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Balázios na Munhava

Um projétil voava a uma velocidade de 715 m/s fuzilando o ar no percurso que efectuava em direcção ao alvo que devia estar a trinta metros de distância.

Os populares das redondezas alarmados com o som do fuzil procuravam averiguar o que estava a acontecer.

Um agente da lei devidamente uniformizado e empunhando uma AK 47 seguia no encalço um civil que já se distanciava notavelmente, o policial quando viu que não alcançaria o exímio corredor decidiu disparar o segundo tiro.

A competição disputada numa pista de pavê teve início no mercado da Munhava e era executada por dois indivíduos o que seguia na dianteira e o que vinha no seu encalço.

O som do balázio serviu de estímulo para o corredor de vanguarda acelerar seu passo e alcançar a escola primária completa Amílcar Cabral e ai perdeu-se na multidão.

A bala ricocheteou na plataforma de um camião e perdeu a sua direcção inicial continuando o seu percurso incerto.

Estafado o corredor perdedor desistiu e ofegante buscou descanso no chão de argamassa de uma loja de um comerciante indiano.

O tiro depois de suas peripécias acrobáticas. Parou, parou maldosamente no corpo de um menino que voltava da escola e antes de soltar o segundo gemido seu corpo caiu no chão de pavê, o sangue que jorrava do seu peito avermelhou o livro de português da 5ºclasse.

O primeiro popular chegou e testemunhou a partida do menino, outros se juntaram e lamuriaram o fatídico incidente.

Inquiridores descontentes desencadearam uma pequena sublevação iniciando as buscas para apurar a causa da morte do menino aluno da Escola Primária completa Amílcar Cabral.

Encontraram o polícia homicida involuntário e iniciaram as averiguações.

“Foi um acidente” – protestou o agente da lei

“ Assidentii, estamos fartos de vocês” – imperou a voz de uma senhora.

O segundo pretexto furado emanado pelo polícia para justificar o balázio mortal foi rematado com as costas das mãos de uma senhora, a cara do homem movimentou-se da esquerda para direita.

“Agredir um agente da autoridade é punível por lei” – determinou o homem de uniforme.

Outra bofetada voou e a cara do polícia Constantino balançou outra vez. Quando sentiu o caso mal parado empunhou a sua arma despoletando ainda mais a fúria dos munhaveiros que espancavam-no por todo lado. Um ex-guerrilheiro desmontou prontamente a AK 47 e as peças do artefacto mortal ficaram expostas no chão.

“Esse uniforme não serve para nos humilhar, torturar e matar” – discursou um munhaveiro.

Uma mão forte arranco-lhe a camisa deixando mais a merce da justiça popular.

Dois pilotos que voltavam da “bacia” depois brincadeiras acrobáticas junto à margem do sistema de drenagem das águas pluviais montadas pelo município regressavam empurrando os seus pneus com ajuda de dois paus.

Em nome da nova justiça social um dos pneus foi confiscado e colocado no pescoço do polícia que tinha sido amarrado junto a um poste, procuravam incendiar o pneu mas não conseguiram atear o fogo. O petróleo doado por um comerciante anónimo não serviu para iniciar a fogueira.

Um txopelista que conduzia animado o seu veículo transportando um passageiro parou e decidiu prontamente ceder um mililitros de gasolina que tinha como reserva.

Longas labaredas envolveram o corpo do homicida, populares ululavam ante o espectáculo macabro.

Marejado de lágrimas o larápio testemunhava o aniquilamento do agente da lei, jurou que jamais voltaria a surripiar.

A imprensa popular documentava o facto fotografando e escrevendo sobre o que sucedia, difundindo nas redes sociais.

O corpo do menino continuava no chão coberto por uma capulana, as páginas do livro de português ensanguentado esvoaçavam ante o vento leve que soprava nessa tarde de quinta-feira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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