro de 1993, que o mundo acordou para essa nova realidade, em que a biodiversidade ganhou uma identidade própria. Por isso, o dia 22 de Maio foi designado o Dia Mundial da Biodiversidade.
Era o reconhecimento colectivo de que cada espécie de ser vivo cumpre um papel importante na manutenção do equilíbrio ecológico. Cada vez que uma espécie é extinta ou reduzida, é uma punhalada nesse frágil equilíbrio chamado ecossistema. Estima-se que 99 % das espécies que habitaram o planeta já estejam extintas. Alguns por fenómenos naturais que causaram extinções massivas. Outros pela actividade humana, relacionadas com a aceleração do aquecimento global e as mudanças climáticas, o desmatamento, o uso abusivo de agro-químicos, queimadas descontroladas, etc.
Cresce a consciência de que a biodiversidade é uma “amiga oculta”, longamente ignorada e menosprezada. Grande parte dos seus benefícios ainda não foi estudada, conhecida ou reconhecida. Embora seja difícil dizer com exactidão, muitos cientistas estimam o número de espécies que habitam actualmente o planeta em cerca dos 8-11 milhões, dos quais apenas 1,9 milhões são conhecidos e documentados. Numa coisa os cientistas são unânimes: que milhões de espécies vão desaparecer antes mesmo que sejam conhecidas. Só no reino animal, das cerca de 8800 variedades conhecidas, 7% já foram extintas e 17% estão em risco de extinção.
Com essa sistemática perda de biodiversidade, a biosfera fica fragilizada e também enfraquecem os seus diversos ecossistemas que sustentam a manutenção da vida, a produção de alimentos, a oxigenação do ar atmosférico, o equilibro do carbono, etc. Daí a urgência de olhar para a biodiversidade como fonte de vida e resiliência.
Nessa constante busca de equilíbrio, alguns sectores têm merecido uma atenção especial: os solos, a flora, a fauna, e os ecossistemas aquáticos.
Solos
Uma grande parte dos alimentos que consumimos é plantada em solos férteis. E para que os solos garantam a sua fertilidade é importante a contribuição de diversos microorganismos (vírus, bactérias, fungos e protozoários), plantas e animais que garantem matéria orgânica, nutrientes e minerais.
Sendo um reservatório natural de biodiversidade, o solo fértil é considerado um ser vivo. Suporta e fixa as plantas através das suas raízes; alimentando-as com água, minerais e outros nutrientes; fornece habitats para mamíferos, insectos, lagartos, crustáceos e vermes; protege uma infinidade de seres vivos contra ventos e correntes de água; contribui para a filtragem da água, e para a manutenção do ciclo dos gases atmosféricos.
Flora (incluindo florestas)
O reino vegetal cumpre um papel fundamental na biosfera. A cadeia alimentar na crosta terrestre começa com a disponibilidade de plantas para os animais herbívoros. Seguindo-se outras sequências da cadeia. Os seres humanos estão entre os benificiários mais directos, pois alimentam-se, simultaneamente, de plantas e animais.
As plantas também contribuem para a regulação da composição do ar atmosférico através da fotossíntese, produzindo oxigénio e removendo o dióxido de carbono da atmosfera. Este processo também ajuda diminuir o “efeito estufa” e o aquecimento global.
Através de diversos ciclos “biogeoquímicos” de que as plantas são parte importante, muitos recursos fundamentais são reciclados e disponibilizados. Por exemplo o ciclo da água, através do qual as plantas absorvem água do solo e subsolo e a lançam na atmosfera através da evapotranspiração ou ainda a fixação de nitrogénio atmosférico no solo em parceria com micróbios designados rizóbios.
Uma única planta (uma árvore, por exemplo) pode criar ecossistemas essenciais para muitas espécies de aves, insectos, mamíferos, vermes e répteis. Também fornece combustível lenhoso, madeira, fibras, medicamentos, essências, borracha, óleos e medicamentos.
Cerca de 80% da dieta humana é composta por plantas. Estima-se que, na História da Humanidade, 7 mil espécies de plantas são ou já foram cultivadas para o consumo humano.
Fauna
Chamamos fauna ao conjunto de animais que habitam o planeta. Eles povoam os meios terrestres, aquáticos e aéreos. Como os animais que habitam os meios aquáticos são aqui abordados especificamente (ecossistemas aquáticos), importa realçar o papel da fauna que habita os meios terrestres.
A fauna tem um papel fundamenta no equilíbrio ecológico: faz o processo inverso das plantas, absorvendo o oxigénio e libertando dióxido de carbono, contribuindo assim para o precioso equilíbrio na composição do ar atmosférico; é peça fundamental da cadeia alimentar, primariamente através dos herbívoros e granívoros, que por sua vez são fontes de proteína e muitos outros nutrientes, essências para carnívoros e omnívoros; também contribuem para a fertilização dos solos, polinização, disseminação de sementes, etc..
A produção pecuária beneficia de cerca de 25 espécies de animais que foram domesticados e utilizados na agricultura e para consumo. Outros são capturados ou retirados dos seus habitats naturais para consumo humano. A fauna representa assim uma inesgotável fonte de alimentos ricos em proteína.
Ecossistemas aquáticos
Os ecossistemas aquáticos podem ser naturais (mares, oceanos, rios, lagoas e mangais) e artificiais (albufeiras, canais de irrigação, aquários, campos inundados de produção de arroz, etc.). Os meios aquáticos geram múltiplos ecossistemas. Acredita-se que foi em meios aquáticos que a vida teve origem. Estes ecossistemas aquáticos jogam um papel fundamental na multiplicação do fitoplâncton e zoo-plâncton, muito importantes na cadeia alimentar e no ciclo do oxigénio e carbono. São também importantes para fornecer água, regular a temperatura e o clima.
A pesca e aquacultura não só representam uma fonte importante de alimentos, como também uma fonte de rendimentos para cerca de 820 milhões de pessoas no mundo, em toda a sua cadeia de valor. Só em 2015 foram capturados cerca de 92,6 milhões de toneladas de pescado. O consumo anual de pescado per-capita é estimado em 16 Kg.
A concluir
A preservação da biodiversidade é importante para evitar a perda de recursos naturais que sustentam a vida no planeta. Ela requer uma luta feroz para combater ao aquecimento global e as mudanças climáticas, mas também outras medidas mais específicas como o combate contra o desmatamento, as queimadas descontroladas, a caça furtiva, a pesca ilícita e ilegal, o uso de pesticidas e agro-químicos poluentes, a intoxicação dos mares com plástico e a contaminação dos solos.