O poeta Amosse Mucavele acaba de garantir a presença na Residência Literária, programa a realizar-se próximo mês, entre os dias 2 e 30, na capital portuguesa. O autor do livro Geografia do olhar (poesia) distinguiu-se, ao concorrer em Maputo, com o projecto “Vestígios do silêncio”, o qual propõe-se a debater-se sobre imagens, mapas, memórias e recortes internos de edifícios abandonados, com o que o autor considera (re)dimensionar a dimensão afectiva das ruínas de Maputo e Lisboa.
No projecto que Amosse Mucavele submeteu ao concurso, esclarece que “‘Vestígios do silêncio’ é uma poética concebida como objecto de desvendar os mistérios, de celebrar a memória transnacional dos ritos de passagem e ruptura, um desencanto de repensar as origens, as mutações da dor, as variações dos mapas territoriais e sociais das duas cidades [Maputo e Lisboa], partindo de um ponto de vista subjectivo das estórias destes lugares que simulam pequenos sarcófagos sensíveis a qualquer olhar”.
Para Mucavele, o facto de ser vencedor do programa literário aberto à candidatura do público no início do ano demonstra que o seu trabalho tem visibilidade e impacto. “É uma grande vitória, o que estimula a minha criação. Este projecto, que o tenho bem antes do concurso, ficará mais enriquecido, porque uma questão que abrange duas cidades vai alastrar-se a outras zonas abandonadas nas quais se cruzam vários afectos”.
Com efeito, o que na Residência Literária vai interessar Mucavele são os lugares que guardam muito do passado, daí adivinhar-se uma viagem que atravessa o tempo. “Nesta ida a Lisboa, espero dar mais vida ao meu projecto, tornando bem vivo o testemunho de épocas”.
A Residência Literária é um programa que se destina a escritores de nacionalidade moçambicana com obra publicada, com residência oficial em Moçambique ou que se encontrem a viver, estudar e/ou trabalhar no país e que pretendam desenvolver um projecto de criação literária, coerente com o seu percurso e pertinente na proposta de relação com a cidade de Lisboa. O programa foi criado ao abrigo do protocolo de cooperação celebrado entre a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e o Camões – Centro Cultural Português em Maputo, de acordo com a nota de imprensa desta instituição, e o júri foi constituído por Clara Riso (Casa Fernando Pessoa, convidada), Manuel Veiga (Câmara Municipal de Lisboa) e João Pignatelli (Camões – Centro Cultural Português em Maputo). Todo os membros do júri decidiram, por unanimidade, seleccionar a proposta de Amosse Mucavele, considerando que no universo das candidaturas admitidas é a que melhor se enquadra na lógica do presente programa de Residência Literária.
OS “VESTÍGIOS” DO POETA
Amosse Mucavele nasceu em 1987, em Maputo. Foi chefe de redação de “Literatas – Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona”, director editorial do Jornal O Telégrafo, Colaborador do Jornal Cultura de Angola e Palavra Comum da Galiza da Espanha. É membro do Conselho Editorial da Revista Mallarmargens (Brasil), da Academia de Letras de Teófilo Otoni (Brasil) e da Internacional Writers Association (Ohio – USA). Representou Moçambique na Bienal de Poesia da Língua Portuguesa em Luanda (2012), no Festival Internacional de Poesia de Córdoba (2016) e, em 2017, participou numa série de actividades em Portugal. Coordenou a publicação do livro “A arqueologia da palavra e a anatomia da língua – antologia poética”. É autor de Geografia do olhar.