Luz verde para a retoma das provas na Cidade de Maputo, epicentro da modalidade da bola ao cesto em Moçambique. O Torneio 12 horas de basquetebol, evento havido sábado, foi uma espécie de injecção para que se saísse da letargia a que a modalidade caiu com uma crise de falta de provas desde Novembro do ano passado. Com os árbitros “alinhados” sob o ponto de vista dos caminhos que devem ser seguidos para o pagamento da dívida de 130 mil Meticais que transitou da época passada, e fé no bom senso dos clubes quanto ao pagamento de taxas de inscrição e filiação, abre-se uma nova página no cenário de provas na capital do país.
A Comissão de Gestão da Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo tomou posse no sábado, sem que traga a varinha mágica para alavancar a modalidade, mas com ideias firmes de quem pretende mudar o paradigma.
Na quadra, ou se quisermos no jogo jogado, importa que as provas arranquem o mais breve possível para que os atletas possam ter ritmo competitivo. O mais breve possível, olhando para o plano de actividades, é no próximo fim-de-semana, de 19 a 21 de Maio, com o arranque do Torneio de Abertura, primeira prova oficial da temporada.
“A primeira prova a ser realizada oficialmente será o Torneio de Abertura, isto daqui a uma semana, segundo as nossas previsões. No passado sábado, tivemos uma espécie de experiência para cativar e mostrar as pessoas que já estávamos a trabalhar. Realizámos um torneio denominado 12 horas, que contou com a participação de várias equipas da capital. Como comissão, tivemos um excelente feedback das equipas, dos treinadores, atletas e dirigentes que lá estiveram. Foi um evento que nos deu algum alento em relação àquilo que pretendemos fazer”, começou por explicar Sérgio “Serginho” Hitie, membro da Comissão de Gestão da Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo.
O passado a dar somente será firme se, efectivamemente, a malapata de condicionalismos de disponibilidade de pavilhões seja aligeirada. Ou seja, sem pavilhões a modalidade não poderá fluir, um cenário que, para já, parece estar bem encaminhado em função das conversações entre a Comissão de Gestão da Associação de Basquetebol e os clubes proprietários das infra-estruturas.
“Temos o pavilhão do Maxaquene, com luz, desde o sábado passado. Reabilitámos o pavilhão anexo do Maxaquene devido aos jogos das camadas de iniciação, isto no período da manhã. Iremos agilizar tudo isto, em coordenação com os clubes, para que nenhum jogo decorra sem sobressaltos.
Já conversamos com o Maxaquene e vamos assumir que os acordos devem ser feitos por escrito para que não haja dúvidas e recuos. Decorrem, neste momento, obras de reabilitação do pavilhão do Desportivo, sendo que as mesmas estão numa fase conclusiva. Vamos conversar com a direcção deste clube e também da A Politécnica que está disponível.”
A Comissão de Gestão da ABCM vai acelerar o diálogo com alguns clubes para que se encontre um meio-termo em relação à marcação de jogos de equipas sem campo. “Temos um cenário em que marcamos jogos para as equipas da casa, e, quando agendamos partidas de outras formações sem pavilhão, somos cobrados. Não queremos dizer para que eles- os clubes que têm pavilhões – façam de borla. Se quisermos ter basquetebol a fluir, na cidade de Maputo, os clubes terão que abrir um bocado a mão para que o basquetebol continue.”
A legalização da ABCM – um processo iniciado ainda no reinado do malogrado Rui Hélder Guilaze – é um caminho a seguir, até porque não faz sentido ter uma agremiação não reconhecida, sobretudo num cenário em que vamos pedir apoio às instituições.
Num ano atípico, em que as selecções nacionais de basquetebol sénior masculino e feminino têm compromissos no “Afrocan”, em Julho, e “Afrobasket”, entre Julho e Agosto, há que desenhar um calendário flexível que não choque com o plano de preparação das mesmas.
