O Presidente da República participou, hoje, no velório do antigo reitor da Universidade Pedagógica. Na cerimónia que contou com a presença de governantes, família, académicos e crentes, os filhos de Carlos Machili descreveram-no como um bom homem e que gostava de ensinar.
Segunda-feira foi o dia escolhido para o último adeus a um dos precursores do Sistema Nacional da Educação e obreiro da expansão do ensino superior pelo país. Chama-se Carlos Machili, antigo reitor da então Universidade Pedagógica, que perdeu a vida vítima de doença, na última quarta-feira.
A última homenagem ao professor Carlos Machili contou com a presença do Presidente da República. Filipe Nyusi acompanhou toda a cerimónia de velório que teve lugar na igreja católica Santo António da Polana e, no fim, levantou-se, curvou-se diante da urna, contendo os restos mortais do antigo reitor da extinta Universidade Pedagógica.
Após este acto de homenagem, o Chefe do Estado deu um abraço de conforto à família enlutada. Filipe Nyusi não prestou declarações à imprensa.
Além da notável presença do Presidente da República, estiveram, também no velório de Machili, membros do Governo, antigos governantes, académicos, diferentes confissões religiosas e várias outras personalidades.
Inconsolável, através dos filhos, a família destacou as qualidades de Machili como pai, professor e funcionário do Estado. Mas a de um homem que nunca parou de ensinar é que veio ao de cima.
“Sempre que nos desse espaço para conversar, estávamos sempre desesperadamente de ouvidos abertos para beber da sua sabedoria. A vida é curta, ele dizia. Faz coisas boas, não pergunta a ninguém, dá sempre o teu melhor. Seja humilde, tenha respeito por todos. Os que estão abaixo ou acima de ti. Carlos Machili era um homem bom”, lembrou Budu Carlos Machili, filho do antigo reitor da então Universidade Pedagógica.
Mas não é só do homem bom que a família irá se lembrar: “Iremos lembrar-nos para sempre dos bons momentos, como um homem da ciência, do excelente exemplo de professor que és, de verdadeiro exemplo de funcionário do Estado, verdadeiro exemplo de honestidade e o gene da tua calma e paciência e somos todos testemunhas disso”, indicou Budu Machili.
Não foi nesses campos que o professor de carreira deixou a sua marca. Pelo mundo, Machili deu um grande contributo pelo lado da fé, dedicando parte da sua vida ao crescimento da Igreja Católica.
“Testemunhamos o seu empenho e saber nas suas ideias e actividades no ministério no sector da manutenção de obras da mesma. Você era sombra, onde nós nos abrigávamos para buscar os seus conceitos, sua experiência de vida, por isso, muito obrigado pelos ensinamentos dados”, agradeceu o representante da Paróquia São Francisco de Assis.
A Igreja Anglicana de Angola e Moçambique não ficou indiferente à morte de Carlos Machili. “Perdemos um pai, perdemos um grande professor da nossa história como anglicanos e moçambicanos, perdemos um amigo, uma pessoa de exemplo. Contudo, acreditamos e, porque ele ensinou, o que ele é e foi, vai continuar a viver nas nossas vidas como moçambicanos e anglicanos”, lamentou Dom Carlos Matsinhe, presidente da província Anglicana de Moçambique e Angola.
E Dom Dinis Sengulane disse mais: “Afinal, as boas coisas que estamos a dizer aqui são resultado da semente que Deus plantou nele e ele soube regar e produziu os frutos que todos nós admiramos”.
A UP-Maputo diz que o antigo reitor deixa uma marca que qualquer um que passar pela Universidade Pedagógica de Maputo e outras criadas com a extinção da UP poderá ver. “Temos que tomar as rédeas e os sonhos mais briosos que o professor Machili, ainda em vida, tinha para com a sua pátria e com os seus patriotas”, referiu Jorge Ferrão, reitor da UP-Maputo.
E o reitor da UEM defende a imortalização do seu legado. “O Professor Doutor Carlos Machili foi membro da Comissão de Pós-graduação na Faculdade de Filosofia da UEM, na qual participou de forma muito activa na elaboração de currículo de mestrado e doutoramento em Filosofia. Esse legado deve continuar”, vincou Manuel Guilherme Júnior, reitor da Universidade Eduardo Mondlane.
Nascido a 25 de Maio de 1942, na província de Niassa, Carlos Machili foi, também, director dos Assuntos Religiosos no Ministério da Justiça e Agência de Energia Atómica.
O corpo do antigo reitor da Universidade Pedagógica será transladado para Niassa, sua terra natal, onde deverá ser sepultado, na quinta-feira.
A DESCRIÇÃO É DE QUEM PARTILHOU IDEIAS E MOMENTOS COM CARLOS MACHILI
Brazão Mazula: Foi uma das colunas da educação neste país, é um homem que se dedicou à educação neste país, na formação de professores até ao nível de licenciatura, mestrado, e doutoramento, formou muitos doutores. Trabalhou na UP e estendeu a universidade em todo o país, que hoje está desmembrada em várias unidades, por isso temos de render homenagem a ele, foi um grande patriota.
José Chichava: Na academia, perdemos um grande patriota, um grande pai, mesmo quando começou a ficar com fraquezas, ele não parava de querer transmitir conhecimentos que ele tinha às outras pessoas. É uma biblioteca que se foi, oxalá que nós consigamos honrar a partida dele.
Alberto Ferreira: A academia moçambicana teve os seus precursores, aqueles que fundaram e deram os primeiros pilares para aquilo que chamamos de academia seja viva e desenvolvida. A perda do professor Machili do ponto de vida físico é também para nós uma ocasião de homenagear aquele homem que passou toda a vida ensinando, aconselhando, mas sobretudo transmitindo as teorias que ele mesmo estudou.
Joaquim Chissano: Vamos celebrar a vida dele, a vida dele é muito rica, portanto vale a pena celebrar a sua vida. Como compatriota, ele partilhou os seus sentimentos de patriotismo com muitos desde a sua infância, seminários, as escolas onde andou, como pedagogo, como director fundador da Universidade Pedagógica.
Armando Guebuza: Tive o privilégio de viver com ele, conhecer de perto e uma das coisas que se mantêm fixas em mim, é que ele era o homem das grandes causas, ele tinha um propósito, e de facto os discursos aqui apresentados vêm confirmar que esse propósito estimula todos nós a querer seguir.
Graça Machel: Um amigo leal, um colega para mim que me educou e me enriqueceu como pessoa nas diferentes tarefas em que tive o privilégio de trabalhar com ele. Tenho uma grande gratidão de ter caminhado lado a lado com ele. A educação ganhou e ganhará para sempre por aquilo que ele produziu e deixou como legado e todas as instituições por onde que ele passou têm o registo do pensamento, das aspirações que ele tinha, das directrizes que ele traçou e da maneira como ele executou as suas funções, e isso fica connosco, nós não ficamos a perder, ganhamos, resta saber se nós saberemos valorizar e recriar a sua contribuição.
Arnaldo Nhavoto: Dados os meus conhecimento na área de planificação e gestão de educação, ele convidou-me para que, mesmo estando a desempenhar a função de ministro da Educação, pudéssemos trabalhar com um grupo para a criação desta disciplina de Planificação e Gestão da Educação e fizemo-lo ao mesmo tempo em que fazíamos a expansão da universidade em todo o país e também esta disciplina foi-se expandindo.