Atraso na manutenção, ignorância das pequenas avarias e até a revisão em locais impróprios são consideradas as principais causas dos acidentes envolvendo autocarros de transporte de passageiros na Cidade de Maputo, segundo relatório da comissão de inquérito criada para o efeito.
Depois de falhar o prazo de divulgação dos resultados sobre a causa dos acidentes envolvendo autocarros de transportes de passageiros na Cidade de Maputo, a comissão de inquérito, composta por quadros da Direcção Nacional dos Transportes e Segurança e do Fundo de Desenvolvimento dos Transportes e Comunicações, criada para investigar as causas dos incêndios e acidentes, veio a público, esta quarta-feira, para divulgar as suas conclusões.
Sobre o autocarro que se incendiou em plena marcha e com muitos trabalhadores a bordo, a investigação apurou ter havido curto-circuito. “O maior problema é que o extintor já não estava em dia, mas o outro pormenor no meio de tudo isso é a forma como o condutor agiu depois. Porque, estava-se no engarrafamento e, em vez de imobilizar imediatamente no local, preferiu fazer mais cem metros para conseguir estacionar e acabou por dar tempo para que o fogo tomasse conta de tudo”, explicou Armando Bembele, administrador da Agência Metropolitana de Transportes de Maputo (AMT).
Sobre o autocarro que perdeu travões e causou acidente na Avenida Guerra Popular, tendo colocado a vida de várias pessoas em risco, a comissão diz que foi apenas uma falha mecânica, isto é, arrebentou o reservatório do ar e “porque o local é uma descida, o motorista não conseguiu controlar”.
Além dos transportadores que não sabem o que fazer em casos de incêndio ou sinistro, apontam-se problemas na manutenção e negligência das pequenas avarias. “Verificamos atraso no envio dos autocarros para a manutenção”, esclareceu Armando Bembele.
Já que os transportadores circulam nestas condições, colocando em risco a vida dos utentes, o que se pode fazer para solucionar este problema? “Pretendemos ter a informação da manutenção dos autocarros em tempo real. Queremos perceber quais são os carros que estão a faltar no processo e poder notificar. Vamos organizar, novamente, o curso de capacitação aos transportadores em matérias de incêndio. A medida vai abranger também os cobradores dos transportes.”
Um outro problema identificado durante a investigação é que os extintores são roubados nos autocarros e há condutores que nem sabem manejá-los.
A nossa reportagem saiu à rua para ouvir os transportadores sobre como agir em caso de emergência e confirmou, no terreno, as conclusões do inquérito.
Nelson Bombe, transportador de passageiros, à nossa pergunta, mostrou desconhecimento sobre as medidas de emergência, mas o mais grave ainda é que nem conseguiu localizar o extintor no seu autocarro. “Não sei onde o meu colega deixou, mas sempre andamos com extintor”, justificou.
Importa referir que a Agência Metropolitana de Transportes de Maputo prometeu trazer resultados 10 dias depois da criação da comissão de inquérito, entretanto passaram-se cerca de dois meses.