Por outro lado, a Comissão de Gestão da Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo deve divulgar um calendário tendo em conta as datas da fase de apuramento à Liga Mozal, Taça dos Clubes Campeões Africanos e outras provas internacionais. A solução passa por aumentar o volume de jogos, ou seja, realização de duas partidas por semana.
“O que nós prevemos é dar mais jogos durante a semana, ou seja, as equipas fazerem dois ou se calhar três jogos. Vamos avançar com uma proposta, que vai permitir dar ritmo aos atletas. Logo que terminar, e se formos a tempo da competição africana, iremos iniciar o Campeonato da Cidade, prova na qual prevemos também fazer disputar dois a três jogos por semana. Apesar de tudo, somos um país com alguma deficiência relativamente a treinos e condições físicas. Isto pode-se colmatar com mais jogos e torneios”, realçou Sérgio “Serginho” Hitie.
A fonte deu mais detalhes sobre este ponto: “Tivemos uma reunião conjunta, onde definimos algumas prioridades e, algumas delas, passam por termos um encontro com a Federação Moçambicana de Basquetebol e a Liga, no sentido de percebermos quais são as datas dos jogos, tanto da selecção quanto da Liga, que é o campeonato nacional. Depois de sabermos quais serão as datas, iremos, dentro do nosso programa de actividades e do campeonato, alocar vários jogos que permitirão que as equipas da capital não fiquem paradas pelo facto de estarem a sair de três ou quatro equipas diferentes para representar a selecção ou mesmo para competições de clubes. ”
“FOMOS FRANCOS COM OS ÁRBITROS, PRIORIDADE PASSA POR PAGAR DÍVIDAS”
A Comissão de Gestão da Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo, que tem um mandato de seis meses, reuniu-se com os árbitros com vista a encontrar soluções para a dívida que transitou do ano passado.
No referido encontro, ficou claro que há necessidade premente de se proceder ao pagamento dos 130 mil Meticais aos homens do apito assim como aos dois funcionários fixos da agremiação que não recebem há cerca de um ano.
“Tal como disse, nós tomámos posse recentemente. Antes disso, fizemos o nosso trabalho de casa. Temos alguns parceiros que irão ajudar-nos no sentido de saldar esta dívida aos árbitros e aos funcionários fixos da Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo. Nós julgamos que não é justo que pessoas estejam a trabalhar para o basquetebol e fiquem tanto tempo sem receber. Portanto, esta é a realidade também, antes mesmo de iniciarmos as provas, se conseguirmos, pagar aos árbitros o valor completo da dívida e, a partir daí, fazermos os pagamentos atempados e certos.
Achamos que, antes mesmo de começarmos as provas, iremos pagar aos árbitros”, mostrou-se convicto Sérgio “Serginho” Hitie.
Os árbitros, aos olhos da Comissão de Gestão da Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo, “ têm a sua razão, forma de ver as coisas, e nós somos uma comissão que foi criada recentemente”.
“Era certo que sentássemos com os árbitros déssemos a conhecer aquilo que é o nosso plano de actividades e objectivos para alavancar o basquetebol. Convidamos os árbitros para uma reunião e eles estiveram lá em massa. [Quero] agradecer, desde já, a todos os árbitros. Fomos francos com os árbitros. A nossa prioridade é pagar esta dívida que existe”.
Os clubes filiados têm, e como, a sua responsabilidade e obrigações neste processo, até porque há valores a serem pagos à Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo. “Confiamos também nos clubes, no sentido de pagarem o que está em dívida, mas não estamos somente a depender deste pagamento dos clubes. Estamos à procura de outras fontes para trazermos o valor que é devido aos árbitros. Eles perceberam a situação e estão do nosso lado. Da mesma forma que confiamos nos árbitros, sabemos que eles estão do nosso lado. Os jogos do Torneio 12 horas de basquetebol foram apitados pelos árbitros sem nenhum pagamento. Foi uma espécie de bónus. Eles aceitaram apitar o torneio sem que fossem pagos”, revelou.