As crianças e jovens que nasceram neste tempo em que a maioria dos pais ou mesmo os professores pouco se sentem motivados em dispensar uma parte das suas rotinas para se fazerem presentes na real formação/educação dos continuadores, está pagar uma factura da qual não tem culpa.
Está provado e comprovado que na componente desportiva, é a partir de um investimento sério apontado para a quantidade, que se pode chegar a uma elite, isto é, à qualidade. É assim em todo o mundo e era assim por cá, com provas e resultados mensuráveis, constantes dos arquivos.
Uma simples e atenta leitura comparativa aos “rankings” trazem-nos essa realidade.
Algumas práticas no esquecimento
É verdade que não adianta muito chorar “após o leite derramado”. Importa, isso sim, equacionar os reais motivos pelos quais na alta roda do desporto, no pós-Mutola, o Mundo deixou de se lembrar da nossa existência.
À geração actual, porque se perderam algumas boas práticas, com as quais nem chegaram a conviver, recai a menor dose de culpabilização. O “boom” de tudo se conseguir com “boladas” e “corta-matos”, acontece em praticamente todo o mundo. Porém, a nós, vitimou-nos de forma particular uma razão muito objectiva: abrimos a porta ao veneno, subestimando o contra-veneno!
Tudo começou com a venda dos recintos desportivos que abundavam, negociados sob a capa dos mais multifacetados motivos, ao mesmo tempo que outros espaços eram “dumbanenguizados”. Nas escolas, os campos foram “rentabilizados” para dar lugar a mais salas de aula.
Que maior machadada à tão propalada massificação desportiva, poderia acontecer? Os hábitos salutares de movimentação dos meninos e meninas nas escolas, nos bairros e nos clubes, entraram em desuso. O passo que se seguiu foi o da priorização de outras coisas, a maior parte delas nocivas à saúde e bem-estar.
Pirâmide invertida
O “edifício desportivo”, antes apoiado numa pirâmide de base ampla e com competições regulares, foi sofrendo uma inversão, até ao que hoje se assiste: movimentação infantil e juvenil faz-de-conta, porque sem regularidade. Os Jogos Escolares são o melhor exemplo: joga-se dois meses, de dois em dois anos. O resto…
Como agora inverter, ou dar passos nesse sentido, num cenário tão difícil?
1. Adaptando-nos às novas realidades, há que “salvar” os espaços ainda disponíveis, mobilizando a criançada com incentivos adequados aos novos tempos.
2. Os pais e encarregados de educação têm que ganhar consciência de que o desporto, para lá dos craques que pode gerar, é um preventivo para doenças como a obesidade e as diabetes, antes exclusivas nos idosos, mas que hoje atacam a juventude devido à pouca mobilidade.
3. Se bolas e campos são indispensáveis, há que haver interesse para os utilizar. O que hoje se assiste é os meninos irem às movimentações massivas em busca das camisetes, numa altura em que os papás estão mais preocupados com as visitas às barracas, praias ou centros comerciais, claramente as prioridades que povoam as suas cabeças. Esquecem-se que no “tempo da outra senhora”, há pouco menos de meio século, vivia-se por cá uma real massificação. Os resultados então obtidos, quando comparados com os de hoje, envergonham-nos a todos!
Apesar de tudo…
Graças a alguns resistentes – os ditos carolas – vamos esporadicamente obtendo pálidos triunfos na arena africana. Poucos, mas bons, dirão alguns. Mas se a prática desportiva, nas nossas vidas, se transformasse num assunto verdadeiramente de Estado, como noutras paragens, quanto benefício obteríamos?
Desporto dá saúde e prazer. Citando Nelson Mandela: “no desporto, só perde quem o não pratica”!