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Às cegas rumo às eleições

Silêncio total. Nenhum partido dá um passo à frente. A sociedade ansiosa colapsa de tensão, enquanto os partidos brincam aos joguinhos infantis. Tratam-nos como metidos e curiosos, quando estamos no pleno exercício da responsabilidade cívica. Queremos conhecer as propostas dos partidos para que, com antecedência, façamos a pré-avaliação de merecimento da nossa confiança. E, neste capítulo, chamem-nos o que quiserem, a pressão sobre vós continuará intensa, enquanto entendermos que disso depende o nosso futuro, enquanto as nossas escolhas forem o nível mais importante de decisão. Às cegas, não queremos continuar rumo às eleições.

A Frelimo, a Renamo e o MDM são, nesta matéria, indistinguíveis. Estão no mesmo saco e com a mesma aparência inconsequente, destacando-se a Frelimo, para quem recai o ónus da disciplina: prega organização e prática o oposto. Exalta um sentimento de importância e adia a indicação do candidato, como se de uma eleição relâmpago se tratasse. Quatro anos passaram e não foram suficientes para que o partido fizesse juz à sua tese “a vitória prepara-se, a vitória organiza-se”.

Tudo isto nos faz esculpir o sentido que a democracia tem para o partido e, sem surpresas, perceber que é falseada, maquilhada, mas sem disfarce convincente. Ora vejamos: se os candidatos são eleitos, em princípio, deveria haver manifestação de interesse, aprovação das candidaturas, pré-campanha e eleição. Mas o que agora acontece é repressão de candidaturas voluntárias e indicação de candidatos com base em critérios inacessíveis à maioria dos militantes com importância favorável para a decisão. No fim, reina a disciplina do silêncio e ovação do escolhido, o impingido. E assim vamos nós, registando e aplaudindo a democracia do faz de contas.

É inaceitável que, num momento político crucial em que se desenha o futuro de um país, o cenário político ainda esteja suspenso. Adensa-se o ar e esta falta de transparência e inacção dos partidos políticos propiciam uma já palpável tensão social, com especulações de um terceiro mandato forçado à mistura.

Este silêncio prolongado não apenas mina a confiança do eleitorado, como alimenta especulações e incertezas que afectam o ambiente económico. Ouvir vozes de proa do partido a dizerem que o tema “candidato da Frelimo às presidenciais” não está na agenda da sessão do Comité Central marcado para Abril próximo agita ainda mais as águas. Este adiamento deliberado que denuncia falta de prioridade ou ausência de consenso interno faz subir o clima de incerteza que paira sobre a Nação e ignora que o impacto transpassa as fronteiras políticas: desencoraja investimentos e atrasa projectos de desenvolvimento, prejudicando o crescimento económico do país. Um ambiente político estável é salutar para a tomada de decisões informadas e planificação do futuro com confiança, mas ninguém se rala com isso.

Entretanto, enquanto prevalecer o silêncio, o descontentamento emerge e ninguém se garante contra a inimizade do povo. O tempo que se perde fragiliza o candidato que já deveria estar a criar empatia para elevar as suas possibilidades de vitória. Será sobre a lama que estes vão correr em nossa direcção em busca do voto. Nossa importância, hoje diminuta, vai em breve exponenciar por 45 dias, mas rapidamente desvanecer quando às urnas voltarmos as costas.

Preocupa-me esta racionalidade ingénua dos partidos ou prudência imprudente, ao ignorarem o poder de reacção do povo, só porque este se reveste de receios e se esconde no silêncio. Porém, esta dose elevada de silêncio já vai de remédio para veneno, e a insistência na aplicação pode ser fatal.

O país não goza de uma boa saúde política e não temos exclusividade no problema. Na região, também há turbulências, com a África do Sul em destaque, porque se aproximam eleições intranquilas para o partido no poder. Todavia, deste panorama, nada aprendemos e esforçamo-nos em escrever uma história que produz resultados previsíveis. Quando há sintomas de mal-estar, o melhor é trabalhar mais no diagnóstico para ser fácil chegar à cura, porque, de contrário, quando for evidente o mal-estar, a cura fica mais difícil. Este jogo de antecipação não devia ser preterido pelos partidos, que se despedaçam a olhos vistos.

É hora de fortalecer os alicerces da democracia. É urgente e necessário desencalhar o país. De responsabilidade e transparência se precisa. Afinal, quem é o senhor que se segue?

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