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Até quando continuaremos a aceitar a desconexão entre as igrejas e os valores morais e bons costumes? 

Em cada esquina dos bairros do meu belo Moçambique, vemos inúmeras igrejas erguendo-se. Além disso, nos últimos tempos, observamos que a predominância dessas igrejas, que atraem multidões e capturam a atenção de seus fieis, se torna cada vez mais evidente. Em alguns casos, chega a ser comum encontrar mais de duas igrejas em uma única rua, todas com seus lugares ocupados por fieis.

Para mim, o que verdadeiramente me intriga não é apenas a quantidade de igrejas, mas sim a percepção de que, à medida que novas igrejas surgem, parece aumentar a presença de maldade, egoísmo, desrespeito e falsidade, entre outros aspectos, em nosso belo Moçambique. Essa situação se apresenta como uma contradição, visto que, de acordo com o que aprendi durante minha infância, o papel das igrejas na sociedade é o de educar tanto os fieis como os cidadãos a viverem em amor e harmonia com os concidadãos, contribuindo para uma sociedade fundamentada em moral e bons costumes.

Essa contradição suscita questões fundamentais: Terá a igreja perdido sua função educativa, transformando-se em um agente distinto na sociedade? Ou será que os fieis frequentam a igreja com objetivos diferentes, alheios à busca por educação e transformação interna? Poderíamos esperar que, com o aumento de igrejas e fieis, também florescesse a bondade e o amor, resultando em uma sociedade permeada por empatia e harmonia. No entanto, o que estaria por trás dessa desconexão? Seria a liderança religiosa, os ensinamentos específicos ou a pressão social responsáveis por influenciar esse afastamento do propósito original das igrejas? 

Minha apreensão se intensifica ao observar jovens que, em vez de buscar não só o crescimento espiritual, mas também o crescimento e conhecimento educacional, decidem abrir mão desses benefícios para se dedicarem exclusivamente à igreja, em detrimento da educação que também poderia contribuir para seu futuro. Isso suscita uma questão crucial: será este o caminho correcto, desistir da educação e focar apenas no desenvolvimento espiritual?

Fico entristecida com a tendência dos jovens de se preocuparem mais em tornar-se pastores e profetas do que em buscar educação formal. A questão que surge é: poderia essa escolha ser considerada acertada, uma vez que parece um caminho mais fácil, que não demanda sacrifícios, como o estudo? Minha consternação ultrapassa o âmbito pessoal e se estende à sociedade como um todo. Surgem preocupações sobre o futuro: daqui a 20 anos, teremos uma sociedade com mais pastores do que doutores? E, nesse cenário, qual seria o benefício real para a sociedade em geral? Além disso, é importante refletir sobre como o equilíbrio entre a busca espiritual e a educação formal pode ser determinante no crescimento e desenvolvimento não apenas dos indivíduos, mas também da coletividade. Portanto, é essencial considerar as consequências a longo prazo desse direcionamento na escolha de carreiras e investimento de tempo dos jovens.

A questão essencial permanece: as igrejas ainda cumprem efetivamente seu papel na promoção de valores fundamentais e na educação moral? Uma reflexão coletiva e um diálogo aberto poderiam ser passos cruciais na busca por respostas e na construção de uma sociedade mais equilibrada e compassiva em Moçambique.

Refletir sobre a presença de milhares de igrejas em nossa sociedade, apesar da ausência de valores morais ou, pior, da propagação de ódio e ressentimento em algumas delas, levanta questões cruciais. O enfoque de abordagens que culpam diretamente indivíduos pelo insucesso de um crente, em vez de abordar o mal de forma espiritual, é altamente questionável e pode incentivar o ódio em detrimento do amor. Se essas igrejas não estão a promover o amor ao próximo, a paz e a caridade, é imperativo repensar o papel delas na sociedade. A finalidade das igrejas deveria ser nutrir valores positivos e fortalecer as relações harmoniosas entre as pessoas, contribuindo para uma sociedade mais empática e compassiva.

É essencial questionar o papel das igrejas que falham em promover esses princípios fundamentais, incentivando a reflexão sobre a necessidade de mudanças positivas em sua abordagem e ensinamentos para que possam verdadeiramente contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e amorosa.

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