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ÁFRICA JÁ NO LIMITE

África, um continente com características únicas, é o único que se estende pelos quatro hemisférios e é
abraçado pelos mares Mediterrâneo e Vermelho, enquanto os oceanos Índico e Atlântico oferecem o som
das ondas, que refrescam ao ritmo de uma orquestra os seus 30 milhões de quilómetros quadrados, que
escondem a herança da riqueza africana. A África ocupa o pódio como o terceiro maior continente na
hierarquia global, porém poderia merecer um troféu maior na classificação de riqueza e diversidade cultural.

Ao fazermos a anatomia da África, encontramos uma estrutura que encanta e apaixona qualquer
consciência holística, desenhando um futuro promissor no presente, dentro do campo que delimita o lago do desenvolvimento social. Contudo, torna-se difícil entender por que a “menina África” continua parada no semáforo da distracção, enquanto os resultados das análises macrossociais e macroeconómicas observadas não indicam transtornos que conduzam à “hepatite social”.

Os olhos, com retinas límpidas, mostram que a base do futuro socioeconómico da humanidade está na
cintura atraente que suporta, de forma atlética, o tronco esbelto da África. A beleza dos seus lábios, que
carregam o batom de todas as cores da sua diversidade biológica, encanta qualquer raça. A pele simpática e acolhedora das suas temperaturas, que convidam a mergulhos apaixonados nos abraços dos seus oceanos, mares, rios e lagos, refresca qualquer mente. A África apaixona com lucidez divina, cada espírito vindo de qualquer hemisfério, que a visite para celebrar a vida nas suas águas mornas e participar da ceia dos seus abundantes recursos naturais e ecológicos, que facilitam o desenvolvimento e promovem a valorização da vida e da dignidade da alma. Entretanto, a amnésia do cérebro da África parece esquecer os factores que promovem o desenvolvimento e o bem-estar colectivo, enquanto observa, sem compaixão, a anemia que atinge o coração das suas nações.

A pergunta que surge em mentes honestas é: para que direcção sopra o vento do desenvolvimento da
África? A vida na incerteza ainda domina os neurónios de muitas nações africanas. A ausência de audácia leva algumas delas a importar palitos de dentes, mesmo com a imensidão de florestas que poderiam sustentar esse tipo de produção e que já serviram de palco para os passeios serenos do mítico Tarzan.

A luta pelo disfarce da identidade africana alcança proporções preocupantes: mulheres lindíssimas de origem africana ainda negam a sua identidade, trocando o tradicional lenço na cabeça por cabelos postiços indianos ou chineses, numa tentativa de se aproximar de um padrão de beleza associado a países com indicadores de desenvolvimento notável.

Essa incerteza cultural afecta até as bases da identidade, distorcendo o conceito de globalização cultural para acomodar os fracassos que emergem da fragilidade dos pilares do desenvolvimento social. Contudo,
mesmo com os disfarces, os estudos de ADN não deixam dúvidas: a raça está nos cabelos, no tom da pele
e no espírito resiliente. Mesmo sob uma peruca indiana ou chinesa, a raça africana mantém-se viva no
selo negro que autentica o seu ADN. Ela está também nos olhares sofridos, que carregam as marcas de
uma África que um dia foi deixada para trás na maratona do desenvolvimento, impedida de se classificar bem nas “olimpíadas” do progresso global.

A cor África, que celebra o festival do sabor de chocolate, fascina o mundo e celebra o bem. África tem
tudo para merecer o reconhecimento como um continente essencial, que desenhou o berço do
desenvolvimento da humanidade. O mundo precisa resgatar o verdadeiro significado da palavra
“humanidade” para construir uma vida mais equilibrada entre as nações.

A África será melhor quando os actores políticos africanos emprestarem as suas consciências à ciência do
desenvolvimento, abandonando a visão errónea que define a política como um caminho curto e rápido
para a riqueza, ignorando os meios. A política deve estar ao serviço do povo africano, mobilizando a
ciência e promovendo a harmonia social.

A filosofia moral de Kant entende por humanidade (Menschheit) a natureza racional, que implica a
humanidade como a única condição sob a qual um ser pode ser um ‘fim’ em ‘si mesmo’. Apesar de ‘o fim’,
fundamentado em princípios racionais, também produz desejos, como o amor pelos seres racionais e o
desejo de beneficência.

