Foram, hoje, a enterrar os restos mortais de Júlio Carrilho, antigo ministro das Obras Públicas, falecido no passado domingo. Na hora do adeus, familiares, amigos e dirigentes destacaram a sua simplicidade e dedicação às causas que abraçou.
A Paróquia Santa Ana da Munhuana foi o local escolhido para que familiares, amigos e colegas prestassem o último adeus a Júlio Carrilho, o primeiro ministro das Obras Públicas depois da independência. Na missa de despedida, estiveram membros do Governo e antigos dirigentes, com destaque para Armando Guebuza e Carlos Agostinho do Rosário. Na homilia, pediu-se a Deus que receba a alma de um homem que dedicou boa parte da sua vida a causas nobres.
Na mensagem da esposa do finado proferida pelo filho do casal, Fernada Machungo, descreveu o choque que sofreu, pois a morte do seu companheiro se deu enquanto ela estava fora do país.
“Juntos lutamos pela saúde dos nossos filhos, a quem os educaste com os mesmos princípios que te guiaram: honestidade, simplicidade, humildade e respeito. Júlio partiste na minha ausência, porque estavas à minha espera. Como sempre fazias quando eu viajava, organizavas a casa e puseste vários arranjos de flores para me surpreender à chegada. Infelizmente Deus assim o quis surpreender-me com a sua repentina ausência. Sei que aí onde te encontras, continuarás a ser o meu suporte e dos nossos filhos e netos”, entristeceu.
Os seus filhos descreveram Carrilho como um pai presente, amoroso e amigo. “Ser seu filho era poder disfrutar da sua imaginação fértil. Ser seu filho era apreciar a sua sensibilidade, os talentos que reunias, a humildade, a honestidade e a integridade com que sempre conduziste a sua vida e até as piadas inteligentes e subtis de tudo e de todos. Esperamos que os alicerces que nos deixaste resistam ao vazio da sua ausência. Admiramos-te por tudo que foste e tudo que és”, descreveu Taíla Carrilho, filha do arquitecto.
Os seus colegas, em diversas frentes, descreveram Carrilho como um homem que deu sempre o seu melhor para o alcance dos objectivos colectivos. Porque teve um papel preponderante na criação da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), aquela organização garantiu que não irá esquecer o seu legado. “Percebemos a profundidade do rigor que transmitias e, por essa certeza, sentimos que o seu legado permanecerá para além dos nossos tempos e, nesse legado, reside tanto de ti, hoje, e para o amanhã sem ti fisicamente”, disse Abdul Carimo, em representação daquela organização.
A Universidade Eduardo Mondlane, local onde por décadas emprestou os seus conhecimentos como docente e investigador, recordou o papel que ele teve no surgimento e crescimento da Faculdade de Arquitectura. “Neste momento de dor, não é só a Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico que chora a partida do nosso docente, mas é toda comunidade universitária que chora a sua partida. Depois de servir como dirigente, regressou à academia, concretamente à Faculdade de Arquitectura, onde serviu até os seus últimos dias. A actual Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico, criada na década de 80, tem em grande medida o cunho do seu saber, das suas habilidades e dos seus valores. Como um docente experiente nunca abdicou de descer ao nível do estudante recém-ingressado para transmitir os seus conhecimentos e saberes”, precisou o representante daquela instituição de Ensino Superior.
Por sua vez, a Ordem dos Arquitectos de Moçambique, representada por Jaime Comiche, recordou o empenho do malogrado na criação daquela entidade, cujo primeiro bastonário foi justamente Júlio Carrilho.
“A ordem junta-se aos demais para homenagear o nosso eterno bastonário. Palavras são escassas para descrever as qualidades e as várias memórias que nos deixou. Admirava-nos a sua calma na resolução dos problemas. Os seus ensinamentos serão perpetuados pelas próximas gerações pelo valor das suas contribuições”
Depois das mensagens, seguiu-se ao velório, momento em que familiares, amigos e colegas prestaram a última homenagem a Júlio Carrilho. Finda esta fase, a urna foi transportada para a viatura funerária que transportou o corpo para o Cemitério de Lhanguene, a sua última morada. Lembre-se que Júlio Carrinho deixa viúva e três filhos.
ARMANDO GUEBUZA – Antigo Presidente da República
“Um grande amigo, um grande patriota, trabalhador e que contribuiu bastante para o desenvolvimento do nosso país. Contribuiu bastante para que a sociedade pudesse crescer, propagou valores como a honestidade, amizade e humanismo”
AIRES ALI – Antigo Primeiro-Ministro
“Júlio Carrilho deixa um grande vazio na academia. Dedicou boa parte da sua vida à educação, à transmissão dos seus conhecimentos. Tinha um carácter forte e uma simplicidade incomum.”
MIA COUTO – Escritor
“Conheço Júlio Carrilho há mais de 40 anos. Como arquitecto e poeta procurou desenhar a nossa humanidade. Nunca procurou riqueza, poder e autoridade. Ele foi, mas deixou-nos esse legado de simplicidade e gentil”