A África precisa ser estudada. Talvez esse estudo possa começar com uma reflexão inspirada na fábula
do sapo que cheira a chulé, mesmo vivendo na lagoa.

AFINAL, POR QUE, APÓS TANTOS ANOS DE DESCOLONIZAÇÃO, A ÁFRICA AINDA PERMANECE COMO O BERÇO DA POBREZA E DO SOFRIMENTO?

De forma simplista, trazemos o trecho que narra a história do sapo:
Era uma vez um sapo que não lavava os pés. Não lavava os pés porque não queria. O sapo morava na lagoa, mas cheirava a chulé porque se recusava a lavar os pés.

Com essa fábula, acreditamos que há questões difíceis de explicar, ou que, mesmo explicadas, permanecem incompreendidas. Será que podemos substituir o sapo da história pela África?

A África tem condições para levar suas sociedades a não “cheirarem a chulé” de pobreza. Possui climas
favoráveis, terras aráveis, subsolos ricos em recursos minerais preciosos. No entanto, continua a ‘cheirar
chulé’ da miséria, mesmo estando imersa e nadando na “lagoa” de recursos que poderiam favorecer um
desenvolvimento próspero e sustentável.

Se o conceito da palavra piedade superar o egoísmo humano, a cintura forte, que suportou o peso da
colonização e da escravatura, encontrará descanso num novo conceito de independência africana. Se as
nações com desenvolvimento consolidado libertarem os termómetros que medem o progresso, deixando
de manipular as bússolas que orientam a educação oficial da África, aumentará a probabilidade de um
equilíbrio no desenvolvimento entre as nações. Contudo, a participação da África na competição pelo
desenvolvimento passa pela ausência de interferência dos continentes mais desenvolvidos no “menu” das estratégias de crescimento das nações africanas. Só assim poderá haver uma competição mais equilibrada no campo do desenvolvimento global.

Se as nações desenvolvidas continuarem a influenciar o comportamento das nações africanas pela preferência pela ignorância ou fornecendo fórmulas de desenvolvimento irreais, continuaremos a testemunhar a estagnação intelectual da África e o domínio eterno da pobreza social e cognitiva.

Se as organizações internacionais não limitarem a produção e a venda de armamento bélico [a Indústria de Guerra], a África será privada de seu desenvolvimento, pois a sua vulnerabilidade continuará a
favorecer o surgimento de guerras.
De que valem palavras que mobilizam a esperança da consciência africana, como aquelas que afirmam:

“A África é rica, e o futuro das nações está na África”, quando os povos africanos continuam a viver
abaixo da linha da pobreza? Ainda enfrentam fome, nudez, falta de abrigo, ausência de condições educacionais adequadas, e políticas de mobilidade pública ineficazes, enquanto são liderados por
governantes movidos por um conceito de riqueza que não beneficia o colectivo. A ÁFRICA merece consideração favorável. DEVE SER VISTA COMO UM ATIVO ESSENCIAL NO CONTEXTO DAS NAÇÕES, e não como um campo de extracção de riqueza que apenas alimenta nações já satisfeitas. É urgente ajudar a África a reflectir sobre o conceito de desenvolvimento e bem-estar.

A ausência de um pensamento colectivo e de um pensar no bem-estar comum desvia o rabisco que deveria desenhar a essência da humanidade e a qualidade de vida apreciável para todos. As mentes
particularistas que orientam muitas organizações sociais e influenciam as políticas públicas das nações africanas perpetuam dinâmicas semelhantes às do período da escravidão. Libertar a África significa salvar o seu povo de um sofrimento que já dura centenas de anos.

Os 30 milhões de quilómetros quadrados da África escondem riquezas suficientes para satisfazer a
humanidade. No entanto, apesar dessa imensidão de recursos, as migrações continuam a ocorrer em um
único sentido, porque ainda falta o conhecimento necessário para transformar as vantagens comparativas que a África possui em vantagens competitivas. Esse é o caminho para acelerar o desenvolvimento e libertar suas nações de todo tipo de pobreza.

África, acredita! O conceito de humanidade pode, um dia, ser ressignificado na poesia do
desenvolvimento declamada no altar da catedral do conhecimento.

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